Quando eu vi a notícia de que o Toyota Yaris Cross recebeu apenas duas estrelas no teste de segurança do Latin NCAP, a primeira reação foi de surpresa. A Toyota costuma ser sinônimo de confiabilidade e, nos últimos anos, tem se destacado como líder em segurança veicular na América Latina. Então, por que um modelo tão novo e ainda em fase de pré‑venda acabou com uma nota tão baixa?
Entendendo o Latin NCAP
O Latin NCAP (Programa de Avaliação de Carros Novos para a América Latina e Caribe) testa veículos em situações de colisão real, medindo a proteção oferecida a ocupantes adultos, crianças, pedestres e a eficácia dos sistemas de assistência à segurança. As notas vão de zero a cinco estrelas – quanto mais alta, melhor a proteção.
O que o teste revelou sobre o Yaris Cross
O Yaris Cross avaliado foi o modelo produzido aqui no Brasil, na fábrica de Sorocaba (São Paulo). Os números foram os seguintes:
- 77% de proteção para adultos;
- 69% para crianças;
- 56% para pedestres;
- 58% de proteção com sistemas de assistência à segurança.
Esses percentuais resultaram em duas estrelas, um dos menores resultados da Toyota desde 2021. Mas o que está por trás desses números?
Onde o Yaris Cross acertou
Nos impactos frontais e laterais, a proteção da cabeça e da parte inferior das pernas tanto do motorista quanto do passageiro foi considerada boa. Em termos práticos, isso significa que, em uma colisão frontal, a estrutura da cabine consegue evitar lesões graves na região da cabeça e nas pernas, que são áreas vulneráveis.
Os pontos fracos que puxaram a nota para baixo
O Latin NCAP apontou três áreas críticas:
- Proteção do peito e das coxas do motorista em impactos frontais: a estrutura não absorve adequadamente a energia, aumentando o risco de lesões torácicas.
- Proteção do tórax em impactos laterais: a barreira lateral mostrou vulnerabilidades que podem comprometer a segurança em colisões laterais.
- Falta de recursos de segurança ativa para crianças: não há um interruptor para desativar o airbag do passageiro quando um assento infantil voltado para trás é instalado, e a sinalização de aviso não cumpre os requisitos do Latin NCAP.
Além disso, a proteção de pedestres ficou aquém do esperado por falta de assistência de velocidade e ausência de sensor de ponto cego.
Comparativo com as versões hatch e sedã do Yaris
Não foi só o Yaris Cross que recebeu duas estrelas. As versões hatch e sedã do Yaris também foram avaliadas e tiveram a mesma nota, mas com proteção de adultos ainda pior. Isso indica que o problema não está restrito ao SUV, mas pode ser um reflexo de uma estratégia de custo que a Toyota adotou nos modelos de entrada para o mercado brasileiro.
Por que isso importa para você?
Se você está pensando em adquirir um Yaris Cross – seja a versão híbrida flex ou a convencional – vale a pena entender como esses resultados podem impactar o seu dia a dia:
- Segurança da família: Se você costuma levar crianças no carro, a falta de um botão de desativação do airbag pode ser um risco real. Em um acidente frontal, o airbag pode causar lesões graves em um bebê colocado no assento voltado para trás.
- Valor de revenda: Veículos com boas notas de segurança tendem a manter seu valor por mais tempo, pois compradores dão preferência a modelos bem avaliados.
- Seguro: Algumas seguradoras oferecem descontos para veículos com alta classificação de segurança. Uma nota baixa pode significar prêmios mais altos.
- Confiança na marca: A Toyota tem reputação de durabilidade, mas segurança também faz parte da decisão de compra. Quando a marca parece relaxar nos padrões, o consumidor pode ficar desconfiado.
O que a Toyota pode fazer?
Existem caminhos claros para melhorar a nota nas próximas versões:
- Adicionar um interruptor de desativação do airbag do passageiro, algo já presente em muitos concorrentes.
- Incluir sensores de ponto cego e sistemas de assistência de velocidade que ajudam a evitar colisões.
- Reforçar a estrutura lateral e frontal para melhorar a proteção do tórax e das coxas.
- Investir em tecnologia de mitigação de impactos para pedestres, como capuzes de capô que absorvem energia.
Essas mudanças não são apenas questões técnicas; são investimentos que podem tornar o Yaris Cross mais competitivo frente a rivais como Volkswagen T‑Cross, Hyundai Creta, Honda HR‑V, Chevrolet Tracker, Nissan Kicks e Fiat Pulse, que já apresentam boas avaliações de segurança.
Contexto de mercado: preço e tecnologia híbrida flex
Vale lembrar que o Yaris Cross chega como o SUV compacto mais barato da Toyota, com preços entre R$ 161.390 e R$ 189.990. Ele traz um diferencial importante: o primeiro híbrido flex do país, combinando motor 1.5 flex com dois motores elétricos. No etanol, o conjunto entrega até 111 cv e consumo de 17,9 km/l na cidade, 15,3 km/l na estrada (dados do Inmetro).
Essa tecnologia é atraente para quem busca economia e menor emissão de gases, mas a segurança não pode ficar em segundo plano. O mercado brasileiro está cada vez mais exigente, e consumidores têm acesso a informações detalhadas sobre desempenho e proteção.
Próximos passos para quem já está interessado
Se você ainda está na fase de pesquisa, aqui vão algumas dicas práticas:
- Faça um test‑drive e preste atenção ao nível de ruído e à sensação de solidez da cabine.
- Verifique a presença do botão de desativação do airbag. Pergunte ao vendedor se o modelo que está sendo exibido tem esse recurso.
- Compare as notas de segurança com os concorrentes usando o site do Latin NCAP. Um ponto a mais pode fazer diferença.
- Considere o custo total de propriedade: seguro, manutenção e consumo de combustível. Um carro mais barato na compra pode sair mais caro ao longo dos anos se a segurança for comprometida.
Conclusão
O Yaris Cross tem tudo para ser um sucesso: preço competitivo, tecnologia híbrida flex inédita no segmento e a reputação da Toyota. Contudo, a avaliação de duas estrelas no Latin NCAP coloca um alerta importante. Segurança não é um detalhe; é um requisito básico que afeta a vida das pessoas.
Para quem pensa em comprar, o melhor caminho é pesar os prós e contras, exigir as melhorias que ainda faltam e, se possível, escolher a versão que já incorpore os recursos de assistência mais avançados. A boa notícia é que a Toyota tem capacidade técnica para corrigir essas falhas nas próximas atualizações de produção. Enquanto isso, fique de olho nas notícias, converse com outros proprietários e, acima de tudo, priorize a proteção da sua família.




