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Volkswagen Tera: O SUV que virou sensação e o grande desafio da eletrificação no Brasil

Volkswagen Tera: O SUV que virou sensação e o grande desafio da eletrificação no Brasil

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Um novo ícone nas ruas brasileiras

Quando a Volkswagen lançou o Tera, poucos imaginavam que ele se tornaria um dos veículos mais comentados do país em menos de um ano. O SUV, desenvolvido inteiramente na fábrica de Taubaté (São Paulo), chegou ao mercado com um timing perfeito: um teaser no Rock in Rio, apresentação completa durante o Carnaval e, logo depois, uma enxurrada de pedidos que esgotou a produção em menos de uma hora. Para quem acompanha o setor automotivo, essa sequência parece um roteiro de filme, mas para nós, consumidores, significa mais opções, mais competição e, claro, muita conversa nos grupos de WhatsApp.

Por que o Tera fez tanto sucesso?

O presidente da Volkswagen Brasil, Ciro Possobom, conta que o segredo não foi apenas o carro em si, mas a combinação de campanha, comunicação e estratégia de vendas. Ele descreve o Tera como “um ícone” que precisava ser percebido como tal desde o primeiro instante. Alguns pontos que explicam a aceitação:

  • Design alinhado ao gosto nacional: linhas robustas, altura elevada e um interior que mistura tecnologia e conforto.
  • Preço competitivo: com média de R$ 120 mil, o Tera se posiciona abaixo de muitos concorrentes estrangeiros, mas ainda oferece um nível de acabamento que antes era reservado a modelos mais caros.
  • Timing de lançamento: apresentar o carro durante o Carnaval, quando a atenção da mídia está em alta, ajudou a criar um buzz imediato.
  • Campanha de pré‑venda: a abertura das encomendas foi limitada, gerando sensação de escassez – estratégia que fez as 12.200 unidades serem vendidas em menos de uma hora.

Esses fatores, somados a uma produção já estabelecida na planta de Taubaté (que também fabrica Polo, Gol e outros modelos), criaram a fórmula vencedora. Até hoje, a Volkswagen anuncia cerca de 60 mil unidades do Tera vendidas, somando mercado interno e exportações para países vizinhos.

O panorama dos SUVs no Brasil

Os números não mentem: desde 2020, os SUVs representam mais da metade dos veículos novos emplacados no país – 54% contra 24,6% de hatches. Essa mudança de preferência acompanha a evolução do perfil do consumidor, que busca mais espaço, segurança e, muitas vezes, um status associado ao “carro alto”. A Volkswagen, atenta a esse movimento, tem no portfólio seis SUVs (Tera, Nivus, T‑Cross, Taos, Tiguan e ID.4 para aluguel) e ainda mantém dois hatches (Polo e Golf GTI) e duas picapes (Saveiro e Amarok).

Mesmo com a clara preferência por SUVs, Possobom reforça que os hatches ainda têm papel importante. Eles são mais econômicos, fáceis de estacionar e continuam sendo a escolha de quem mora em grandes cidades e tem rotinas de deslocamento mais curtas. O ponto crucial, porém, é que o Tera já supera o Polo em vendas, indicando que a transição de preferência está em curso e que a Volkswagen precisa equilibrar seu portfólio para não perder clientes que ainda valorizam o hatch.

O grande desafio: eletrificação

A outra cara da história da Volkswagen no Brasil é a eletrificação. Enquanto concorrentes como Chevrolet, Toyota e várias marcas chinesas já oferecem híbridos ou elétricos, a Volks ainda não tem um modelo nacionalmente produzido com essas tecnologias. O único carro elétrico da marca disponível no país são o ID.4 e o ID.Buzz, mas apenas por assinatura.

Possobom explica que o custo adicional de um híbrido ou elétrico ainda é um obstáculo: “Um híbrido leve vai custar R$ 10 mil a mais, um híbrido pleno pode chegar a R$ 30 ou 40 mil a mais”. Para um consumidor que pensa em gastar R$ 120 mil, esse acréscimo pode ser decisivo. Além disso, o brasileiro costuma percorrer entre 13 mil e 15 mil km por ano, o que significa que o carro precisa ser durável e ter um valor residual alto. Nesse cenário, a Volkswagen aposta nos híbridos flex e plug‑in como solução intermediária, prometendo que a partir de 2026 todos os lançamentos terão ao menos uma versão eletrificada.

Para viabilizar essa transição, a montadora já garantiu um empréstimo de R$ 2,3 bilhões junto ao BNDES. O objetivo é modernizar a linha de produção, adaptar a fábrica de Taubaté e desenvolver tecnologias que atendam às exigências do PL 8 – o programa de controle de emissões que entrou em vigor em 2025 e deve ser plenamente cumprido até 2029.

Prós e contras da eletrificação no Brasil

Prós:

  • Redução de emissões: veículos híbridos e elétricos ajudam a cumprir metas ambientais e podem beneficiar o consumidor com incentivos fiscais.
  • Economia de combustível: mesmo um híbrido leve pode diminuir o consumo em até 30% nas cidades.
  • Imagem de marca: estar à frente na transição verde pode atrair um público mais jovem e consciente.

Contras:

  • Custo de produção: a tecnologia ainda é cara e pode elevar o preço final do veículo.
  • Infraestrutura limitada: a rede de recarga ainda é incipiente, principalmente fora dos grandes centros.
  • Aceitação do mercado: muitos consumidores ainda preferem carros que podem ser mantidos por 10 a 15 anos sem grandes mudanças de tecnologia.

Esses fatores explicam por que a Volkswagen ainda tem cautela. A estratégia de lançar versões eletrificadas apenas a partir de 2026 permite que a empresa teste a aceitação, ajuste custos e, ao mesmo tempo, cumpra a legislação.

Perspectivas para o mercado automotivo brasileiro

Segundo a Fenabrave, o Brasil deve fechar 2025 com cerca de 2,55 milhões de veículos zero quilômetro emplacados – um crescimento de 3% em relação ao ano anterior. Embora seja um número expressivo, ainda fica abaixo da projeção inicial de 2,6 milhões (alta de 5%). Ciro Possobom aponta três fatores que poderiam impulsionar o mercado:

  1. Juros mais baixos: a taxa Selic está em 15% e, se cair para cerca de 12% em 2026, o financiamento de veículos fica mais barato, estimulando a demanda.
  2. Aumento da produção nacional: expandir a capacidade de fábricas brasileiras reduziria custos logísticos e de importação, tornando os carros mais competitivos.
  3. Regulamentação menos rígida: o PL 8, embora essencial para o meio ambiente, eleva o custo dos veículos. Ajustes que equilibram proteção ambiental e viabilidade econômica podem acelerar as vendas.

Além disso, a presença crescente de marcas chinesas, que já oferecem modelos eletrificados a preços mais acessíveis, está pressionando as montadoras tradicionais a inovar e reduzir preços. Em 2024, a participação de veículos importados chegou a quase 20% dos emplacamentos, frente a 13% há três anos.

O Salão do Automóvel e o futuro da Volkswagen no Brasil

O retorno do Salão do Automóvel de São Paulo, após sete anos de hiato, trouxe novidades, mas também deixou marcas importantes: grandes nomes como Volkswagen, Chevrolet e Ford optaram por não participar. As fabricantes chinesas dominaram os estandes, aproveitando o espaço para demonstrar seus lançamentos eletrificados.

Possobom não se arrepende da decisão. Ele acredita que o investimento em marketing digital, eventos de rua e test‑drives pode gerar mais retorno do que um estande em um salão tradicional. No entanto, ele deixa em aberto a possibilidade de voltar em 2027, caso o evento se torne mais forte e inovador.

Para quem acompanha o setor, a ausência da Volkswagen no salão pode ser vista como um sinal de que a marca está focada em estratégias diferentes – como o próprio sucesso do Tera, que foi impulsionado por campanhas online e lançamentos em eventos culturais.

O que isso significa para você, consumidor?

Se você está pensando em trocar de carro nos próximos anos, aqui vão alguns pontos práticos a considerar:

  • Se o seu foco é espaço e versatilidade: o Tera é uma escolha forte, especialmente se você mora fora dos grandes centros onde a pista de estacionamento é mais generosa.
  • Se a economia de combustível é prioridade: avalie modelos híbridos flex que devem chegar ao mercado a partir de 2026. Eles prometem um consumo menor sem elevar muito o preço.
  • Se você se preocupa com o meio ambiente: ainda não há opções elétricas da Volkswagen fabricadas no Brasil, mas o ID.4 e ID.Buzz podem ser alugados por assinatura. Alternativamente, marcas chinesas oferecem elétricos a preços competitivos.
  • Financiamento: fique de olho na taxa Selic. Uma queda de 3% pode significar parcelas mensais bem mais baixas, facilitando a compra de um carro mais caro ou com tecnologia avançada.

Em resumo, o mercado está em transição. O Tera mostra que a Volkswagen ainda tem força para criar um carro que ressoa com o público brasileiro. Ao mesmo tempo, o caminho para a eletrificação ainda tem obstáculos, mas a empresa está investindo pesado para superá‑los.

Conclusão

O que aprendemos com a entrevista de Ciro Possobom? Primeiro, que um bom produto, aliado a uma campanha bem pensada, pode mudar o jogo rapidamente. Segundo, que a eletrificação ainda é o grande desafio para a Volkswagen no Brasil, e que o sucesso dependerá de equilibrar preço, tecnologia e infraestrutura. Por fim, que o futuro do setor automotivo brasileiro será moldado por fatores macroeconômicos – juros, produção nacional e regulação – e que cada consumidor tem um papel ativo nessa mudança, seja escolhendo um SUV, um híbrido ou até mesmo um carro elétrico importado.

Fique de olho nas próximas novidades, porque o próximo grande lançamento pode estar a apenas alguns meses de distância, e quem sabe, talvez já venha com um motor elétrico ou híbrido que não pese tanto no bolso. Enquanto isso, aproveite o Tera nas estradas, nos fins de semana na praia e, quem sabe, nos trajetos do dia a dia, lembrando que a mobilidade está sempre evoluindo – e nós, como motoristas, evoluímos junto.