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Uruçu-capixaba: a abelha sem ferrão que pode desaparecer do Espírito Santo

Uruçu-capixaba: a abelha sem ferrão que pode desaparecer do Espírito Santo

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Se você acha que as abelhas são todas iguais, está na hora de descobrir a uruçu‑capixaba. Essa espécie, também chamada de uruçu‑negra, vive nas montanhas da Mata Atlântica do Espírito Santo e, apesar de não ter ferrão, tem um papel gigantesco na nossa vida. O problema? Ela está à beira da extinção.

Por que a uruçu‑capixaba é tão especial?

  • Exclusiva do ES: só existe nas áreas entre 800 e 1.200 metros de altitude, em doze municípios capixabas.
  • Sem ferrão: ao contrário das abelhas melíferas, não pica, o que a torna ideal para manejo próximo ao ser humano.
  • Polinizadora de peso: garante a produção de café, morango, tomate, abacate e de milhares de plantas nativas.

O professor Helder Canto, da Universidade Federal de Viçosa, descreve a abelha como “a ponte que liga a semente ao fruto, o fruto ao animal e o animal ao ecossistema”. Em números, até 90 % das plantas brasileiras dependem de abelhas para se reproduzir.

Como a uruçu‑capixaba faz a diferença na sua xícara de café

Imagine a manhã na região serrana: o aroma do café recém‑colhido se espalha pelos campos. Esse perfume não vem por acaso. A uruçu‑capixaba visita as flores de cafeeiro, coleta néctar e, ao fazer a sua famosa “tremedeira” dentro da flor, solta o pólen de forma mais eficaz. O resultado? Mais grãos, melhor qualidade e, consequentemente, mais renda para os produtores rurais.

As ameaças que colocam a espécie em risco

O cenário não é otimista. Diversos fatores estão reduzindo drasticamente o número de colônias:

  1. Desmatamento da Mata Atlântica: a perda de florestas altas e antigas diminui o habitat natural.
  2. Espécies exóticas invasoras: competem por recursos e alteram o equilíbrio ecológico.
  3. Uso indiscriminado de agrotóxicos: contaminam o néctar e afetam a saúde das abelhas.
  4. Comércio ilegal de colmeias: apascenta a extração de colônias para venda, esvaziando os locais de reprodução.

Esses fatores não só ameaçam a biodiversidade, como também comprometem a produção agrícola e a segurança alimentar da região.

O que está sendo feito? Iniciativas que dão esperança

Felizmente, a situação está mobilizando pesquisadores, produtores e a sociedade civil. Veja algumas ações que já estão em andamento:

  • Monitoramento em áreas protegidas: a Reserva Ambiental Águia Branca, em Vargem Alta, abriga colmeias monitoradas por equipes da IEMA.
  • Reintrodução de colônias: abelhas criadas em propriedades particulares são devolvidas a unidades de conservação para garantir a genética e a viabilidade da espécie.
  • Documentário “Na Imensidão do Pequeno”: mostra a vida da uruçu‑capixaba e gera empatia, reforçando a ideia de que proteger a abelha é preservar o orgulho capixaba.
  • Educação interativa: jogos como “Be a Bee – Seja uma Abelha” e experiências de realidade virtual permitem que crianças e jovens “voem” pela mata e compreendam o papel das abelhas.
  • Parcerias entre agricultores e biólogos: produtores como Margarida Tonolli recebem apoio técnico para instalar colmeias em árvores antigas, criando corredores de polinização.

Como você pode ajudar, mesmo sem ser apicultor

Não é preciso ter um apiário para fazer a diferença. Pequenas atitudes no dia a dia ajudam a manter o habitat da uruçu‑capixaba:

  1. Plante flores nativas no seu quintal ou varanda. Espécies como ipê‑roxo, manacá‑da‑serra e quina atraem abelhas.
  2. Evite pesticidas domésticos. Opte por soluções naturais para controle de pragas.
  3. Preserve árvores antigas. Elas são refúgios naturais para colônias silvestres.
  4. Divulgue a causa nas redes sociais usando a hashtag #UruçuCapixaba.
  5. Participe de visitas guiadas a colmeias em áreas de conservação. Sentir a abelha de perto cria empatia.

O futuro da uruçu‑capixaba: o que esperar?

Os especialistas são cautelosos, mas otimistas. Se a combinação de conservação de habitats, controle de agrotóxicos e engajamento comunitário se mantiver, a espécie pode se estabilizar nos próximos dez anos. O sucesso desse esforço será medido não só pelo número de colônias, mas também pela saúde das plantações de café e demais culturas que dependem da polinização.

Para quem vive no Espírito Santo, a uruçu‑capixaba representa mais que um inseto: é um símbolo de identidade, de conexão entre a terra e a mesa. Cada colmeia salva é um passo a mais rumo a um futuro onde a produção agrícola e a biodiversidade caminham juntas.

Conclusão

Ao ler sobre a uruçu‑capixaba, percebo que a história de uma pequena abelha pode nos ensinar grandes lições sobre responsabilidade ambiental. Proteger essa espécie é proteger o nosso próprio sustento, a cultura do café capixaba e a rica tapeçaria da Mata Atlântica. Então, da próxima vez que saborear um café, lembre‑se da abelha que, silenciosa e sem ferrão, faz tudo isso acontecer.