Se você acompanha o mercado agro, provavelmente já ouviu falar do tal “tarifaço” que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs a diversos produtos brasileiros. Mas, afinal, o que isso significa para o nosso bolso, para os produtores e para a economia como um todo?
O panorama atual
De acordo com a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, quase 45 % do valor total das exportações agropecuárias brasileiras para os EUA ainda está sujeito a uma tarifa adicional de 40 %. Em números, isso representa um potencial prejuízo de US$ 2,7 bilhões no próximo ano, caso as tarifas não sejam revertidas.
Quais produtos estão na mira?
Alguns itens são quase que totalmente dependentes do mercado americano. Veja alguns exemplos:
- Tilápia: 97,4 % das exportações foram para os EUA.
- Sebo bovino: 93,6 % do volume exportado vai para o país vizinho.
- Mel: 78,2 % das exportações brasileiras de mel têm destino americano.
Esses números mostram o quanto o agro brasileiro ainda depende do consumidor norte‑americano para alguns nichos específicos.
Como chegamos aqui?
O caminho até esse cenário começou em 2023, quando a Casa Branca anunciou duas rodadas de tarifas:
- Abril – Uma sobretaxa de 10 % sobre cerca de 200 produtos alimentícios de vários países, inclusive o Brasil. Essa medida foi revertida em novembro.
- Julho – Uma nova tarifa de 40 % focada em produtos brasileiros. Quatro meses depois, mais de 200 mercadorias foram novamente suspensas, mas não todos.
Os alívios posteriores tiraram da lista produtos de peso como café em grão e carne bovina, que agora estão isentos. Entretanto, itens como café solúvel e uva permanecem na lista de cobrança.
Impactos reais no campo
Para quem vive do agro, a tarifa não é só um número em planilha; ela afeta decisões diárias:
- Preço de venda: com a tarifa, o preço final nos EUA sobe, reduzindo a competitividade brasileira.
- Planejamento de safra: produtores podem repensar a área destinada a tilápia ou sebo, buscando mercados alternativos.
- Investimentos: empresas que dependiam de exportação para os EUA podem adiar expansão ou até fechar linhas de produção.
O diretor da Abics, Aguinaldo Lima, alerta que o café solúvel, que representa 10 % das exportações do setor, pode perder espaço nas gôndolas americanas, já que compradores buscam fornecedores como México, Colômbia, Vietnã e Europa.
E a uva? Por que ficou de fora?
Apesar de existir uma categoria de “frutas frescas” nas exceções da Casa Branca, a uva brasileira não foi incluída. O motivo, segundo o presidente da Abrafrutas, Eduardo Brandão, é que os EUA são grandes produtores e esperam uma supersafra local, além de importar muito do Chile e do Peru. Como consequência, os cachos que deixaram de ir para os EUA foram redirecionados para a Europa e países da América do Sul.
O que podemos fazer?
Não há solução mágica, mas alguns caminhos podem mitigar os efeitos:
- Diversificar mercados: buscar novos compradores na Ásia, na União Europeia e na América Latina.
- Adicionar valor: transformar produtos primários em itens de maior valor agregado (por exemplo, filés de tilápia congelados ao invés de peixe inteiro).
- Negociar acordos comerciais: o governo brasileiro pode pressionar por negociações que reduzam ou eliminem as tarifas.
- Inovar na produção: investir em tecnologia que aumente a produtividade e reduza custos, tornando o preço final mais competitivo mesmo com a tarifa.
Essas estratégias não eliminam a tarifa, mas ajudam a reduzir a dependência de um único mercado.
O que isso significa para o consumidor brasileiro?
Você pode estar se perguntando: “E eu, que não compro tilápia ou mel direto dos EUA, como sou afetado?”. A resposta é mais direta do que parece:
- Produtos importados dos EUA tendem a ficar mais caros, o que pode elevar os preços no varejo.
- Se a tarifa levar produtores a buscar outros mercados, a oferta doméstica pode cair, pressionando preços internos.
- Em contrapartida, se o Brasil conseguir abrir novos destinos, a competitividade pode se manter, evitando aumentos de preço.
Portanto, a discussão sobre tarifas não fica restrita ao campo; ela chega até a sua mesa de jantar.
Um olhar para o futuro
O cenário de tarifas pode mudar a qualquer momento. A política americana costuma ser volátil, e novas negociações podem resultar em redução ou até eliminação das cobranças. Enquanto isso, o agro brasileiro tem mostrado resiliência: mesmo com os desafios, continua sendo um dos maiores exportadores mundiais.
Para nós, que acompanhamos de perto o setor, o melhor caminho é ficar atento às notícias, entender como cada medida afeta a cadeia produtiva e, principalmente, apoiar iniciativas que fortaleçam a diversificação de mercados. Afinal, contar com um único comprador – mesmo que seja o maior do mundo – nunca foi uma estratégia segura.
Se você tem alguma experiência com exportação, já sentiu o impacto de uma tarifa ou conhece produtores que estão buscando novos destinos, compartilhe nos comentários. A troca de informações ajuda a comunidade agro a se adaptar e a crescer, mesmo em tempos de incerteza.




