Na última quarta‑feira (10), o governo oficializou o novo salário mínimo: R$ 1.621 a partir de 2026. Parece apenas mais um número, mas, na prática, esse ajuste de R$ 103 impacta muito mais do que o contracheque de quem recebe o piso. Se você recebe um benefício do PIS, do INSS, do BPC ou até mesmo está inscrito no CadÚnico, vale a pena entender como a mudança vai reverberar no seu dia a dia.
Como o reajuste foi calculado?
O aumento de 6,79 % não é aleatório. Ele combina dois indicadores:
- Inflação (INPC): 4,4 % acumulado até novembro, medido pelo IBGE.
- Ganho real ligado ao PIB: 2,5 %, que corresponde ao crescimento real da economia nos dois anos anteriores (2024).
Essa fórmula já está prevista na Constituição, mas a lei aprovada em dezembro de 2023 limitou o ganho real a 2,5 %. O resultado foi o novo piso de R$ 1.621, que começa a aparecer no pagamento de fevereiro de 2026.
Abono salarial (PIS/Pasep)
O abono salarial é um benefício anual para quem trabalhou ao menos 30 dias no ano‑base e recebia até dois salários mínimos. Em 2026, o valor do abono vai variar entre R$ 135,08 e R$ 1.621, dependendo dos meses trabalhados.
Mas tem uma mudança importante: o limite de renda para receber o abono não vai subir junto com o salário mínimo. A partir de 2026, ele será corrigido apenas pela inflação. Isso significa que, ano após ano, o benefício ficará restrito a quem tem renda realmente baixa, reduzindo o número de beneficiários.
Benefícios do INSS
Os valores pagos pelo INSS costumam ser ajustados pela inflação e pelo salário mínimo. Com o novo piso, quem recebe o benefício na base de um salário mínimo passará a ganhar R$ 1.621. Para quem recebe acima do mínimo, o reajuste segue o INPC (cerca de 4,18 % em 2025).
Esse aumento pode abrir uma margem maior para crédito consignado, já que o limite de empréstimo costuma ser calculado sobre o valor do benefício.
Benefício de Prestação Continuada (BPC)
O BPC, pago a idosos a partir de 65 anos e a pessoas com deficiência em situação de extrema pobreza, também será reajustado para R$ 1.621 a partir de fevereiro de 2026. A faixa de renda per capita exigida – entre ¼ e ½ salário mínimo – vai subir para entre R$ 405,25 e R$ 810,50.
Em 2025, o governo endureceu as regras: cadastro biométrico e atualização a cada dois anos são obrigatórios. O novo valor pode ajudar, mas a restrição de renda pode excluir quem está na margem de vulnerabilidade.
Seguro‑desemprego
O seguro‑desemprego tem como piso o salário mínimo. Assim, a partir de 2026, o benefício não pode ser inferior a R$ 1.621, mesmo que o cálculo baseado no salário médio dê um valor menor.
Em 2025, os pagamentos variavam entre R$ 1.528 e R$ 2.424,11. Com o novo piso, o limite inferior sobe, protegendo mais quem perde o emprego sem justa causa.
Trabalho intermitente
Para quem tem contrato intermitente, o salário‑hora ou o salário‑dia não pode ficar abaixo do salário mínimo proporcional. Com o novo piso, o valor diário de referência será cerca de R$ 54,03 e o valor hora, R$ 7,37.
Isso pode significar um acréscimo no pagamento de quem trabalha em regime de horas esporádicas, mas também pode elevar o custo para as empresas que contratam nesse formato.
Cadastro Único (CadÚnico)
O CadÚnico serve para identificar famílias que podem receber programas como Bolsa Família, vale‑gás e o próprio BPC. O critério de renda mensal por pessoa será atualizado para até meio salário mínimo, ou seja, até R$ 810,50.
Famílias que antes estavam dentro da margem podem ficar fora, enquanto outras que antes não se qualificavam podem agora ser incluídas. É importante ficar de olho nas atualizações e manter o cadastro em dia.
Seguro‑defeso
O seguro‑defeso, destinado a pescadores artesanais durante o período de proibição da pesca, também será reajustado para o novo salário mínimo. O objetivo é garantir que o pescador receba um valor equivalente ao piso, mantendo a subsistência durante a defeso.
O que isso significa para você?
Se você recebe algum desses benefícios, o impacto será direto no valor que entra na sua conta. Mas a mudança vai além do aumento numérico:
- Planejamento financeiro: com o novo piso, o poder de compra pode melhorar, mas a inflação ainda corrói parte do ganho. Avalie suas despesas fixas e veja onde pode economizar.
- Revisão de contratos: alguns serviços (como planos de saúde ou empréstimos) usam o salário mínimo como referência. Verifique se há reajustes previstos.
- Elegibilidade: a atualização do CadÚnico pode mudar seu status em programas sociais. Se ainda não está cadastrado, aproveite para fazer o registro antes que o prazo se esgote.
- Crédito consignado: aposentados que recebem o piso agora podem ter acesso a linhas de crédito com juros mais baixos, já que o banco vê maior capacidade de pagamento.
Como se preparar?
- Atualize seus dados: verifique se seu cadastro no CadÚnico, no INSS e no PIS está correto. Erros podem atrasar o pagamento.
- Reveja seu orçamento: use planilhas simples ou aplicativos de finanças para projetar o impacto do novo salário mínimo nos próximos meses.
- Fique atento ao calendário: o aumento entra em vigor em janeiro, mas o pagamento só aparece em fevereiro. Planeje despesas que dependem desse valor.
- Consulte um especialista: se você tem dúvidas sobre como o novo piso afeta seu empréstimo ou benefício, procure o SAC do seu banco ou um contador.
O futuro do salário mínimo
O ajuste de 2026 segue a tendência de vincular o piso à inflação e ao crescimento econômico. No entanto, a limitação do ganho real a 2,5 % pode gerar discussões nos próximos anos, principalmente se a inflação subir mais do que o previsto.
Alguns economistas defendem um aumento maior para melhorar o consumo interno, enquanto outros alertam que um piso muito alto pode pressionar a competitividade das empresas. O debate ainda está aberto, mas o que sabemos é que, a cada reajuste, milhões de brasileiros sentem o efeito direto nas contas do mês.
Em resumo, o salário mínimo de R$ 1.621 traz boas notícias para quem depende de benefícios, mas também impõe a necessidade de atenção ao novo critério de elegibilidade e ao poder de compra real. Mantenha-se informado, ajuste seu planejamento e aproveite ao máximo as oportunidades que surgirem.




