Um papo de café sobre a sabatina que virou manchete
Você já se pegou acompanhando um assunto político que parece ter mais reviravolta que série de suspense? Pois é, a última da vez foi a sabatina do advogado‑geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF). O que era para acontecer no dia 10 de dezembro acabou cancelado, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sugeriu que a entrevista pode ficar “para depois das eleições de 2026”. Parece exagero, mas tem muita coisa por trás desse adiamento que vale a pena destrinchar.
Contexto rápido: como funciona a indicação ao STF
Antes de mergulharmos nas motivações de Alcolumbre, vale lembrar como funciona a nomeação de um ministro do STF no Brasil. O presidente da República escolhe um nome, envia uma mensagem oficial ao Senado e, a partir daí, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) agenda a sabatina. É um momento de perguntas, debates e, às vezes, até de “testes de fogo” políticos. Depois da comissão, o plenário do Senado vota. Se aprovado, o nome vai para a posse.
Esse processo costuma ser polêmico porque o STF tem poder de revisão de leis e decisões que afetam todo o país. Por isso, a escolha de cada ministro costuma refletir, de alguma forma, os alinhamentos políticos do presidente e as estratégias dos partidos no Congresso.
Quem é Jorge Messias e por que ele importa?
Jorge Messias não é um desconhecido. Advogado‑geral da União, ele tem sido um dos principais articuladores das políticas jurídicas do governo Lula. Seu nome apareceu como substituto de Luís Roberto Barroso, que deixou o STF para assumir a presidência da República. Se Messias for confirmado, ele será a primeira escolha do presidente para ocupar aquela vaga estratégica.
Para o governo, a indicação tem duas funções claras:
- Consolidar apoio judicial: um ministro alinhado com a agenda do Executivo pode facilitar a aprovação de reformas e a defesa de políticas públicas em tribunais.
- Mostrar força política: ao indicar alguém com perfil técnico e de confiança, Lula tenta sinalizar que está pronto para enfrentar os desafios institucionais que vêm pela frente.
Alcolumbre entra em cena: quem é o presidente do Senado?
Davi Alcolumbre, senador do Amapá (União‑AP) e presidente da Casa, tem um papel que vai muito além de abrir a sessão. Ele é responsável por organizar a pauta, garantir que as regras sejam seguidas e, sobretudo, equilibrar os interesses entre o Executivo e os demais senadores. Nos últimos anos, Alcolumbre tem sido visto como um mediador que tenta manter a autonomia do Senado frente a pressões do governo.
Quando ele anunciou o cancelamento da sabatina e sugeriu que o assunto poderia ser deixado “para depois das eleições de 2026”, a reação foi imediata: alguns viram como um ato de resistência institucional, outros como um movimento de cálculo político.
Por que o governo Lula não enviou a mensagem oficial?
A notícia que circulou nos corredores do Congresso foi que o Planalto não enviou a mensagem que formaliza a indicação de Messias ao Senado. Sem esse documento, a CCJ não tem base legal para analisar a candidatura no calendário já anunciado. Por que isso aconteceu?
Algumas hipóteses que circulam entre os bastidores:
- Ganhar tempo para articulação: o governo pode estar buscando mais encontros informais com senadores para garantir apoio antes de enfrentar a bancada em público.
- Evitar embaraço político: se a mensagem fosse enviada e a sabatina fosse adiada por questões procedimentais, o governo poderia ser acusado de manipular o processo.
- Pressão interna: há rumores de que alguns senadores, especialmente de partidos de oposição, pediram mais garantias antes de aceitar a indicação.
Alcolumbre classificou essa demora como “grave e sem precedentes”, indicando que, para ele, a falta de comunicação demonstra uma tentativa de interferir na agenda do Senado.
O que muda se a sabatina ficar para 2026?
Postergar a entrevista de Messias até depois das eleições de 2026 tem consequências práticas e simbólicas. Vamos dividir em duas partes:
1. Impactos práticos
- Vácuo no STF: a vaga deixada por Barroso permanecerá aberta por quase quatro anos, o que pode afetar o ritmo de decisões em casos críticos, como aqueles ligados à reforma tributária ou ao meio ambiente.
- Incerteza jurídica: advogados, empresas e cidadãos ficam sem saber quem será o próximo guardião da Constituição, o que pode gerar cautela nas decisões de investimento.
- Jogo de barganha: o governo terá que negociar com o Senado em um contexto eleitoral, possivelmente cedendo em outros pontos para garantir apoio futuro.
2. Impactos simbólicos
- Mensagem de resistência: ao adiar a sabatina, o Senado sinaliza que não será um mero coadjuvante nas escolhas do Executivo.
- Desconfiança institucional: a população pode interpretar o impasse como mais um sintoma da crise de confiança entre os poderes.
- Planejamento de longo prazo: ao projetar a decisão para 2026, abre‑se espaço para que o futuro presidente (se for outro) tenha a palavra final na indicação.
Como isso afeta a gente, cidadão comum?
Talvez você esteja pensando: “Mas eu não ligo muito para quem vai ao STF, isso não mexe com a minha vida”. Na verdade, as decisões do Supremo têm reflexo direto nas nossas rotinas:
- Direitos trabalhistas: questões sobre jornada, terceirização e benefícios costumam passar pelo STF.
- Políticas de saúde e educação: muitas vezes, o Supremo decide sobre a constitucionalidade de programas federais que impactam escolas e hospitais.
- Meio ambiente: decisões sobre desmatamento, licenças e proteção de áreas indígenas são frequentemente analisadas pelo tribunal.
Um STF com composição estável e previsível oferece mais segurança jurídica para quem planeja abrir um negócio, comprar um imóvel ou simplesmente exercer seus direitos. Quando há dúvidas sobre quem ocupará a corte, a sensação de instabilidade pode frear investimentos e gerar insegurança.
História de sabatinas adiadas: precedentes e lições
Não é a primeira vez que uma indicação ao STF sofre atrasos. Em 2005, a indicação de Nelson Jobim ao Supremo foi adiada por questões técnicas e acabou sendo confirmada depois de muita negociação. Já em 2016, a nomeação de Cármen Lúcia para a presidência do STF gerou debates intensos, mas não chegou a ser postergada.
A diferença aqui é o contexto político: estamos em um governo de coalizão, com forte presença de partidos de centro‑esquerda, mas também com oposição organizada no Congresso. O clima de polarização aumenta a probabilidade de impasses como esse.
Possíveis cenários para os próximos anos
Vamos brincar de futurólogo por um minuto e imaginar três caminhos que podem se desenrolar até 2026:
- Indicação aprovada antes de 2026: o governo consegue, nos próximos meses, reunir apoio suficiente e a mensagem é enviada. A sabatina ocorre, Messias é aprovado e o STF ganha um novo membro alinhado ao Executivo. Consequência: maior sinergia entre os poderes e potencial aceleração de reformas.
- Adiado até 2026, mas com acordo pré‑eleitoral: Alcolumbre e o governo chegam a um acordo informal. O Senado promete votar a indicação após as eleições, mas o futuro presidente (se for do mesmo partido) já tem a “carta na manga”. Consequência: o processo fica mais transparente, mas ainda há incerteza para o período intermediário.
- Indicação descartada: o impasse se prolonga, a vaga permanece vazia até 2026 e, quando o próximo presidente assumir, ele escolhe outro nome. Consequência: pode haver mudança de rumo nas decisões do STF, refletindo a nova orientação política.
Qual desses você acha mais provável? Eu, pessoalmente, vejo um meio‑termo: um acordo rápido que permita a votação ainda neste mandato, mas com concessões políticas que deixem o Senado satisfeito.
O papel dos senadores individuais
Não podemos esquecer que, por trás de Alcolumbre, há dezenas de senadores com suas próprias agendas. Alguns podem estar buscando cargos executivos nas próximas eleições, outros querem garantir recursos para seus estados. Por isso, a negociação pode envolver trocas de favores:
- Promessa de emendas ao orçamento federal.
- Compromisso de apoiar projetos de infraestrutura em regiões específicas.
- Garantia de que determinados projetos de lei, importantes para determinados partidos, sejam priorizados.
Essas barganhas são a cara da política brasileira: o “café com conversa” nos corredores do Senado costuma decidir mais do que as manchetes de jornal.
Como acompanhar o desenrolar dessa história?
Se você quiser ficar por dentro sem precisar ler todos os comunicados oficiais, aqui vão algumas dicas práticas:
- Monitorar o site do Senado: a agenda da CCJ e os comunicados do presidente são atualizados em tempo real.
- Seguir jornalistas especializados: nomes como Mônica Bergamo e Andréia Sadi costumam trazer análises detalhadas.
- Usar redes sociais: perfis de senadores e de órgãos como a Advocacia‑Geral da União costumam divulgar posicionamentos.
- Participar de debates locais: muitas vezes, grupos de cidadãos organizam encontros para discutir o impacto de decisões judiciais nas comunidades.
Manter-se informado ajuda a entender como decisões de alto nível podem influenciar, por exemplo, a criação de novas leis de proteção ao consumidor ou a forma como o governo lida com questões ambientais.
Conclusão: estratégia ou bloqueio?
O que fica no ar, ao final das contas, é se o adiamento da sabatina de Jorge Messias até 2026 é um movimento de estratégia do Senado para preservar sua autonomia, ou se representa um bloqueio deliberado ao governo Lula. A verdade provavelmente está no meio: o presidente do Senado quer garantir que o processo siga regras claras, enquanto o Executivo tenta ganhar tempo para consolidar apoio.
Para nós, leitores curiosos, o mais importante é perceber que esses embates não são meros jogos de poder; eles têm repercussões concretas nas nossas vidas – desde a segurança jurídica nas nossas empresas até a forma como direitos fundamentais são protegidos. Portanto, acompanhar, questionar e, se possível, participar do debate é a melhor forma de transformar esse cenário complexo em algo que faça sentido para o nosso cotidiano.
E então, o que você acha? Vale a pena pressionar por uma decisão rápida ou é melhor dar espaço ao processo democrático, mesmo que isso signifique esperar até 2026? A conversa está aberta, e eu adoraria saber sua opinião nos comentários.




