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Roraima finalmente conectada ao SIN: o que isso muda para a gente?

Roraima finalmente conectada ao SIN: o que isso muda para a gente?

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Um marco que chega depois de décadas

Quando eu era criança, a energia em Roraima parecia um mistério. A gente ficava ouvindo que a maior parte da eletricidade vinha da Venezuela, que de repente parou de enviar energia em 2019 e, de lá pra cá, tudo ficou nas mãos da Roraima Energia, que depende de termelétricas e de uma pequena hidrelétrica. Foi um cenário de vulnerabilidade que, para muitos, parecia inevitável.

Mas, nesta terça‑feira (9), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) deu um passo importante: determinou que o estado será efetivamente interligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) a partir de 1º de janeiro de 2026. Em termos simples, Roraima deixará de ser o único estado isolado da rede elétrica nacional. E isso traz uma série de implicações práticas que vale a pena entender.

Como vai funcionar a conexão?

A grande obra responsável por essa mudança é o Linhão de Tucuruí, também chamado de Linha de Transmissão Manaus – Boa Vista. Ele já está em construção desde 2022, quando os índios Waimiri‑Atroari concordaram com o acordo de compensação do governo federal. São 122 km de torres que atravessam território indígena, gerando cerca de 3 mil empregos diretos e indiretos.

Quando a linha estiver completa, a energia produzida nas usinas de Tucuruí (principalmente hidrelétricas) será transportada até Boa Vista e, a partir daí, integrada ao SIN. Isso significa que a energia que chega ao estado será parte de um grande pool nacional, com maior estabilidade, preços mais competitivos e, sobretudo, menos dependência de usinas termelétricas caras e poluentes.

O que muda no dia a dia dos roraimenses?

  • Preço da conta de luz: a energia do SIN costuma ter tarifas mais baixas, já que o custo da geração é diluído entre vários estados. Para quem paga mais nas usinas a gás ou diesel, a expectativa é de redução perceptível na conta.
  • Confiabilidade: menos apagões e quedas de tensão. Quando a Venezuela cortou o fornecimento, Roraima ficou vulnerável a falhas nas usinas locais. Agora, a rede nacional oferece reserva de energia.
  • Impacto ambiental: a substituição de termelétricas por energia hidrelétrica reduz emissões de CO₂. É um passo importante para a agenda de descarbonização do Brasil.
  • Desenvolvimento econômico: energia mais barata e estável atrai indústrias, incentiva o agronegócio e pode impulsionar o turismo, que depende de infraestrutura confiável.

Além disso, a Aneel estabeleceu prazos para que os agentes geradores implantem o Sistema de Medição para Faturamento (SFM) e façam o cadastramento dos ativos na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) até 20 de junho de 2026. Em termos práticos, isso garante que a energia seja medida, faturada e comercializada de forma transparente, como acontece em todo o país.

Desafios que ainda precisam ser superados

Mesmo com a boa notícia, há obstáculos a enfrentar. Primeiro, a Roraima Energia tem que concluir a separação dos seus ativos até 1º de julho de 2027, conforme determinação da Aneel. Essa separação envolve questões regulatórias, de propriedade e de operação que podem gerar atritos.

Segundo, a integração ao SIN exige investimentos em subestações, linhas de distribuição e sistemas de controle que ainda precisam ser concluídos. O prazo de 2026 é ambicioso, mas o histórico de obras de infraestrutura no Norte do Brasil mostra que atrasos são comuns.

Terceiro, há a questão dos povos indígenas. Embora o acordo com os Waimiri‑Atroari tenha sido firmado, é fundamental garantir que a compensação seja efetiva e que os impactos ambientais sejam monitorados. Qualquer descuido pode gerar conflitos e atrasos.

O que a história nos ensina

Roraima ficou isolada do resto do país por mais de 18 anos, dependendo de energia importada da Venezuela. Quando o fornecimento venezuelano cessou em 2019, o estado precisou se virar com suas próprias usinas termelétricas – um modelo caro e vulnerável a flutuações de preço do combustível.

Essa situação lembra outros casos de isolamento energético no Brasil, como o Acre, que também sofreu com a falta de conexão ao SIN por décadas. Quando finalmente foram integrados, ambos os estados viram melhorias significativas na qualidade de vida e no desenvolvimento econômico.

Perspectivas para o futuro

Se tudo correr conforme o planejado, a partir de 2026 Roraima passará a participar do mercado livre de energia, podendo negociar contratos diretamente com geradores. Isso abre portas para projetos de energia renovável locais – solar, eólica e até pequenas hidrelétricas – que podem complementar a matriz.

Além disso, a integração ao SIN pode estimular a criação de parques industriais voltados para a mineração, processamento de minérios e produção de alimentos, setores que antes eram desencorajados pela incerteza energética.

Mas, para que esses benefícios se concretizem, é preciso que os gestores estaduais e federais mantenham o foco na transparência, na qualidade da obra e no respeito aos direitos das comunidades locais. A participação da sociedade civil, com acompanhamento de ONGs e imprensa, será crucial para garantir que a energia chegue de forma justa e sustentável.

Conclusão: um passo gigante, mas ainda há caminho

Em resumo, a decisão da Aneel de conectar Roraima ao SIN representa um marco histórico. Para nós, que vivemos aqui, isso significa contas de luz mais baixas, menos apagões e um futuro com mais oportunidades. Ainda há desafios – prazos apertados, questões regulatórias e a necessidade de proteger os povos indígenas – mas a tendência é clara: Roraima está saindo do isolamento e entrando na rede nacional de energia.

Se você mora em Boa Vista ou em qualquer um dos 15 municípios do estado, vale a pena ficar de olho nas próximas etapas da obra, nos anúncios da CCEE e nas discussões sobre a separação dos ativos da Roraima Energia. Essa transição pode mudar o ritmo da vida aqui, e estar bem informado ajuda a aproveitar ao máximo as oportunidades que virão.

Vamos acompanhar juntos essa jornada? Afinal, energia é mais que luz – é desenvolvimento, é qualidade de vida e, sobretudo, é a base para sonharmos um futuro melhor para Roraima.