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Quem será o próximo presidente do Fed? O que isso significa para a nossa carteira

Quem será o próximo presidente do Fed? O que isso significa para a nossa carteira

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Na última terça‑feira, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, soltou uma informação que já está dando o que falar nas salas de reunião de investidores, nos corredores de Wall Street e, claro, nos cafés onde a gente costuma conversar sobre economia. Segundo ele, o presidente Donald Trump deve anunciar o novo presidente do Federal Reserve (Fed) já no início de janeiro.

Por que essa nomeação é tão importante?

O Fed não é só um banco central. Ele é quem decide a taxa básica de juros dos EUA, controla a quantidade de dinheiro em circulação e, de forma indireta, influencia tudo que afeta o nosso bolso: preço dos combustíveis, valor do dólar, até o custo dos empréstimos aqui no Brasil.

Os nomes que estão na conversa

Bessent citou dois nomes que já surgiam como favoritos: Kevin Warsh, ex‑diretor do Fed, e Kevin Hassett, economista da Casa Branca. Ambos têm um histórico de críticas ao atual presidente do Fed, Jerome Powell, e defendem uma postura mais agressiva na redução dos juros.

  • Kevin Warsh: já foi governador do Fed durante a crise de 2008. Hoje ele argumenta que o Fed precisa ser mais “eficiente” e que cortes de juros mais profundos poderiam estimular a economia.
  • Kevin Hassett: conselheiro econômico da Casa Branca, aliado próximo de Trump. Ele costuma dizer que a política monetária deve estar alinhada com a visão do presidente, sobretudo quando o objetivo é impulsionar o crescimento.

Além desses, a lista completa de candidatos inclui Christopher Waller, Michelle Bowman, Rick Rieder e até o próprio Bessent, que recusou a indicação. Cada um traz uma bagagem diferente e, consequentemente, uma perspectiva distinta sobre como o Fed deve agir.

O que muda se um desses nomes assumir?

Para entender o impacto, vale lembrar que o Fed tem mantido a taxa de juros em torno de 3,50 % a 3,75 % ao ano – o nível mais baixo desde setembro de 2022 – após três cortes sucessivos em 2025. A ideia oficial é que “crescimento não gera inflação; o que gera inflação é o desequilíbrio entre oferta e demanda”. Essa frase, repetida por Bessent, resume a mudança de discurso que alguns desses candidatos podem trazer.

Se o próximo presidente do Fed acreditar que o crescimento pode ser impulsionado sem gerar pressão inflacionária, ele pode acelerar os cortes de juros. Isso teria três efeitos principais para nós, brasileiros:

  1. Dólar mais barato: juros mais baixos nos EUA tendem a desvalorizar o dólar, o que pode tornar as importações mais baratas e reduzir a pressão inflacionária aqui.
  2. Investimentos mais atrativos: com juros mais baixos, investidores buscam alternativas de maior retorno, como ações e títulos de risco, o que pode elevar o preço de ativos na bolsa brasileira.
  3. Financiamento mais barato: se o Banco Central do Brasil seguir a tendência de redução de juros para acompanhar o cenário global, os empréstimos, financiamentos e cartões de crédito podem ficar mais acessíveis.

Mas nem tudo são flores

Uma política de juros muito baixa por muito tempo pode trazer riscos. Historicamente, períodos prolongados de juros baixos podem gerar bolhas de ativos, aumento da dívida das famílias e, em casos extremos, uma nova onda inflacionária quando a demanda finalmente “acorda”.

Além disso, a independência do Fed é um ponto sensível. Trump tem deixado claro que quer ser consultado em decisões de política monetária – algo que vai contra o princípio de autonomia do banco central. Se o próximo presidente for muito próximo do presidente dos EUA, pode haver um risco de decisões mais “politizadas”, o que gera incerteza nos mercados.

O que os investidores estão fazendo agora?

Enquanto aguardamos a nomeação oficial, o mercado já começou a precificar diferentes cenários. Algumas estratégias que temos visto ganhar força:

  • Rebalanceamento de carteiras, reduzindo a exposição a títulos de renda fixa de longo prazo, que são mais sensíveis a mudanças nas taxas de juros.
  • Aumento da participação em fundos de ações que se beneficiam de um dólar mais fraco.
  • Busca por ativos de renda fixa em dólares com prazos curtos, para reduzir o risco de volatilidade.

Para quem tem investimentos mais conservadores, a dica é ficar de olho nas notas do Banco Central e nas projeções de inflação. Se o Fed sinalizar cortes mais agressivos, é provável que o Copom (Comitê de Política Monetária) siga o mesmo caminho, mas sempre com um “delay” para observar os efeitos externos.

Como você pode se preparar?

Não é preciso ser um economista para entender que a decisão do Fed pode mexer com o seu dia a dia. Aqui vão três passos simples que você pode adotar agora:

  1. Reveja seus objetivos financeiros: se você pretende comprar um imóvel ou fazer uma viagem internacional nos próximos anos, considere a possibilidade de que o dólar pode oscilar bastante nos próximos meses.
  2. Diversifique: não deixe todo o seu patrimônio em um único tipo de investimento. Uma combinação de renda fixa, ações e, se possível, ativos no exterior pode amortecer choques.
  3. Fique atento às notícias: a nomeação deve acontecer em janeiro, mas os rumores já começam a influenciar o mercado. Acompanhe análises de especialistas e, se precisar, converse com seu consultor de investimentos.

O que esperar para 2024?

Se a escolha recair sobre Warsh ou Hassett, a tendência é de cortes mais rápidos e talvez até uma revisão da meta de inflação do Fed. Isso pode gerar um “efeito dominó” em todo o sistema financeiro global, inclusive aqui no Brasil.

Por outro lado, se o nome escolhido for Christopher Waller, que tem um perfil mais conservador, a política pode continuar mais cautelosa, mantendo a taxa de juros em patamares estáveis por mais tempo. Nesse cenário, o dólar pode se manter forte, pressionando os preços de importados.

Em resumo, a decisão de quem vai comandar o Fed é mais do que um detalhe de bastidores de Washington. Ela tem o poder de mudar o ritmo da economia mundial e, consequentemente, o seu planejamento financeiro.

Fique de olho nas próximas semanas, converse com quem entende de investimentos e, acima de tudo, mantenha a calma. O mercado tem ciclos, e entender o que está por trás das decisões ajuda a navegar melhor por eles.