Se você já percebeu que o quilo do frango congelado está mais caro na sua feira ou no supermercado, não está sozinho. Nos últimos meses, o preço da carne de frango subiu de forma consistente em São Paulo, chegando a R$ 8,11 no início de dezembro de 2025. Mas o que realmente está por trás desse aumento? Nesta postagem eu vou destrinchar os números, explicar como a gripe aviária, as exportações e a oferta interna influenciam o valor que pagamos na hora da compra, e ainda dar dicas de como lidar com essa situação no seu orçamento.
O panorama geral: oferta doméstica em baixa
O Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP em Piracicaba – analisou os dados do IBGE e constatou que, entre agosto e setembro de 2025, a disponibilidade de carne de frango no mercado interno foi de 111 milhões de quilos. Esse número está quase idêntico ao registrado antes da gripe aviária (110 milhões de quilos entre janeiro e abril). Em outras palavras, a oferta interna voltou a níveis pré‑crise.
Mas por que isso importa? Quando a quantidade de frango disponível no país diminui, os produtores tendem a direcionar mais aves para a exportação, onde os preços são mais atrativos. Isso reduz ainda mais a quantidade que chega ao atacado e, consequentemente, ao consumidor final.
Exportações em alta: a ‘fuga’ da proteína
A retomada das exportações foi um dos principais motores desse cenário. Depois que a União Europeia suspendeu as compras em maio, devido ao caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul, as importações foram retomadas em setembro. O ritmo diário de embarques de frango em outubro superou em 9,6 % o de setembro e ficou 16 % acima de outubro de 2024. Se essa tendência continuar, 2025 pode fechar com um recorde histórico de exportação de carne de frango.
Para o produtor, vender para o exterior significa receber mais dólares por quilo, o que incentiva a destinação de mais aves para o mercado externo. O efeito colateral, porém, é a escassez no mercado interno, que eleva os preços para quem compra no varejo.
Como a gripe aviária ainda deixa marcas
Mesmo que o Brasil tenha sido declarado livre da doença em junho de 2025, o impacto ainda se sente. A epidemia provocou restrições nas exportações e, durante o período crítico, os produtores reduziram o abate para conter a propagação. Quando a situação se normalizou, a demanda reprimida e os contratos de exportação já estavam em vigor, criando um descompasso entre oferta e demanda doméstica.
Comparação com outras carnes: o suíno ganha força
Um ponto interessante que o Cepea destacou foi a mudança na competitividade entre frango e porco. Até outubro, a diferença de preço entre as duas proteínas estava diminuindo. O frango, que costumava ser a opção mais barata, perdeu parte da vantagem frente ao suíno. Em outubro, o quilo do frango inteiro resfriado foi negociado a R$ 4,55, apenas 1,5 % abaixo da carcaça suína, enquanto em setembro a diferença era maior.
Essa “gangorra” de preços tem duas causas principais:
- Valorização do frango: a alta nas exportações elevou o preço interno.
- Queda dos preços do suíno: a disponibilidade de carne suína ficou relativamente estável, mas a demanda interna manteve-se forte, pressionando levemente os valores para baixo.
Para o consumidor, isso significa que, em determinadas épocas, pode valer a pena comparar os preços das duas carnes antes de decidir o que colocar no prato.
O que os números dizem sobre a produção de frango
Os dados de abate apontam para uma redução de cerca de 9 % em outubro, segundo estimativas do Cepea baseadas em informações do MAPA. Essa diminuição no número de aves abatidas, combinada com a maior exportação, explica por que o estoque interno ficou mais apertado.
Além disso, a disponibilidade interna de carne suína em outubro foi a segunda menor de 2025, com 191,5 mil toneladas, apenas um pouco abaixo de setembro. Essa queda na oferta de suínos também contribui para a dinâmica de preços, pois mantém a pressão sobre o frango como a proteína mais acessível, ainda que seu preço esteja subindo.
Como isso afeta o seu bolso
Se você costuma comprar frango inteiro ou cortes congelados, pode observar um aumento de até R$ 0,12 por quilo entre o início de novembro e o início de dezembro. Embora pareça pouco, quando se compra um quilo por semana, isso representa quase R$ 5 a mais por mês, ou R$ 60 ao ano.
Para quem tem um orçamento apertado, esse aumento pode ser significativo. Aqui vão algumas estratégias práticas para amenizar o impacto:
- Compre em maior quantidade: aproveite promoções de pacotes maiores, que costumam ter preço por quilo mais baixo.
- Explore cortes diferentes: coxas e sobrecoxas costumam ser mais baratos que peito ou filé.
- Considere o frango vivo: em algumas regiões, comprar frango vivo e processar em casa pode sair mais em conta.
- Alterne com outras proteínas: aproveite a queda nos preços do suíno ou até mesmo opções vegetais como proteína de soja.
Perspectivas para o fim do ano
Os analistas do Cepea têm opiniões divergentes. Uma parte está otimista, acreditando que a demanda de fim de ano (Natal e festas de fim de ano) pode aquecer as vendas e, possivelmente, estabilizar ou até reduzir os preços se a oferta interna se ajustar. Outra parcela está mais cautelosa, observando que a alta oferta de frango vivo para abate pode manter a pressão sobre o mercado, mantendo os preços elevados.
O que fica claro é que, enquanto as exportações continuarem fortes e a produção interna não se recuperar totalmente, o preço do frango no varejo tende a permanecer acima dos níveis pré‑gripe aviária.
Conclusão: o que fazer?
Entender a cadeia de produção, exportação e oferta doméstica ajuda a colocar o aumento de preço em perspectiva. Não é apenas “inflação”, mas um conjunto de fatores que inclui decisões de produtores, políticas sanitárias e a demanda internacional.
Se você quer economizar, fique atento às promoções, diversifique as fontes de proteína e planeje suas compras com antecedência. E, claro, acompanhe as notícias do Cepea e do IBGE – eles costumam publicar boletins mensais que dão pistas valiosas sobre a direção dos preços.
Espero que este panorama tenha esclarecido o que está acontecendo com o preço do frango em São Paulo e como isso pode impactar o seu dia a dia. Se você tem alguma dica de economia ou quer saber mais sobre o assunto, deixe um comentário! Vamos trocar ideias e ajudar uns aos outros a fazer escolhas mais inteligentes na hora das compras.




