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Por que o Copom decidiu deixar a Selic em 15% por mais tempo? Entenda o impacto no seu bolso

Por que o Copom decidiu deixar a Selic em 15% por mais tempo? Entenda o impacto no seu bolso

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Na última quarta‑feira (10), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano pela quarta vez consecutiva. A decisão foi unânime e, apesar de não ser uma surpresa, gera dúvidas e até um certo incômodo para quem acompanha a economia de perto. Neste post eu vou explicar, de forma simples e direta, o que está por trás dessa escolha, como ela afeta a inflação, o crédito e, principalmente, o seu dia a dia.

O que é a taxa Selic e por que ela importa?

A Selic funciona como o “preço do dinheiro” no Brasil. Quando o Banco Central aumenta a taxa, o crédito fica mais caro – empréstimos, financiamentos e até o cartão de crédito custam mais. Quando a reduz, o oposto acontece. Mas o objetivo maior da Selic não é controlar o preço dos empréstimos, e sim a inflação. Mantendo a taxa alta, o BC tenta conter a alta dos preços, porque juros mais altos desestimulam o consumo e reduzem a pressão sobre os preços.

Por que o Copom manteve a Selic em 15%?

O comunicado oficial traz três motivos principais:

  • Incertezas persistentes: o cenário econômico ainda está marcado por expectativas desancoradas e projeções de inflação elevadas.
  • Resiliência da atividade econômica: apesar dos juros altos, o PIB continua crescendo acima do potencial, o que indica que a economia ainda tem força.
  • Pressões no mercado de trabalho: o desemprego está em níveis confortáveis, mas os salários ainda têm tendência de alta, o que pode alimentar a inflação.

Em resumo, o Copom entende que “por período bastante prolongado” a Selic em 15% é o caminho mais seguro para que a inflação se ajuste à meta de 3%, com tolerância entre 1,5% e 4,5%.

Como a decisão se reflete no seu bolso

Para quem não está acostumado a acompanhar indicadores macro, a relação entre a Selic e o cotidiano pode parecer distante. Na prática, ela afeta três áreas principais:

  1. Financiamento de imóveis e veículos: as parcelas mensais permanecem altas. Quem está planejando comprar a casa própria ou um carro novo sente o peso dos juros.
  2. Cartão de crédito: as faturas continuam caras, principalmente se o pagamento for parcelado ou se houver saldo devedor.
  3. Investimentos: a renda fixa, como CDBs e Tesouro Direto, rende mais. Para quem tem dinheiro investido, a boa notícia é que o retorno está próximo da taxa Selic.

Se você tem dívidas, a mensagem é clara: quanto antes pagar, menos juros vai pagar. Se tem dinheiro guardado, pode aproveitar a taxa alta para buscar investimentos de baixo risco com rentabilidade atrativa.

O que os economistas esperam para o futuro?

Embora o Copom não tenha sinalizado cortes imediatos, a maioria das instituições financeiras acredita que o primeiro recuo da Selic deve acontecer em março, passando para 14,5% ao ano. Essa expectativa se baseia em duas premissas:

  • O IPCA de novembro, que ficou em 0,18%, foi o menor índice mensal dos últimos sete anos, indicando que a inflação está desacelerando.
  • O “hiato do produto” – diferença entre o potencial de crescimento da economia e o crescimento real – ainda está positivo, o que dá margem para uma política mais branda sem risco de acelerar a inflação.

Entretanto, o Copom deixou claro que continuará vigilante e que, se as projeções de inflação subirem novamente, pode retomar o ciclo de alta.

Entendendo a meta de inflação e a estratégia de “meta contínua”

Desde 2025 o Banco Central adotou a chamada meta contínua: a meta de 3% de inflação deve ser cumprida dentro de um intervalo de 1,5% a 4,5%. Essa flexibilidade permite que o BC não reaja de forma exagerada a variações pontuais. No entanto, a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 4,46%, ainda acima do teto de 4,5%? Na verdade, está bem próximo, o que reforça a necessidade de cautela.

Vale lembrar que a política de juros tem efeito retardado – de seis a 18 meses – porque leva tempo para que a mudança nos custos de crédito se reflita no consumo, produção e, por fim, nos preços.

Qual o caminho provável até 2027?

O mercado projeta a inflação oficial para os próximos anos da seguinte forma:

  • 2025: 4,40%
  • 2026: 4,16%
  • 2027: 3,80%
  • 2028: 3,50%

Mesmo em 2027, a projeção ainda está acima da meta de 3%. Isso indica que o BC pode precisar manter juros relativamente altos por mais alguns anos, ou, no mínimo, reduzir de forma gradual e cuidadosa.

O que você pode fazer agora?

Não adianta ficar só observando. Algumas atitudes podem ajudar a proteger seu orçamento e até melhorar seus rendimentos:

  • Reavalie dívidas: renegocie ou quite empréstimos com juros acima da Selic.
  • Priorize a reserva de emergência: com a taxa alta, a renda fixa rende bem e garante liquidez.
  • Planeje grandes compras: se não houver pressa, espere por possíveis cortes futuros para financiar.
  • Fique atento à inflação: acompanhe o IPCA mensal e ajuste seu orçamento de acordo com os itens que mais pesam (alimentação, energia, transporte).

Essas medidas simples podem fazer diferença no fim do mês, especialmente quando os juros permanecem elevados.

Conclusão

Manter a Selic em 15% por mais tempo pode parecer uma notícia ruim para quem tem dívidas, mas é parte de um plano maior: garantir que a inflação volte ao caminho da meta. Enquanto isso, quem tem dinheiro guardado pode aproveitar a alta rentabilidade da renda fixa.

O próximo passo do Copom ainda está em aberto, mas a maioria dos analistas acredita que o primeiro corte virá em março. Até lá, a estratégia é ficar atento, ajustar o orçamento e usar a taxa alta a seu favor, seja pagando dívidas ou investindo.

E você, já sentiu o impacto dos juros altos? Compartilhe sua experiência nos comentários – a gente aprende muito trocando ideias.