Introdução
Na manhã de terça‑feira, enquanto tomava um café com jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou bem claro: não vai ter privatização dos Correios enquanto ele estiver no cargo. A frase foi curta, mas o assunto já rende discussões que vão muito além de uma simples decisão política. Eu, que uso os Correios quase todos os meses para comprar livros, receber documentos e até enviar presentes, fiquei curioso para entender o que está em jogo.
O que está acontecendo?
Os números são assustadores. Em 2023 a estatal registrou prejuízo de R$ 633 milhões. Em 2024 esse valor saltou para R$ 2,6 bilhões. E, no acumulado de janeiro a setembro de 2025, o déficit já chegou a R$ 6 bilhões, com projeção de fechar o ano em torno de R$ 10 bilhões em vermelho. Para quem nunca viu esses relatórios, parece quase impossível que uma empresa que entrega milhões de pacotes por dia esteja tão endividada.
Por que a privatização é um tema tão delicado?
Privatizar uma empresa pública costuma ser visto como solução rápida para cortar custos e melhorar a eficiência. Mas, no caso dos Correios, a história tem outro tom. A instituição foi criada em 1969, antes da internet, para garantir que todo brasileiro, mesmo nas áreas mais remotas, tivesse acesso ao serviço postal. Essa missão social ainda faz parte do DNA da empresa, e muitos temem que um comprador privado priorize lucro em vez de cobertura nacional.
Gestão equivocada ou problema estrutural?
Lula apontou que parte da crise pode ser consequência de “gestão equivocada”. Ele citou a troca de presidentes da estatal, a chegada de novos ministros – como Esther Dweck e Rui Costa – e a necessidade de colocar “pessoas com muita expertise e responsabilidade”. Em outras palavras, a solução, segundo o presidente, passa mais por mudar a equipe que dirige a empresa do que por vendê‑la.
O plano de socorro que está sendo debatido
O Ministério da Fazenda, chefiado por Fernando Haddad, já tem um projeto na mesa: um empréstimo de até R$ 12 bilhões, garantido pelo Tesouro, para ajudar os Correios a honrar salários, fornecedores e, possivelmente, financiar a venda de imóveis que a empresa possui. A ideia é que o financiamento siga regras fiscais rígidas, com juros limitados a 120 % do CDI, para não sobrecarregar ainda mais o caixa da estatal.
Como isso afeta o nosso dia a dia?
Para quem usa os Correios, a principal preocupação é a continuidade do serviço. Se a empresa fechar ou reduzir rotas, quem mora em cidades do interior pode ficar sem entrega de correspondências, medicamentos ou documentos oficiais. Além disso, a crise gera insegurança para os funcionários – cerca de 15 mil podem ser impactados por demissões voluntárias previstas no plano de reestruturação. Isso, por sua vez, afeta o consumo, porque menos funcionários significa menos renda circulando nas comunidades onde eles vivem.
Parcerias e economia mista: o caminho do meio?
Lula deixou claro que não descarta parcerias ou modelos de economia mista. Isso quer dizer que o governo pode abrir capital da empresa para investidores estratégicos, mas sem perder o controle majoritário. Um exemplo seria criar uma joint‑venture com empresas de logística que já operam no mercado, como a Loggi ou a Jadlog, para melhorar a tecnologia e a entrega de última milha, sem transformar os Correios em um negócio totalmente privado.
O que a história nos ensina?
Olhar para trás ajuda a entender o peso da decisão. Nos anos 1990, o governo já tentou modernizar a estatal, mas sem grandes injeções de capital. O resultado foi uma série de cortes de custos que comprometeram a qualidade do serviço. Já em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (então presidente) criou a Estratégia de Modernização dos Correios, mas a falta de recursos acabou atrapalhando a execução. Hoje, o cenário é ainda mais complexo porque a concorrência digital – como a entrega de e‑mails e serviços de mensageiros instantâneos – diminuiu a demanda por correspondência tradicional.
Quais são os riscos de um empréstimo garantido pelo Tesouro?
- Endividamento do Estado: Se os Correios não conseguirem honrar o pagamento, o débito recairá sobre os cofres públicos, aumentando a dívida geral.
- Pressão fiscal: Para arcar com os juros, o governo pode precisar ajustar outros gastos ou buscar mais arrecadação, o que pode pesar sobre o contribuinte.
- Precedente perigoso: Outros órgãos podem começar a pedir resgates semelhantes, criando um ciclo de dependência de empréstimos.
Por outro lado, o empréstimo pode ser a ponte que falta para a estatal se reestruturar, vender ativos ociosos e, quem sabe, tornar‑se mais competitiva.
Visão de futuro: o que esperar nos próximos anos?
Se o governo conseguir alinhar a nova gestão, o aporte de recursos e parcerias estratégicas, os Correios podem virar um exemplo de empresa pública que combina missão social com eficiência de mercado. Imagine um Correio que use drones para entregas em áreas rurais, ou que tenha centros de coleta automatizados nas cidades. Essas inovações exigem investimento, mas também podem abrir novas fontes de receita, como serviços de logística para e‑commerce.
Conclusão
O recado de Lula é simples: enquanto ele for presidente, não vai ter privatização dos Correios. Isso não significa que a situação vai melhorar sozinha. O que está em jogo são decisões de gestão, um possível empréstimo de até R$ 12 bilhões e a busca por parcerias que tragam tecnologia e eficiência. Para nós, usuários, a esperança é que a empresa continue funcionando, que os empregos sejam preservados e que, quem sabe, possamos ver um Correio mais moderno nos próximos anos. Enquanto isso, seguimos acompanhando cada anúncio, porque, no fim das contas, o futuro dos Correios também é parte do futuro da nossa comunicação cotidiana.




