Radar Fiscal

Por que as mulheres ainda ganham menos? Desvendando os números do IBGE

Por que as mulheres ainda ganham menos? Desvendando os números do IBGE

Compartilhe esse artigo:

WhatsApp
Facebook
Threads
X
Telegram
LinkedIn

Um panorama que não surpreende, mas que ainda dói

Na última quarta‑feira, o IBGE lançou a nova edição da Síntese de Indicadores Sociais (SIS). Os números são claros: apesar de 2024 ter sido um ano recorde em termos de ocupação – 101,3 milhões de brasileiros trabalhando – a diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho continua quase inalterada desde 2012.

Se você acha que a questão é apenas questão de escolha ou de “capacidade”, vamos conversar. O estudo traz dados que apontam para barreiras estruturais, desde a divisão desigual das tarefas domésticas até a concentração das mulheres em empregos precários e informais.

O que os números realmente dizem?

  • Taxa de ocupação: 49,1% das mulheres estavam empregadas em 2024, contra 68,8% dos homens.
  • Salário médio: as mulheres recebem, em média, 78,6% do rendimento dos homens.
  • Setores mais críticos: em serviços e comércio a diferença cai para 63,8%.
  • Exceção: nas Forças Armadas e nas polícias, as mulheres chegam a ganhar mais, embora esses setores representem uma fatia muito pequena da economia.

Esses números não são apenas estatísticas; eles traduzem realidades que afetam o bolso, a carreira e a qualidade de vida de milhões de brasileiras.

Por que a diferença persiste?

Não é só questão de salário. O estudo destaca três fatores principais que mantêm a disparidade:

  1. Divisão de cuidados domésticos: a maior parte das tarefas de casa e do cuidado com filhos ainda recai sobre as mulheres, reduzindo o tempo disponível para buscar ou manter um emprego.
  2. Concentração em trabalhos informais: 9,4% das mulheres trabalham em domicílio sem carteira assinada, um cenário que traz menos proteção social e salários menores.
  3. Subutilização: 20,4% das mulheres desejam trabalhar mais horas, mas não conseguem – comparado a 12,8% dos homens.

Quando a gente coloca a lente na interseccionalidade, o quadro fica ainda mais preocupante: mulheres pretas e pardas enfrentam as maiores taxas de subutilização e pobreza.

Como isso impacta o seu dia a dia?

Talvez você esteja pensando: “E eu, que não estou no mercado de trabalho, como isso me afeta?” A resposta está na economia doméstica e nas políticas públicas.

  • Orçamento familiar: se a mulher da casa ganha menos, todo o orçamento fica apertado. Isso pode significar menos dinheiro para saúde, educação ou lazer.
  • Planejamento de carreira: a percepção de que “não vale a pena” pode desmotivar mulheres a buscar cargos de liderança ou áreas mais bem remuneradas.
  • Políticas de apoio: a falta de creches acessíveis, licenças parentais adequadas e incentivos à formalização do trabalho doméstico perpetua o ciclo.

O que os dados dizem sobre os idosos?

Um ponto positivo da pesquisa é o aumento da participação de pessoas com 60 anos ou mais no mercado de trabalho – 24,4% ocupados, a maior taxa da série histórica. Contudo, a desigualdade de gênero persiste também nessa faixa etária.

  • Homens idosos ocupados: 34,2% vs. mulheres idosos ocupados: 16,7%.
  • Rendimento médio: R$ 4 mil para homens vs. R$ 2,7 mil para mulheres.

Esses números mostram que, mesmo quando a idade deixa de ser um obstáculo, o gênero ainda determina oportunidades e salários.

O que pode mudar?

Não existe solução mágica, mas alguns caminhos são apontados por especialistas e por quem já tenta transformar a realidade:

  • Políticas de licença parental compartilhada: quando os pais também podem se ausentar, a carga sobre as mulheres diminui.
  • Investimento em creches e educação infantil: mais vagas gratuitas ou subsidiadas liberam tempo para que as mães busquem formação ou trabalho.
  • Incentivo à formalização: reduzir a burocracia e oferecer benefícios fiscais para quem contrata domésticas pode melhorar salários e direitos.
  • Programas de qualificação: cursos gratuitos ou com bolsa em áreas de alta demanda (tecnologia, saúde, energia) ajudam a romper o “teto de vidro”.

Além disso, empresas têm um papel crucial. Transparência salarial, metas de diversidade e mentoria interna são práticas que já mostram resultados positivos em companhias que as adotam.

Como você pode contribuir?

Mesmo que você não seja empregadora ou gestora de RH, pequenas atitudes podem fazer diferença:

  1. Questione diferenças salariais em entrevistas ou avaliações de desempenho.
  2. Divulgue vagas que valorizem a igualdade de gênero.
  3. Participe de grupos ou projetos que apoiem a inserção de mulheres em áreas sub-representadas (ex.: tecnologia, engenharia).
  4. Compartilhe informações – como este post – para que mais pessoas entendam a dimensão do problema.

Um olhar para o futuro

Se a tendência de ocupação geral continua alta, há esperança de que, com políticas adequadas, a diferença de gênero também diminua. Mas a história nos mostra que, sem pressão social e institucional, os números tendem a se estabilizar – como aconteceu nos últimos 12 anos.

Portanto, ficar atento, cobrar mudanças e apoiar iniciativas que promovam a igualdade são passos essenciais. Cada pequeno avanço conta, e a soma desses esforços pode transformar o mercado de trabalho brasileiro em um espaço mais justo para todas.

Vamos continuar acompanhando os dados do IBGE e, principalmente, transformar informação em ação.