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PIB do Brasil quase parado: o que isso significa para o nosso dia a dia?

PIB do Brasil quase parado: o que isso significa para o nosso dia a dia?

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Na última quinta‑feira (4), o IBGE divulgou os números do Produto Interno Bruto (PIB) para o terceiro trimestre de 2025. A boa‑nova – ou a má‑nova, dependendo de como você olha – foi que a economia cresceu apenas 0,1% em relação aos três meses anteriores. Em valores correntes, isso equivale a R$ 3,2 trilhões de atividade econômica. Parece pouco, né? Mas esse número carrega uma história que vale a pena destrinchar, principalmente se a gente quiser entender como isso afeta o nosso bolso, o emprego e até o futuro dos investimentos no Brasil.

O que significa “desaceleração”?

Desaceleração não quer dizer que a economia está encolhendo, mas que o ritmo de crescimento está mais lento. No segundo trimestre, o PIB subiu 0,3%; no terceiro, apenas 0,1%. A diferença pode parecer mínima, mas quando a gente coloca em perspectiva a sequência de trimestres, fica claro que a energia que impulsionava o crescimento está diminuindo. Essa perda de fôlego tem causas múltiplas: juros altos, crédito caro, mudanças no consumo das famílias e até questões externas como a demanda por commodities.

Juros altos e o efeito no crédito

Desde o início do ano, a taxa Selic está estacionada em 15% ao ano – o nível mais alto dos últimos 20 anos. Quando os juros sobem, o custo do crédito também aumenta. Para quem tem financiamento, cartão de crédito ou empréstimo, a parcela fica mais cara. E, como a gente costuma dizer, “dinheiro que vai para o pagamento de dívidas não vai para o consumo”. Isso explica, em parte, por que o consumo das famílias desacelerou, avançando apenas 0,1% no trimestre, contra 0,6% no trimestre anterior.

Consumo das famílias: o termômetro da confiança

Mesmo com o desemprego em patamares historicamente baixos, a confiança do consumidor parece ter dado uma freada. A analista do IBGE, Claudia Esterminio, apontou que “os juros altos comprometem diversas atividades, mas a massa salarial e o mercado de trabalho aquecido ajudam a mitigar esse impacto”. Em outras palavras, a gente tem emprego, mas o peso dos juros está tirando um pouco da disposição para gastar.

  • Consumo das famílias (trimestre a trimestre): +0,1%
  • Consumo das famílias (ano a ano): +0,4%

Esses números mostram que, embora a gente ainda esteja gastando mais do que no mesmo período de 2024, o ritmo está bem mais lento. E isso tem reflexos diretos nas lojas, restaurantes, serviços de streaming, tudo que depende do dinheiro que a gente coloca no bolso.

Setor de serviços: quem está sentindo a pressão?

O segmento de serviços – que inclui comércio, transporte, informação e comunicação – também perdeu impulso. No trimestre anterior, o crescimento era de 0,3%; agora, ficou em 0,1%. Algumas áreas, como transporte, armazenagem e correio, ainda mostraram boa performance (+2,7%). Já as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados tiveram queda de 1%.

  • Transporte, armazenagem e correio: +2,7%
  • Informação e comunicação: +1,5%
  • Atividades imobiliárias: +0,8%
  • Comércio: +0,4%
  • Administração pública, defesa, saúde, educação e seguridade social: +0,4%
  • Outras atividades de serviços: +0,2%
  • Finanças, seguros e serviços relacionados: -1%

Esses detalhes nos ajudam a perceber que a desaceleração não é homogênea. Enquanto o transporte ainda está em alta, os serviços financeiros sentem o efeito dos juros mais intensamente.

Indústria e agropecuária: ainda dão o tom

Ao contrário do que alguns esperavam, a indústria e a agropecuária mantiveram crescimento moderado: 0,8% e 0,4%, respectivamente. Esses setores são mais resilientes porque dependem menos do consumo interno e mais de demanda externa e de investimentos em produção.

Na prática, isso significa que a produção de máquinas, veículos e produtos químicos ainda está avançando, embora em ritmo contido. Para quem tem negócios ligados a fornecedores industriais, a notícia é de alívio. Já para quem trabalha em fábricas que dependem de consumo interno (como eletrodomésticos), o cenário pode ser mais desafiador.

Exportações em alta: o Brasil ainda tem força no exterior

Um ponto positivo que merece destaque é o salto nas exportações, que cresceram 3,3% no trimestre. Enquanto as importações tiveram alta tímida de 0,3%, a balança comercial ficou mais favorável. O IBGE atribui esse resultado ao desempenho da indústria extrativa (mineração) e ao aumento das exportações de soja e carne para a China.

Mesmo com o chamado “tarifaço”, alguns exportadores conseguiram redirecionar mercados e manter o ritmo de vendas. Isso mostra que, apesar das pressões internas, o Brasil ainda tem competitividade em commodities e em alguns produtos de alto valor agregado.

Investimentos: a volta por cima

Depois de uma retração de -2,2% no trimestre anterior, os investimentos voltaram a crescer, registrando alta de 0,9%. Esse número inclui tanto investimentos privados (como expansão de fábricas) quanto investimentos públicos (infraestrutura, obras de energia). O consumo do governo também subiu 1,3%, ajudando a sustentar a demanda interna.

Para quem acompanha o mercado de ações, esse dado pode ser um sinal de que os investidores começam a recuperar a confiança. Mais investimento significa mais projetos, mais empregos e, eventualmente, mais renda para a população.

Revisões de dados e o novo ano‑base

O IBGE está passando por uma transição importante: a atualização do ano‑base das contas nacionais de 2010 para 2021. Enquanto isso, os números trimestrais são provisórios. As revisões já mostraram que o crescimento anual do PIB em 2025 ficou um pouquinho acima do esperado: 1,8% ao invés de 1,7% nas projeções de mercado.

Essas revisões também alteraram a perspectiva para 2024, mantendo a projeção de 3,4% de crescimento, mas mudando a composição setorial. Em resumo, a economia parece estar se ajustando a uma nova realidade, onde alguns setores crescem mais rápido que outros.

O que a Secretaria de Política Econômica (SPE) está dizendo?

A SPE avaliou que a perda de fôlego no consumo das famílias ajudou a reduzir o ritmo de expansão do PIB. A mensagem oficial é que, apesar da desaceleração, a direção do crescimento continua favorável. A expectativa é de que o quarto trimestre registre um leve aumento nos serviços, o que poderia trazer um impulso final ao ano.

Além disso, a SPE destacou que a revisão dos dados do primeiro semestre mostrou um desempenho mais forte em atividades menos sensíveis ao ciclo econômico (como mineração e agropecuária), enquanto setores mais vulneráveis (serviços, consumo) mostraram resultados mais fracos.

Como tudo isso afeta o nosso cotidiano?

Para quem não vive de relatórios macroeconômicos, a pergunta que fica é: “E eu, como isso me impacta?”. A resposta está nos detalhes:

  • Juros altos: financiamento de carro, casa ou mesmo o crédito rotativo do cartão ficam mais caros. Se você tem dívidas, sinta o peso nos juros.
  • Consumo das famílias: lojas de varejo, restaurantes e serviços de streaming podem sentir queda nas vendas. Isso pode resultar em promoções, descontos ou até fechamento de estabelecimentos menos competitivos.
  • Investimentos: se você investe em renda fixa, os juros altos podem ser bons para a parte da sua carteira atrelada ao CDI. Já quem tem ações em setores de serviços pode observar volatilidade.
  • Exportações: o fortalecimento das exportações de soja e carne pode gerar mais empregos nas regiões produtoras e melhorar a balança comercial, o que, a longo prazo, ajuda a conter a inflação.

Em suma, a desaceleração do PIB traz um cenário de cautela, mas não de pânico. É um convite para revermos nossos hábitos financeiros, buscarmos oportunidades em setores que ainda mostram força e ficarmos atentos às políticas públicas que podem mudar o jogo.

Perspectivas para 2026 e além

Os economistas do mercado projetam um crescimento de 2,16% para 2026, depois de um salto de 3,4% em 2024. Essa desaceleração gradual é esperada, especialmente em um contexto de juros elevados e de um cenário global incerto. No entanto, há alguns fatores que podem mudar esse panorama:

  1. Política monetária: se a inflação começar a cair de forma consistente, o Banco Central pode reduzir a Selic, aliviando o crédito.
  2. Reformas estruturais: avançar em reformas tributárias e administrativa pode melhorar o ambiente de negócios.
  3. Inovação e tecnologia: setores como energia renovável, fintechs e agritech têm potencial de crescimento acima da média.
  4. Relações comerciais: a diversificação dos destinos de exportação, especialmente para a Ásia, pode reduzir a vulnerabilidade a choques externos.

Se algum desses pontos evoluir positivamente, a economia pode retomar um ritmo mais acelerado. Caso contrário, a tendência é de crescimento moderado, com foco em estabilidade.

Conclusão: olhar para os números com a cabeça fria

O PIB do Brasil quase parou no terceiro trimestre de 2025, mas isso não significa que a economia está em crise profunda. É, antes, um sinal de que o país está atravessando uma fase de ajuste: juros altos, crédito caro e consumo cauteloso. Setores como indústria, agropecuária e exportações ainda dão o tom, enquanto serviços e consumo das famílias sentem o aperto.

Para quem quer se proteger e aproveitar oportunidades, a dica é simples: mantenha as finanças pessoais organizadas, evite dívidas caras, diversifique investimentos e fique de olho nas políticas que podem mudar o cenário de juros. E, claro, acompanhe as notícias econômicas – elas ajudam a entender o que está acontecendo e a tomar decisões mais informadas.

Se você tem alguma experiência pessoal com esses temas – seja negociando um empréstimo, ajustando o orçamento familiar ou investindo em ações – compartilhe nos comentários. Trocar ideias ajuda a todos a entender melhor esse momento econômico que, embora complexo, afeta a vida de cada um de nós.