Na quinta‑feira (4), o IBGE divulgou os números do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2025. O resultado? Um crescimento tímido de apenas 0,1% em relação aos três meses anteriores. Em valores correntes, a economia movimentou R$ 3,2 trilhões. Parece pouco, mas por trás desses números há uma série de nuances que podem mudar a forma como você planeja suas finanças, seu negócio ou até mesmo a sua carreira.
Por que o PIB ficou tão próximo de zero?
Para entender a quase “estagnação” do PIB, é preciso olhar para três pilares principais: consumo das famílias, serviços e o cenário externo.
- Consumo das famílias: avançou só 0,1%, muito abaixo dos 0,6% registrados no trimestre anterior. Mesmo com o desemprego em níveis historicamente baixos, a alta da Selic (15% ao ano) encareceu o crédito e fez as famílias cortar gastos.
- Serviços: desacelerou de 0,3% para 0,1%. O setor ainda cresceu, mas perdeu força, especialmente nas áreas de financeiras, seguros e serviços relacionados.
- Exportações: foram o ponto positivo, crescendo 3,3%, impulsionadas por soja, carne e minério de ferro.
O que isso muda no dia a dia?
Se você pensa que o PIB é só um número para economistas, está enganado. Ele reflete, de forma agregada, o ritmo de geração de renda, de empregos e de oportunidades de consumo. Quando o crescimento desacelera, alguns efeitos práticos podem aparecer:
- Crédito mais caro: com a Selic alta, empréstimos, financiamentos e cartões de crédito ficam mais onerosos. Se você planeja comprar um carro ou reformar a casa, talvez sinta o peso dos juros.
- Empregos em setores sensíveis: áreas como varejo, restaurantes e turismo costumam sentir a queda no consumo mais rápido. Se você trabalha nesses segmentos, pode observar menor demanda.
- Investimentos mais cautelosos: empresas tendem a adiar projetos quando a demanda interna fraqueja. Isso pode significar menos vagas de emprego em setores de construção e tecnologia.
- Oportunidades no exterior: o aumento das exportações indica que setores ligados a commodities ainda têm espaço para crescer. Se você tem interesse em negócios de agronegócio ou mineração, pode ser um bom momento para observar oportunidades.
Setores que se destacaram
Mesmo com a desaceleração geral, alguns segmentos apresentaram desempenho acima da média:
- Indústria: +0,8% – principalmente nos segmentos de extrativismo e produção de bens de capital.
- Agropecuária: +0,4% – sustentado por exportações de soja e carne para a China.
- Investimentos: +0,9% – revertendo a retração de -2,2% no trimestre anterior, sinalizando confiança de empresários em projetos de longo prazo.
- Consumo do governo: +1,3% – gasto público ainda impulsiona a demanda interna.
O que os especialistas estão dizendo?
A analista do IBGE, Claudia Estermínio, destaca que “os juros altos comprometem diversas atividades, mas o aumento da massa salarial e o mercado de trabalho aquecido ajudam a mitigar esse impacto”. Em outras palavras, a força do emprego ainda dá um suporte ao consumo, mas não o suficiente para compensar o custo do crédito.
Já a coordenadora de Contas Nacionais, Rebeca Palis, aponta que o “tarifaço” nas exportações não foi tão devastador porque exportadores conseguiram redirecionar mercados. Isso demonstra a resiliência de setores exportadores, que podem ser menos vulneráveis a choques internos.
Como isso se compara com o cenário internacional?
Entre os países do G‑20 que já divulgaram seus números, o Brasil ficou na 11ª posição em variação trimestral, 8ª na comparação anual e 6ª no acumulado de quatro trimestres. Ou seja, ainda estamos entre os que mais crescem, mas a velocidade está diminuindo.
O que esperar para o próximo trimestre?
A Secretaria de Política Econômica (SPE) mantém a expectativa de crescimento positivo no quarto trimestre, especialmente se os serviços retomarem algum ritmo. Contudo, a tendência de desaceleração já se faz presente, o que pode reduzir o “carry‑over” – o impulso que o crescimento acumulado do ano dá ao próximo.
Os economistas de mercado projetam um avanço de 2,16% em 2025, depois de um forte 3,4% em 2024. Se a Selic permanecer alta, a pressão sobre o consumo das famílias pode continuar, a menos que haja algum alívio na política monetária ou um aumento significativo nos salários.
O que você pode fazer agora?
Mesmo que você não seja economista, há algumas atitudes práticas que ajudam a proteger seu orçamento e a aproveitar oportunidades:
- Reavalie dívidas: se o seu financiamento está com juros altos, procure renegociar ou amortizar parcelas.
- Foque em renda extra: trabalhos freelancers, venda de produtos artesanais ou consultorias podem compensar a desaceleração do consumo.
- Invista em conhecimento: cursos de gestão financeira ou de habilidades digitais aumentam sua empregabilidade em setores que ainda crescem.
- Observe o mercado externo: se você tem contato com exportação ou importação, o aumento das exportações pode abrir nichos de negócio.
Conclusão
O PIB de 0,1% no terceiro trimestre de 2025 não é motivo para pânico, mas é um sinal de alerta. Ele nos lembra que a economia brasileira está em um ponto de equilíbrio delicado, onde juros altos, consumo cauteloso e um cenário externo ainda favorável coexistem. Para quem tem finanças pessoais, negócios ou carreira em jogo, entender esses números ajuda a tomar decisões mais conscientes.
Fique de olho nos próximos indicadores – inflação, taxa de juros e dados de emprego – porque eles vão definir se a economia vai retomar o ritmo ou se vamos entrar em um período mais prolongado de baixa expansão.




