Um novo jeito de controlar o peso
Na segunda‑feira (15), o Banco Central da Argentina (BCRA) divulgou um conjunto de regras que vai mudar a forma como o peso se valoriza frente ao dólar. A grande novidade? A faixa de negociação da moeda será ajustada todo mês de acordo com a inflação oficial. Parece complicado, mas, na prática, é uma tentativa de dar mais previsibilidade ao mercado e, ao mesmo tempo, forçar a acumulação de reservas em dólares.
Por que ligar a cotação à inflação?
Até agora, o peso tinha um ajuste fixo de 1 % ao mês, número que ficou muito atrás da inflação de novembro (2,5 %). Essa defasagem gerava oscilações bruscas e aumentava a desconfiança dos investidores. Ao vincular o limite inferior e superior da faixa cambial à variação inflacionária, o BCRA quer que o câmbio reflita, de forma mais fiel, a realidade econômica interna. Assim, se a inflação subir, a faixa se amplia; se a inflação cair, a faixa se estreita.
Como funciona a nova faixa cambial
- Limite inferior e superior: são os valores mínimo e máximo que o peso pode alcançar em relação ao dólar dentro de um dia.
- Ajuste mensal: a cada início de mês, o BCRA consulta o índice de preços ao consumidor (IPC) e recalcula os limites.
- Objetivo: evitar picos de volatilidade que possam desestabilizar a economia e, ao mesmo tempo, sinalizar ao mercado que há um controle mais rígido.
Acúmulo de reservas: a meta dos 10 a 17 bilhões de dólares
Um dos pilares da estratégia de Javier Milei, presidente da Argentina, é reforçar as reservas internacionais. O BCRA pretende comprar até US$ 10 bilhões em dólares, com possibilidade de chegar a US$ 17 bilhões, dependendo dos fluxos do balanço de pagamentos. Reservas maiores dão ao país mais espaço para pagar dívidas externas, atrair investimentos e, sobretudo, garantir que o peso tenha um “colchão” em momentos de crise.
Expansão da base monetária
Outra medida anunciada é a ampliação da base monetária de 4,2 % para 4,8 % do PIB até o fim de 2026. Isso significa que o governo vai liberar mais pesos na economia, mas de forma planejada, acompanhando a expectativa de recuperação da demanda interna. O risco, claro, é que mais dinheiro em circulação possa pressionar a inflação, mas o ajuste da faixa cambial tenta neutralizar esse efeito.
O que o FMI tem a dizer
O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem sido um aliado nas últimas semanas. Em janeiro, a porta‑voz Julie Kozack elogiou a Argentina por abrir o acesso aos mercados e por buscar reforçar reservas. O FMI recomenda que o país continue acumulando dólares e avançando nas reformas estruturais para garantir um crescimento sustentável.
Reação dos mercados
Na prática, a notícia foi absorvida com relativa calma. O peso subiu 0,17 %, fechando em 1.438,5 por dólar, enquanto o índice S&P Merval avançou 1,13 %. Até os títulos soberanos, especialmente aqueles atrelados ao dólar, registraram alta. Essa reação positiva indica que investidores veem a medida como um passo rumo à estabilidade, embora ainda haja muita cautela.
Impactos para a gente, brasileiros
Você pode estar se perguntando: “E eu, que moro no Brasil, como isso me afeta?”. Primeiro, a Argentina é um dos principais parceiros comerciais do nosso país. Se o peso se estabilizar, as exportações brasileiras para a Argentina podem ganhar previsibilidade, facilitando o planejamento das empresas. Segundo, o controle da inflação argentina pode reduzir a pressão migratória de profissionais e investidores que buscam refúgio econômico no Brasil, o que pode trazer mais capital e talentos.
Riscos e desafios
Nem tudo são flores. A principal ameaça ainda é a própria inflação argentina, que tem sido historicamente alta. Se a inflação disparar, a faixa cambial pode se alargar demais, gerando incerteza. Além disso, a ampliação da base monetária pode, se mal calibrada, alimentar ainda mais a inflação. Por fim, a dependência de reservas externas deixa o país vulnerável a choques externos, como variações bruscas no preço das commodities.
Comparando com outras experiências
Vincular a taxa de câmbio à inflação não é algo totalmente novo. Países como a Turquia, nos últimos anos, tentaram mecanismos semelhantes, mas enfrentaram dificuldades quando a inflação saiu do controle. A diferença na Argentina é que a medida vem acompanhada de um plano de acumulação de reservas e de reformas estruturais, o que pode melhorar as chances de sucesso.
O que esperar nos próximos anos
Se tudo correr como planejado, a Argentina pode conseguir um ciclo de crescimento mais estável, com um PIB projetado para subir 3,5 % no terceiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024. Isso ainda é incerto, mas a combinação de controle cambial, reservas maiores e reformas pode criar um ambiente mais favorável para investimentos estrangeiros.
Conclusão
Em resumo, o novo regime cambial argentino é uma tentativa ousada de alinhar a moeda à realidade inflacionária, ao mesmo tempo em que busca reforçar reservas e abrir espaço para reformas. Para nós, brasileiros, isso pode significar mais estabilidade nas relações comerciais e menos volatilidade nos fluxos de capitais. Mas, como sempre, o caminho é cheio de obstáculos, e o sucesso dependerá da disciplina fiscal, da confiança dos investidores e da capacidade do governo de manter a inflação sob controle.
E você, o que acha dessa mudança? Acredita que o peso atrelado à inflação pode ser a solução ou vê mais riscos? Deixe seu comentário e vamos discutir juntos.




