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Motiva assume a Fernão Dias: o que muda para quem viaja entre SP e BH

Motiva assume a Fernão Dias: o que muda para quem viaja entre SP e BH

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Na última quinta‑feira, a Motiva saiu vitoriosa do leilão da rodovia Fernão Dias (BR‑381) e garantiu a concessão até 2040. Para quem usa a estrada todos os dias – motoristas, caminhoneiros, viajantes de fim de semana – isso traz novidades que vão além de um simples ajuste na tarifa de pedágio.

Como funciona o leilão?

O Ministério dos Transportes organizou um leilão simplificado na B3, em São Paulo. A regra era clara: quem oferecesse o maior deságio (desconto) sobre a tarifa básica de pedágio levaria a concessão. A Motiva bateu 17,05% de deságio, superando os 11,25% do Consórcio Infraestrutura MG (grupo EPR). A Arteris, concessionária atual, nem chegou a apresentar oferta.

O que está em jogo?

Além de reduzir a tarifa, a empresa tem a obrigação de investir R$ 14,8 bilhões nos próximos dez anos. O plano inclui:

  • 108 km de faixas adicionais;
  • 14 km de vias marginais;
  • 9 km de correções de traçado;
  • 29 passarelas e 17 interseções otimizadas;
  • 2 Pontos de Parada e Descanso (PPDs);
  • Passagens de fauna, áreas de escape e túneis.

Em números, a Fernão Dias tem 569 km, corta 33 municípios e movimenta cerca de 250 mil veículos por dia, representando 15 % do PIB nacional. Não é à toa que o governo quer modernizar a rodovia, que ainda sofre com acidentes, tombamentos de carretas e trechos de asfalto em mau estado.

Por que a tarifa pode cair?

O deságio funciona assim: se o governo fixa o pedágio em R$ 3,00 e a empresa oferece 10 % de desconto, ela se compromete a cobrar R$ 2,70. No caso da Motiva, o desconto de 17,05 % significa que o valor cobrado pode ficar em torno de R$ 2,49, dependendo das tarifas básicas que forem estabelecidas. Para o motorista, isso representa uma economia real, principalmente nos trechos mais longos.

Impactos práticos para quem usa a Fernão Dias

1. Menor custo no bolso. Se a tarifa cair, o gasto diário de quem faz a viagem de São Paulo a Belo Horizonte – ou vice‑versa – diminui. Em uma viagem de 570 km, a diferença pode chegar a R$ 10‑15 por carro.

2. Menos congestionamento. A duplicação de pistas e a criação de vias marginais prometem melhorar o fluxo, reduzindo engarrafamentos nos trechos críticos, como a região de Atibaia e o Vale do Paraíba.

3. Mais segurança. Os túneis e as correções de traçado vão eliminar curvas perigosas que são causa frequente de tombamentos. A expectativa é que os dias de interdição – que somaram 52 dias no último ano – caiam consideravelmente.

4. Conforto nas paradas. Os novos Pontos de Parada e Descanso (PPDs) vão oferecer áreas de serviço modernas, com opções de alimentação, abastecimento e até Wi‑Fi, algo ainda escasso em alguns trechos da rodovia.

Desafios e riscos

Nem tudo são flores. A Motiva ainda não tem histórico de gestão de rodovias tão extensas quanto a Fernão Dias. A empresa já atuou em aeroportos, mas a operação de uma via de alta complexidade traz desafios logísticos e de manutenção que podem atrasar obras.

Além disso, a redução da tarifa pode gerar menos receita para a própria concessionária, o que pode pressionar o cumprimento dos investimentos previstos. Se a arrecadação ficar abaixo do esperado, a Motiva poderá precisar recorrer a outras fontes de financiamento, como empréstimos ou parcerias público‑privadas.

O que a Arteris ganha com a mudança?

Embora tenha perdido a concessão, a Arteris receberá uma indenização de R$ 295 milhões. Esse dinheiro pode ser reinvestido em outras concessões que a empresa já administra, como a Anhanguera (SP‑330) e a Régis Bittencourt (BR‑116). Em termos de estratégia, a Arteris continua forte nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.

Contexto histórico da Fernão Dias

A rodovia foi inaugurada na década de 1950, ligando o centro industrial de São Paulo ao polo siderúrgico de Minas Gerais. Ao longo dos anos, recebeu diversas melhorias, mas a falta de investimentos consistentes acabou gerando um cenário de deterioração, sobretudo nos trechos mais sinuosos da Serra da Mantiqueira.

Em 2008, a Arteris assumiu a concessão e realizou obras importantes, como a duplicação de alguns trechos e a implantação de sistemas de monitoramento eletrônico. No entanto, o volume de tráfego cresceu mais rápido que a capacidade de manutenção, resultando em alta taxa de acidentes e interrupções.

O que esperar nos próximos anos?

Com o contrato até 2040, a Motiva tem um horizonte longo para cumprir metas. O plano de investimento de quase R$ 15 bilhões inclui:

  • Modernização do asfalto – R$ 5 bilhões só em recuperação e melhoria;
  • Construção de túneis para contornar áreas de risco;
  • Ampliação da capacidade de carga, o que pode atrair mais transportadoras.

Se tudo sair como planejado, a Fernão Dias pode voltar a ser referência em segurança e fluidez, beneficiando não só motoristas, mas toda a cadeia produtiva que depende do transporte terrestre entre São Paulo e Minas Gerais.

Como acompanhar as mudanças?

O Ministério dos Transportes e a própria Motiva prometem divulgar relatórios trimestrais de progresso. Além disso, aplicativos de navegação como Waze e Google Maps já costumam atualizar informações sobre obras e condições da via em tempo real. Vale ficar de olho nas notícias locais de municípios como Atibaia (SP) e Itabira (MG), que costumam ser os primeiros a sentir os efeitos das intervenções.

Em resumo, a vitória da Motiva no leilão traz a promessa de pedágios mais baratos, rodovia mais segura e investimentos que podem mudar a cara da Fernão Dias nos próximos 20 anos. Para quem usa a estrada diariamente, a esperança é que essas mudanças cheguem logo e façam a diferença no dia a dia.