Um novo capítulo na Fernão Dias
Na última quinta‑feira, às 14h, a B3 – a bolsa de valores de São Paulo – foi palco de um leilão que pode mudar o jeito que milhões de motoristas encaram a estrada que liga São Paulo a Belo Horizonte. A empresa Motiva saiu vencedora, oferecendo a menor tarifa de pedágio e prometendo investir quase R$ 15 bilhões nos próximos dez anos. O contrato vai até 2040, o que significa que as decisões tomadas hoje vão impactar a rodovia por quase duas décadas.
Por que esse leilão importa tanto?
A Fernão Dias (BR‑381) não é só mais uma rodovia. Com 569 km, ela corta 33 municípios, atravessa duas das maiores economias do país e responde por 15 % do PIB nacional. São cerca de 250 mil veículos por dia, incluindo caminhões, ônibus e carros de passeio. Quando algo dá errado – como os 52 dias de interdição no último ano por acidentes – o efeito ecoa em todo o comércio, no turismo e na logística das empresas.
Como a Motiva venceu
O critério foi simples: quem oferecer o maior deságio (desconto) sobre a tarifa básica de pedágio. A Motiva apresentou um deságio de 17,05 %, superando o Consórcio Infraestrutura MG (grupo EPR) que ofereceu 11,25 %. A Arteris, que administrava a rodovia desde 2008, não fez oferta de desconto.
Em números, se o pedágio fosse fixado em R$ 3, a Motiva aceita cobrar R$ 2,49 (17 % a menos). Esse cálculo parece pequeno, mas multiplicado pelos 250 mil veículos diários, gera uma economia significativa para motoristas e empresas.
O que vem por aí? Investimentos e obras
O edital da concessão inclui um plano ambicioso:
- 108 km de faixas adicionais – para reduzir congestionamentos;
- 14 km de vias marginais – facilitando o acesso a cidades ao longo do trajeto;
- 9 km de correções de traçado – diminuindo curvas perigosas;
- 29 passarelas – melhorando a segurança de pedestres;
- 17 interseções otimizadas – menos pontos de parada;
- 2 Pontos de Parada e Descanso (PPDs) – essenciais para caminhoneiros;
- Passagens de fauna e áreas de escape – atenção à preservação ambiental;
- Túneis – solução para trechos sinuosos que geram tombamentos.
Além disso, R$ 5 bilhões serão destinados apenas à recuperação e melhoria do asfalto, que tem se deteriorado rápido por causa do volume de tráfego.
O que isso significa para quem usa a Fernão Dias?
Para o motorista de carro, a expectativa é que o pedágio fique mais barato, ao menos nos primeiros anos do contrato, graças ao deságio concedido. Também há a promessa de menos engarrafamentos e menos interrupções por obras inesperadas.
Para o caminhoneiro, os novos PPDs e a melhoria das curvas podem reduzir drasticamente os tombamentos – que, segundo a secretaria de Transporte Rodoviário, foram responsáveis por 52 dias de interdição no último ano. Menos acidentes significa menos atrasos nas entregas e, em última análise, custos operacionais menores.
Para as cidades do interior, a ampliação de vias marginais e a construção de passarelas podem gerar mais dinamismo econômico, facilitando o acesso de moradores e turistas a comércios locais.
Desafios que ainda permanecem
Mesmo com a vitória da Motiva, alguns pontos críticos precisam de atenção:
- Fiscalização dos prazos: o investimento de R$ 14,8 bilhões tem que ser cumprido em 10 anos. A história das concessões no Brasil mostra que atrasos são frequentes.
- Equilíbrio tarifário: o deságio inicial pode ser reduzido ao longo do contrato. É importante que o governo mantenha mecanismos de controle para evitar aumentos abusivos.
- Impacto ambiental: obras como túneis e passagens de fauna exigem licenças rigorosas. A preservação da biodiversidade da região serrana deve ser prioridade.
Esses são pontos que o Ministério dos Transportes e a própria Motiva terão que monitorar de perto.
Um olhar para o futuro
O leilão da Fernão Dias faz parte de um movimento maior do governo: simplificar e modernizar concessões rodoviárias. Ao abrir a concorrência, o Estado busca melhorar a performance de rodovias que estavam estagnadas. Se a Motiva conseguir cumprir o plano, a Fernão Dias pode virar um modelo de como parcerias público‑privadas podem gerar benefícios reais para a população.
Para nós, que usamos a estrada seja para viagens de fim de semana, seja para transportar mercadorias, a mudança traz esperança de menos perrengues e mais conforto. Ainda há muito a ser observado, mas a promessa de investimentos massivos e de tarifas mais baixas já dá um alívio no bolso e na paciência de quem depende da rodovia diariamente.
Conclusão
A vitória da Motiva no leilão da Fernão Dias abre um novo capítulo para uma das rotas mais estratégicas do Brasil. Se tudo correr como planejado, nos próximos anos veremos menos engarrafamentos, pedágios mais justos e uma rodovia mais segura. Resta acompanhar se os prazos serão cumpridos e se a gestão privada realmente entregará o que prometeu. Enquanto isso, quem viaja entre São Paulo e Belo Horizonte pode começar a se preparar para uma experiência de estrada um pouco menos estressante.




