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México eleva tarifas: o que isso significa para o Brasil e para o seu bolso

México eleva tarifas: o que isso significa para o Brasil e para o seu bolso

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Na última quarta‑feira, o Senado mexicano aprovou um pacote de aumentos de tarifas que vai atingir mais de uma dúzia de países, entre eles a China e o Brasil. A proposta, que já havia passado pela Câmara dos Deputados, deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026. Para quem acompanha o comércio internacional, a notícia pode parecer mais um capítulo da disputa entre Washington e Pequim, mas, na prática, ela tem consequências bem próximas da gente.

Por que o México está subindo as tarifas?

O governo de Claudia Sheinbaum, presidente do Senado e também candidata à presidência, justificou a medida como parte do “Plano México”. A ideia central é reduzir a dependência de importações, estimular a indústria nacional e criar cadeias de suprimentos mais robustas. Em teoria, tarifas mais altas desencorajam a compra de produtos estrangeiros e dão espaço para que fábricas mexicanas cresçam.

Quais produtos e países estão na mira?

São 1.463 categorias de importação que vão sentir o efeito das novas tarifas. Entre os setores mais afetados estão:

  • Automotivo
  • Têxtil e vestuário
  • Plásticos
  • Eletrodomésticos
  • Calçados

Os países citados na lei são China, Brasil, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Rússia, Tailândia, Turquia e Taiwan. As tarifas variam: a maioria foi reduzida para faixas entre 20 % e 35 %, ficando em 50 % apenas em alguns casos extremos.

E o que isso tem a ver com o Brasil?

Para os exportadores brasileiros, a notícia traz um sinal de alerta. Produtos brasileiros que entram no mercado mexicano – como calçados, roupas, componentes automotivos e plásticos – podem ficar mais caros, o que reduz a competitividade frente a fornecedores de outros países que não sofrerão o mesmo aumento.

Se antes um par de sapatos feito no Brasil custava US$ 30 no México, com a tarifa de 20 % o preço sobe para US$ 36. Essa diferença pode ser decisiva para o consumidor final, que pode optar por marcas locais ou por produtos de países que ainda não foram taxados.

Impactos no consumidor mexicano (e, indiretamente, no brasileiro)

Um dos argumentos contrários à medida, levantado por senadores que se abstiveram, é o risco de alimentar a inflação. Quando os preços dos bens importados sobem, as famílias precisam desembolsar mais para o mesmo padrão de vida. Isso pode gerar um efeito cascata: empresas mexicanas que usam insumos importados – como tecidos chineses – também sentem o aumento de custo e repassam para o consumidor.

Para o Brasil, a consequência pode ser dupla. Primeiro, a queda nas exportações para o México reduz a receita de empresas brasileiras que dependem desse mercado. Segundo, a pressão inflacionária no México pode levar o governo americano a rever suas próprias políticas comerciais, o que, em um cenário mais amplo, pode mudar o fluxo de investimentos na região.

Como as empresas brasileiras podem se adaptar?

Não é hora de entrar em pânico, mas de analisar estratégias:

  • Diversificar mercados: buscar novos destinos na América Latina, Europa ou África para compensar a perda de competitividade no México.
  • Rever a cadeia de suprimentos: avaliar se há fornecedores mais baratos fora da China ou da Coreia do Sul que possam reduzir custos.
  • Investir em valor agregado: produtos com diferenciais de design, tecnologia ou sustentabilidade tendem a ser menos sensíveis a tarifas.
  • Negociar acordos bilaterais: acompanhar as negociações do T‑MEC e pressionar por cláusulas que protejam exportadores brasileiros.

O papel dos Estados Unidos nessa história

Não dá para ignorar a sombra dos EUA. A proposta mexicana foi apresentada sob forte pressão comercial de Washington, que tem usado o México como “porta de entrada” para produtos chineses nos seus próprios mercados. Donald Trump, ainda que não esteja mais na presidência, deixou um legado de políticas protecionistas que continuam influenciando os aliados norte‑americanos.

Mario Humberto Vázquez, do PAN, questionou se o México está realmente definindo sua política comercial ou simplesmente obedecendo a Washington. Essa dúvida alimenta um debate interno: até que ponto o país pode ser independente quando sua maior potência comercial impõe condições?

O que a China respondeu?

Logo após o anúncio da reforma, Pequim denunciou a medida como uma forma de “coerção” e avisou que avaliaria retaliações. O governo mexicano, por sua vez, propôs a criação de um grupo de trabalho para dialogar com a China, mas poucos detalhes foram divulgados. Essa troca de farpas deixa claro que a disputa ainda está longe de acabar.

Perspectivas para 2026

Se tudo acontecer como previsto, a partir de 1º de janeiro de 2026 o México terá tarifas mais altas em milhares de produtos. Para quem acompanha o comércio exterior, isso significa:

  1. Revisão de contratos de exportação e importação.
  2. Possível aumento nos preços ao consumidor mexicano.
  3. Um novo cenário de negociação para o T‑MEC, que pode incluir cláusulas de proteção contra tarifas excessivas.
  4. Um alerta para outros países que dependem do mercado mexicano, como o Brasil, sobre a necessidade de diversificar suas estratégias.

Em resumo, a decisão do Senado mexicano não é apenas um detalhe burocrático. Ela reflete a complexa teia de interesses entre México, Estados Unidos, China e, claro, Brasil. Para nós, que somos exportadores ou simplesmente consumidores de produtos importados, ficar atento a essas mudanças pode fazer a diferença entre perder oportunidades ou encontrar novos caminhos.

Conclusão

As tarifas são, em essência, um instrumento de política econômica. Quando usadas de forma estratégica, podem impulsionar a indústria local. Mas, se aplicadas sem um estudo profundo dos efeitos inflacionários e das cadeias de suprimentos, podem acabar prejudicando tanto o consumidor quanto os exportadores.

O que eu levo dessa notícia é a importância de olhar além das manchetes. O aumento de tarifas no México pode parecer distante, mas ele tem reflexos diretos nas relações comerciais que mantemos, nos preços que pagamos e nas oportunidades que temos de crescer em novos mercados. Fique de olho, converse com seus parceiros de negócios e, se possível, comece a planejar alternativas agora – antes que 2026 chegue.