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JBS fecha fábrica na Califórnia: o que isso significa para o mercado de carne nos EUA e para nós, consumidores

JBS fecha fábrica na Califórnia: o que isso significa para o mercado de carne nos EUA e para nós, consumidores

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Na última sexta‑feira (12), a JBS anunciou o fechamento permanente de uma das suas unidades de processamento de carne bovina nos arredores de Los Angeles. A fábrica, que pertence à Swift Beef Company e fica em Riverside, na Califórnia, deve encerrar as atividades em 2 de fevereiro, levando embora 374 empregos.

Por que a JBS tomou essa decisão?

A empresa afirma que o fechamento faz parte de uma “iniciativa estratégica” para otimizar negócios de produtos de valor agregado e simplificar a operação da rede. Em outras palavras, a JBS quer concentrar a produção em unidades que ofereçam maior margem e menor custo operacional.

Mas, se analisarmos o contexto, percebe‑se que a decisão também está ligada à atual escassez de gado nos Estados Unidos. O rebanho americano atingiu o menor nível em décadas, consequência de uma seca severa que afetou pastagens e da suspensão das importações de gado mexicano. Essa falta de animais elevou o preço do gado, pressionando as margens das empresas de carne.

O que muda para os consumidores?

Para quem compra carne no supermercado, o fechamento de uma unidade de processamento pode parecer um detalhe distante. No entanto, há alguns efeitos práticos que vale a pena entender:

  • Possível aumento de preço: com menos capacidade de processamento, a oferta de carne bovina pode ficar mais restrita, o que tende a subir os preços.
  • Alteração no mix de produtos: a JBS está focando em produtos de valor agregado – como carnes já temperadas, porções prontas e cortes premium – que costumam ter margem maior, mas também preço mais alto.
  • Impacto na logística: a produção será transferida para outras unidades da empresa, o que pode gerar mudanças nos prazos de entrega e na disponibilidade regional.

O que acontece com os 374 trabalhadores?

A JBS informou que os funcionários terão a oportunidade de concorrer a vagas em outras fábricas do grupo. Ainda assim, o processo de realocação pode levar tempo e nem todos conseguirão manter o emprego. Em situações como essa, costuma‑se observar um aumento nas buscas por recolocação e, às vezes, até a abertura de pequenas empresas locais que absorvem parte da mão‑de‑obra.

Como esse fechamento se encaixa no panorama da indústria de carne nos EUA?

Não é a primeira vez que uma grande empresa de proteína animal decide fechar unidades nos EUA. Em janeiro, a Tyson Foods anunciou o encerramento de uma importante planta de abate em Nebraska, que empregava cerca de 3.200 pessoas. Esses movimentos refletem duas tendências:

  1. Consolidação de operações: as gigantes do setor buscam centralizar a produção em locais mais eficientes, reduzindo custos fixos.
  2. Pressão sobre margens: a escassez de gado eleva o custo de matéria‑prima, forçando as empresas a repensar onde e como produzem.

Além disso, o presidente dos EUA, Donald Trump, tem usado o preço da carne como tema de campanha, acusando os frigoríficos de manipular valores e prometendo medidas para baixar o preço ao consumidor. Embora a política possa influenciar a regulação, a realidade do mercado ainda depende muito da oferta de gado e da eficiência das cadeias de produção.

O que isso significa para o Brasil?

Para nós, que acompanhamos o desempenho da JBS – empresa brasileira de origem – o fechamento de uma fábrica nos EUA traz algumas lições:

  • Importância da diversificação geográfica: ter unidades espalhadas pelo mundo ajuda a mitigar riscos regionais, como secas ou políticas protecionistas.
  • Foco em produtos de maior valor: a estratégia de investir em carnes prontas e temperadas pode ser uma oportunidade para exportadores brasileiros, que já têm tradição em cortes premium.
  • Vigilância sobre custos de matéria‑prima: a volatilidade dos preços do gado nos EUA pode impactar contratos de fornecimento e, consequentemente, a rentabilidade das empresas brasileiras que exportam para o mercado norte‑americano.

O futuro da cadeia de suprimentos de carne

Algumas tendências já estavam em curso antes da crise de oferta, e agora ganham ainda mais força:

“A digitalização da produção, o uso de inteligência artificial para otimizar o manejo de rebanhos e a adoção de proteínas alternativas são caminhos que podem reduzir a dependência de fatores climáticos e de importação.”

Empresas que investirem em tecnologias como rastreamento de animais, monitoramento de pastagens por satélite e automação de linhas de corte tendem a ser mais resilientes. Também vemos um crescimento da demanda por alternativas à carne bovina – como proteína de soja, ervilha e até carne cultivada em laboratório – que podem aliviar a pressão sobre o gado tradicional.

O que você pode fazer agora?

Se a alta do preço da carne está afetando o seu bolso, aqui vão algumas dicas práticas:

  1. Planeje suas compras: aproveite promoções de cortes menos nobres e use técnicas de cozimento lento (como panela de pressão) para melhorar a maciez.
  2. Explore proteínas alternativas: feijão, lentilha, grão‑de‑bico e até carne de soja podem ser ótimas substitutas em refeições do dia a dia.
  3. Compre direto de açougues locais: muitas vezes, o preço por quilo é mais competitivo e a qualidade, superior.
  4. Reduza o desperdício: planeje as porções e congele sobras para evitar que a carne estrague.

Conclusão

O fechamento da fábrica da JBS em Riverside não é apenas mais um número de demissões; ele revela como a escassez de gado, os custos de produção e a estratégia corporativa estão interligados. Para os consumidores, pode significar preços mais altos e uma mudança no mix de produtos disponíveis. Para a própria JBS e outras gigantes do setor, representa um passo rumo à eficiência e à concentração em produtos de maior margem.

Enquanto isso, nós, como consumidores e observadores do mercado, devemos ficar atentos às tendências de preço, buscar alternativas e entender que decisões corporativas têm reflexos diretos no nosso dia a dia. Afinal, a carne que chega ao nosso prato passa por uma cadeia complexa, e cada elo – desde o pasto até a prateleira – pode ser impactado por fatores que, à primeira vista, parecem distantes.