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Isenção do IR até R$ 5 mil: o que muda no seu bolso e no futuro da tributação no Brasil

Isenção do IR até R$ 5 mil: o que muda no seu bolso e no futuro da tributação no Brasil

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Quando o presidente Lula sancionou a nova lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil por mês, a notícia correu rápido: menos gente vai precisar declarar, o governo vai arrecadar menos e, ao mesmo tempo, o Brasil se afasta ainda mais do padrão dos países desenvolvidos. Mas, na prática, o que isso significa para a gente, que paga contas, tenta economizar e ainda sonha com um futuro mais justo?

O que mudou exatamente?

Até agora, quem recebia até R$ 1,903,98 por mês estava isento de declarar. A nova regra eleva esse teto para R$ 5 mil, com validade a partir de 2026. Além disso, quem ganha até R$ 7,35 mil terá a alíquota reduzida. Por outro lado, quem tem renda acima de R$ 50 mil mensais – incluindo salários, aluguéis, lucros e dividendos – passará a pagar 10% sobre tudo.

Quantas pessoas vão deixar de declarar?

Segundo a equipe econômica do Ministério da Fazenda, a mudança deve retirar cerca de 10 milhões de contribuintes do rol de declarantes. Em números absolutos, isso significa que dos 45,64 milhões de pessoas que declararam IR em 2025, apenas cerca de 35 milhões farão a declaração em 2026. Em termos de participação na população economicamente ativa (PEA), que hoje é de 110,7 milhões, a taxa de contribuintes cairá de 41% para algo em torno de 31%.

Por que isso importa?

  • Alívio imediato no bolso: quem está na faixa de R$ 5 mil a R$ 7,35 mil verá menos imposto a pagar ou até nenhum, o que pode representar algumas centenas de reais a mais por mês.
  • Redução da arrecadação: menos declarantes significa menos imposto pago ao Estado, o que pode pressionar a conta pública, principalmente em um ano eleitoral.
  • Desigualdade tributária: a carga de impostos no Brasil ainda recai majoritariamente sobre o consumo (ICMS, IPI, etc.), que afeta mais quem tem menor renda.

Brasil versus países desenvolvidos

Para entender o que está acontecendo, vale comparar com alguns países avançados, usando dados da PwC de 2025:

  • Estados Unidos: 140,63 milhões de contribuintes individuais, representando 81% da força de trabalho.
  • Reino Unido: quase 100% da população economicamente ativa paga IR.
  • Alemanha: cerca de 99% da força de trabalho paga imposto.

No Brasil, ainda que a taxa de informalidade seja alta, a proporção de quem paga IR está muito abaixo – menos de 40% da PEA. Isso não é só um número; reflete como a tributação está concentrada em cima dos bens de consumo, enquanto a tributação sobre renda e patrimônio – onde os mais ricos concentram seus ganhos – permanece baixa.

O que os especialistas dizem

Economistas apontam que, ao invés de isentar mais gente, o país poderia buscar uma maior progressividade, ou seja, cobrar mais dos que têm renda alta. Uma das sugestões recorrentes é taxar lucros e dividendos com alíquotas mais altas. A PwC estima que isso geraria mais de R$ 100 bilhões por ano, recursos que poderiam ser usados para reduzir impostos sobre consumo ou sobre empresas (IRPJ e CSLL), aliviando a carga dos mais pobres.

O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) reforça que, apesar da isenção ser uma conquista para a classe média, ainda há brechas que favorecem os mais ricos – como a isenção de dividendos e a tributação reduzida do agronegócio. Enquanto isso, a maioria da população paga mais impostos indiretos, que são regressivos.

Como isso afeta o seu planejamento financeiro?

Se você está dentro da nova faixa de isenção, pode aproveitar para:

  • Reavaliar o orçamento: use o dinheiro que antes ia para o IR para quitar dívidas ou montar uma reserva de emergência.
  • Investir: com mais recursos disponíveis, vale considerar aplicações de baixo risco ou até começar a investir em renda fixa.
  • Planejar a aposentadoria: a isenção pode abrir espaço para aumentar a contribuição ao plano de previdência privada.

Se você ganha acima de R$ 50 mil por mês, a nova alíquota de 10% pode ser um ponto de partida para rever a estrutura de remuneração, pensar em planejamento tributário e, quem sabe, buscar formas de otimizar a carga fiscal dentro da legalidade.

O que vem pela frente?

O Ministério da Fazenda já sinalizou que a reforma do IR ainda tem muito a ser feita e que mudanças mais profundas devem acontecer no início de cada governo. Enquanto isso, a pressão por maior progressividade cresce, especialmente porque a desigualdade de renda no Brasil permanece alta.

Em resumo, a isenção até R$ 5 mil traz alívio para milhões de brasileiros, mas também evidencia um ponto frágil do nosso sistema tributário: a baixa participação dos trabalhadores formais na arrecadação de IR. Se o objetivo é tornar o Brasil mais parecido com os países desenvolvidos, será preciso equilibrar a balança – aumentar a tributação sobre quem tem mais e reduzir a carga sobre quem tem menos.

Conclusão

Para quem vive no dia a dia apertado, a notícia pode ser recebida como um suspiro de alívio. Para quem acompanha a política fiscal, é um lembrete de que a reforma tributária ainda tem um longo caminho. O que importa agora é usar o benefício da isenção com inteligência, enquanto acompanhamos os debates que vão definir como será a tributação no Brasil nos próximos anos.