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Henrique Braun: O brasileiro que vai comandar a Coca‑Cola no mundo

Henrique Braun: O brasileiro que vai comandar a Coca‑Cola no mundo

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Quando a gente ouve falar de CEO de gigantes globais, a primeira imagem que vem à cabeça costuma ser a de alguém que nasceu e cresceu no mesmo país da sede da empresa. Mas a história de Henrique Braun quebra esse roteiro. Nascido na Califórnia, criado no Brasil, formado em agronomia na UFRRJ e com passagens por universidades dos EUA, Braun está prestes a assumir a presidência mundial da Coca‑Cola em 31 de março de 2026. Para quem acompanha o mercado de bebidas, essa nomeação tem mais camadas do que parece à primeira vista.

De trainee a líder global

Henrique Braun entrou na Coca‑Cola como trainee em 1996, na área de Engenharia Global, em Atlanta. Na época, ele ainda era um jovem recém‑formado, cheio de curiosidade e vontade de entender como funcionava a cadeia de produção de uma das marcas mais icônicas do planeta. O que começou como um programa de desenvolvimento acabou se transformando em quase três décadas de experiências em quase todos os cantos da empresa.

  • Operações e cadeia de suprimentos: passou por unidades de produção nos EUA, Europa e Ásia, aprendendo a lidar com desafios logísticos que vão desde a escassez de água até a complexidade de distribuir milhões de garrafas por dia.
  • Marketing e inovação: esteve à frente de campanhas que introduziram versões sem açúcar e bebidas premium, acompanhando a mudança de hábitos dos consumidores.
  • Gestão de engarrafadores: liderou a relação com parceiros locais, um ponto crucial para o modelo de negócios da Coca‑Cola, que depende de redes de engarrafadores independentes em mais de 200 países.

Passagens marcantes

Alguns capítulos da trajetória de Braun merecem destaque especial porque mostram como ele soube adaptar estratégias a contextos muito diferentes.

Grande China e Coreia do Sul (2013‑2016)

Na época, a Coca‑Cola enfrentava forte concorrência de marcas locais e de bebidas à base de chá. Braun conduziu a adaptação do portfólio, introduzindo sabores regionais e reforçando a presença em canais digitais. O resultado foi um crescimento de vendas que ajudou a empresa a recuperar terreno em um dos maiores mercados do mundo.

Coca‑Cola Brasil (2016‑2020)

Voltar ao Brasil para presidir a operação local foi, para Braun, um “casa‑do‑coração”. Ele liderou a expansão da linha de produtos zero açúcar e investiu em campanhas que conectavam a marca à cultura brasileira, como o patrocínio de eventos de música e esportes. Além disso, reforçou a parceria com engarrafadores, buscando maior eficiência na distribuição.

América Latina (2020‑2022)

Como presidente da Coca‑Cola América Latina, Braun coordenou estratégias em 12 países, lidando com realidades econômicas tão distintas quanto a da Argentina e do México. Ele enfatizou a importância de entender as preferências locais e de adaptar o portfólio, ao mesmo tempo em que buscava sinergias regionais para reduzir custos.

Por que a escolha faz sentido agora?

O conselho da Coca‑Cola não escolheu Braun ao acaso. O mercado de bebidas está passando por uma revolução: consumidores buscam menos açúcar, mais opções saudáveis e experiências premium. Além disso, a cadeia de suprimentos ainda sente os efeitos de crises globais, como a pandemia e a guerra na Ucrânia, que afetaram a disponibilidade de ingredientes e a logística.

Como COO (Chief Operating Officer) desde o início de 2025, Braun já estava à frente de todas as operações globais, o que lhe deu uma visão panorâmica dos desafios e oportunidades. Ele também tem histórico de trabalhar próximo aos engarrafadores – parceiros que são, na prática, a extensão da própria Coca‑Cola em cada mercado. Essa experiência prática pode ser a chave para desbloquear o “crescimento futuro” que ele menciona em seu comunicado.

O que isso significa para nós, brasileiros?

Para quem acompanha o cenário corporativo nacional, a nomeação de um brasileiro para o cargo mais alto da Coca‑Cola tem um peso simbólico. Não é apenas um caso de “um cara nosso chegou lá”. É uma prova de que o mercado brasileiro está produzindo líderes capazes de gerir negócios globais. Isso pode inspirar jovens profissionais a acreditar que, com a formação certa e experiência internacional, eles também podem ocupar posições de destaque.

Além do aspecto inspiracional, há implicações mais concretas:

  • Investimento no Brasil: Braun tem histórico de reforçar a presença da marca no país. É provável que vejamos novos lançamentos de produtos adaptados ao paladar brasileiro, bem como investimentos em fábricas e centros de distribuição.
  • Parcerias com engarrafadores: A ênfase na colaboração pode trazer acordos mais vantajosos para empresas brasileiras que atuam como engarrafadoras, melhorando margens e eficiência.
  • Inovação sustentável: Braun tem defendido iniciativas de redução de água e uso de embalagens recicláveis. Isso pode acelerar projetos de sustentabilidade que já estavam em pauta no Brasil.

Desafios que o novo CEO terá que enfrentar

Nem tudo são flores. Braun herda uma empresa que, apesar de ter registrado alta de quase 63% nas ações desde 2017, enfrenta pressões intensas:

  1. Concorrência de marcas locais: no Brasil, por exemplo, a Ambev tem investido pesado em bebidas não alcoólicas, ganhando espaço em prateleiras.
  2. Regulamentação crescente: governos ao redor do mundo estão impondo impostos sobre açúcar e exigindo mais transparência nas cadeias de produção.
  3. Mudança de consumo: a geração Z prefere bebidas com menos açúcar e mais ingredientes naturais, o que exige constante renovação do portfólio.

Para lidar com isso, Braun precisará equilibrar a tradição da marca – aquele sabor clássico que todo mundo conhece – com a necessidade de inovação constante. Ele já sinalizou que continuará a aposta em bebidas sem açúcar, produtos premium e até em categorias adjacentes, como café e energéticos.

Um olhar para o futuro

Se tudo correr como ele espera, a próxima década pode ser marcada por:

  • Expansão de linhas de produtos “health‑focused”, como águas com infusão de frutas e chás funcionais.
  • Maior integração digital, com plataformas de e‑commerce e marketing baseado em dados.
  • Parcerias estratégicas com startups de tecnologia alimentar, trazendo inovação mais ágil.

Claro, o futuro é incerto, mas a combinação de experiência global, raízes brasileiras e foco em colaboração coloca Braun em uma posição privilegiada para conduzir a Coca‑Cola pelos próximos desafios.

Conclusão

Henrique Braun não é apenas o próximo CEO da Coca‑Cola. Ele representa a ponte entre o passado da empresa – aquele “sabor de infância” que todos conhecemos – e o futuro, que exige adaptação, sustentabilidade e inovação. Para nós, brasileiros, ele simboliza que o talento nacional pode, sim, ocupar o topo de corporações globais. Agora, resta acompanhar como ele vai transformar a estratégia da Coca‑Cola e, quem sabe, inspirar a próxima geração de líderes a sonhar grande.