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Guerra dos Gigantes: Netflix, Paramount e a disputa pela Warner que até o Trump comentou

Guerra dos Gigantes: Netflix, Paramount e a disputa pela Warner que até o Trump comentou

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Quando a gente pensa em Hollywood, normalmente imagina filmes, estrelas e tapetes vermelhos. Mas, nos últimos dias, o que tem dominado as manchetes não são estreias, e sim uma batalha de alto risco envolvendo cifras que chegam a três vezes o PIB de alguns países. A Warner Bros. Discovery está no centro de um duelo entre a Netflix e a Paramount, e até o ex‑presidente dos EUA, Donald Trump, entrou na conversa.

## O que está acontecendo?

A Warner, que reúne marcas como HBO, Warner Bros. Pictures e a recém‑criada plataforma Max, recebeu duas propostas muito diferentes:

* **Netflix** – na sexta‑feira passada, anunciou um acordo de cerca de US$ 72 bilhões para comprar os ativos de TV, cinema e streaming da Warner. A ideia seria criar um colosso com um catálogo gigantesco, incluindo séries premiadas da HBO e os clássicos da Warner.
* **Paramount** – nesta segunda‑feira, fez uma **oferta hostil** de US$ 108,4 bilhões, ou seja, um lance direto aos acionistas, ignorando a diretoria da Warner. O preço por ação é de US$ 30, bem acima dos US$ 28 oferecidos pela Netflix.

Essas duas propostas têm tudo a ver com a corrida para dominar o mercado de streaming, que já está concentrado nas mãos de poucos players. Enquanto a Netflix quer ampliar seu catálogo e reforçar a presença nos lares, a Paramount tenta se reposicionar depois de resultados de bilheteria irregulares nos últimos anos.

## Oferta hostil: o que significa na prática?

Uma **oferta hostil** não é apenas um termo de negócios chique; é uma estratégia agressiva. Em vez de negociar amigavelmente com o conselho da empresa alvo, quem faz a proposta vai direto aos acionistas, oferecendo um preço atrativo para que eles aceitem vender suas ações. Essa tática costuma ser usada quando a diretoria da empresa alvo resiste à venda.

No caso da Paramount, o objetivo é duplo:

– **Pressionar a Warner** a reconsiderar a negociação com a Netflix.
– **Mostrar aos reguladores** que há concorrência real, tentando dificultar a aprovação de uma fusão que deixaria a Netflix com mais de 40 % do mercado global de streaming.

## Por que o Trump se manifestou?

Donald Trump, que ainda tem influência nas discussões políticas dos EUA, apareceu em uma mesa‑redonda na Casa Branca e deixou claro que **nem a Netflix nem a Paramount são suas “grandes amigas”**. Ele ressaltou que vai acompanhar de perto o processo de aprovação do Departamento de Justiça (DOJ), que avalia se a fusão viola leis antitruste.

Para quem não acompanha, o **antitruste** é um conjunto de regras que impede a formação de monopólios ou práticas que prejudiquem a concorrência. Se a fusão entre Netflix e Warner fosse aprovada, a empresa resultante poderia controlar quase metade do mercado de streaming, o que levanta bandeiras vermelhas nos EUA e na Europa.

## O que isso significa para nós, consumidores?

### 1. Possível aumento de preços

Com menos concorrentes, as plataformas podem ter mais liberdade para subir os planos de assinatura. Já vimos isso acontecer em outros setores, como telefonia móvel.

### 2. Menos diversidade de conteúdo

A Netflix tem um histórico de produzir séries originais, mas também costuma **priorizar lançamentos diretos na plataforma**, reduzindo a exibição nos cinemas. Se a Warner cair nas mãos da Netflix, pode haver menos filmes de grande orçamento nos cinemas, impactando a experiência de quem ainda curte a telona.

### 3. Risco de demissões

Sindicato de roteiristas e atores já alertaram que a fusão pode gerar **cortes de empregos** e redução de salários, já que a empresa resultante buscará otimizar custos.

## Quem ganha e quem perde?

### Netflix (ganhadora potencial)
– **Catálogo imenso**: HBO, Warner Bros., DC Comics – tudo em um só lugar.
– **Poder de barganha**: maior controle sobre licenças e produção de conteúdo.
– **Risco**: se os reguladores bloquearem a fusão, a Netflix terá investido tempo e recursos em um acordo que não se concretiza.

### Paramount (desafiadora)
– **Visibilidade**: ao fazer a oferta mais alta, demonstra que ainda tem capital e vontade de crescer.
– **Pressão regulatória**: ao apresentar uma alternativa, pode ganhar apoio dos órgãos antitruste.
– **Desafio**: precisa financiar a dívida da Warner e ainda provar que pode integrar as duas empresas de forma eficiente.

### Warner Bros. Discovery (alvo)
– **Valorização**: os acionistas recebem ofertas acima do preço de mercado.
– **Incerteza**: a decisão final pode levar meses, enquanto a empresa lida com dívidas e pressão de resultados.

## Como tudo isso pode se desenrolar?

1. **Análise do DOJ** – O conselheiro econômico da Casa Branca já avisou que a revisão pode levar um “bom tempo”. Se o órgão entender que a fusão reduz a competição, pode impor condições (como a venda de ativos) ou bloquear totalmente.
2. **Reação dos acionistas** – Se a Paramount conseguir convencer a maioria dos acionistas a aceitar a oferta de US$ 30 por ação, a Warner pode mudar de rumo.
3. **Jogos políticos** – Com o envolvimento de Trump e o clima político polarizado, o debate pode se estender nos congressos e até em tribunais.
4. **Impacto global** – Autoridades europeias já mostraram preocupação. Uma decisão nos EUA pode influenciar regulações em outros continentes.

## O que eu, como consumidor, posso fazer?

– **Ficar atento**: acompanhe as notícias sobre a fusão. Mudanças nos termos de serviço ou preços podem surgir rapidamente.
– **Diversificar**: se você tem assinatura de mais de uma plataforma, pode negociar melhor ou mudar de serviço caso os preços subam.
– **Apoiar produções locais**: o medo de concentração pode ser contrabalançado com o apoio a produtoras independentes, que continuam trazendo diversidade ao cenário audiovisual.

## Conclusão

A disputa pela Warner Bros. Discovery não é só mais um capítulo de drama corporativo; ela tem reflexos reais no nosso dia a dia, desde o preço da assinatura de streaming até a quantidade de filmes que ainda vemos nas salas de cinema. A presença de figuras como Donald Trump demonstra como o entretenimento se entrelaça com política e economia em escala global.

Seja qual for o desfecho – Netflix absorvendo a Warner, Paramount assumindo o controle, ou um bloqueio regulatório que mantém tudo como está – o importante é lembrar que, por trás dos números bilionários, há consumidores, criadores e trabalhadores que podem ser impactados de maneiras muito concretas.

Então, da próxima vez que você apertar o play no seu serviço de streaming favorito, pense que, talvez, aquela escolha esteja ligada a uma guerra de titãs que envolve não só Hollywood, mas também a Casa Branca.

*Continue acompanhando o blog para mais análises sobre o mundo dos negócios e entretenimento.*