Você já reparou naquele adesivo colorido na porta da geladeira que indica se o aparelho é “A+++” ou “D”? Essa etiqueta, que parece só mais um detalhe de marketing, na verdade tem um papel crucial no seu bolso e no planeta. A partir de 2026 o Inmetro vai simplificar esse selo, reduzindo de seis categorias para apenas três: A, B e C. No papo de hoje, vamos entender por que essa mudança foi feita, o que ela significa para quem compra um refrigerador novo e como isso se encaixa no cenário global de eficiência energética.
Por que falamos tanto de eficiência energética?
Antes de mergulhar nas novas regras, vale lembrar o que significa “eficiência energética”. Em termos simples, é a capacidade de um equipamento fazer o mesmo trabalho – no caso, manter alimentos frescos – consumindo menos energia elétrica. Menos energia = conta de luz menor + menos pressão sobre a geração de energia, que ainda depende muito de fontes poluentes no Brasil.
O Inmetro, órgão responsável por medir e certificar essa eficiência, usa um cálculo que leva em conta a capacidade interna da geladeira, o tamanho do freezer, a tecnologia do compressor e até o isolamento térmico. Quando o aparelho atinge um determinado índice (por exemplo, 85,5% de eficiência para o selo A), ele recebe a classificação correspondente.
Como era o selo antes de 2026?
Até agora, o selo tinha seis faixas: A+++, A++, A+, A, B, C, D, E. Essa escala, criada em 2006 e atualizada em 2021, acabou ficando confusa para o consumidor médio. Imagine entrar numa loja e ver geladeiras com rótulos que vão de “A+++” a “E” – é fácil se perder e acabar comprando um modelo menos eficiente sem perceber.
Além da confusão visual, o Brasil ainda estava atrás de mercados como a União Europeia, que já adotou um sistema de três categorias (A, B, C) há alguns anos. Essa diferença fez o Inmetro repensar a forma de comunicar a eficiência ao público.
O que muda exatamente em 2026?
- Consolidação das categorias: os selos A+++, A++ passam a ser apenas “A”.
- Reagrupamento intermediário: os antigos A+ e A viram “B”.
- Reclassificação final: o antigo B torna‑se “C”.
- Eliminação dos níveis D e E: esses aparelhos deixarão de ser comercializados a partir de 2025.
Em resumo, a partir de 2026 você verá nas geladeiras apenas três letras, facilitando a comparação rápida na hora da compra.
Qual o objetivo da mudança?
Dois motivos principais guiam essa reforma:
- Reduzir a conta de luz dos consumidores: ao incentivar a compra de aparelhos mais eficientes, o gasto anual com energia diminui. Uma geladeira A pode economizar até 30% de energia em relação a um modelo C, dependendo do tamanho.
- Alinhar o Brasil às práticas internacionais: a meta é que, até 2030, os níveis de eficiência das geladeiras brasileiras sejam comparáveis aos da UE. Isso ajuda o país a cumprir compromissos climáticos e a melhorar sua competitividade no mercado de eletrodomésticos.
O que acontece em 2030?
O plano não para em 2026. Em 2030, o Inmetro pretende fazer mais um ajuste: as etiquetas A e B serão as mais eficientes, enquanto a C será a menos eficiente – mas ainda muito melhor que os antigos D e E. Na prática, isso significa que, ao longo da década, a barra de eficiência será elevada, pressionando fabricantes a inovarem cada vez mais.
Como a indústria está se preparando?
Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), o setor já investiu em novas tecnologias, como compressores inverter, sistemas de degelo mais inteligentes e melhor isolamento de paredes. Jorge Nascimento, presidente executivo da Eletros, afirma que as empresas fizeram “esforços relevantes de adequação, com investimentos e ajustes tecnológicos consistentes”.
Esses investimentos, embora aumentem o custo de produção, tendem a ser repassados ao consumidor de forma gradual, já que a economia na conta de luz compensa o preço inicial mais alto.
Impacto direto no seu bolso
Vamos colocar números na mesa. Suponha que você compre uma geladeira de 350 L com selo B (antigo A+). Em média, esse aparelho consome cerca de 300 kWh por ano. Se a tarifa de energia for R$ 0,80/kWh, o gasto anual será de R$ 240.
Compare isso com um modelo C (antigo B) que consome 400 kWh/ano: a conta sobe para R$ 320. A diferença de R$ 80 pode parecer pouca, mas ao longo de 10 anos isso representa R$ 800 – quase o valor de uma geladeira nova de gama média.
Além disso, a diferença de consumo se torna ainda maior em regiões onde a tarifa é mais alta (por exemplo, São Paulo ou Rio de Janeiro, onde pode chegar a R$ 1,00/kWh ou mais).
O que mudar na hora de escolher uma geladeira?
Com o selo simplificado, fica mais fácil comparar. Aqui vão algumas dicas práticas:
- Priorize o selo A: ele garante a maior eficiência disponível.
- Considere o tamanho adequado: geladeiras superdimensionadas consomem mais energia, mesmo sendo “A”.
- Olhe para a tecnologia inverter: compressores que ajustam a velocidade conforme a necessidade reduzem picos de consumo.
- Cheque o isolamento: paredes mais espessas e vedação adequada mantêm a temperatura interna estável.
- Verifique a classificação de energia do freezer interno: um freezer muito grande pode ser o vilão da conta.
Exemplos de modelos que já são “A” hoje
Algumas marcas já lançaram geladeiras que, mesmo antes da mudança, já atingem o selo A+++ (que será “A” depois). Entre elas:
- Brastemp BRE57FE
- Electrolux IF43S
- Hisense RF-79W1AIQS
- LG GC‑B569NLL
- Midea MDRS598FGA041
- Panasonic NR‑BB71GVFB
- Philco PRF613ID
- Samsung RT53DG6650S9FZ
Os preços desses modelos variam de R$ 3.400 a R$ 10.500, mas vale lembrar que o investimento inicial costuma ser compensado em poucos anos pela economia na conta de luz.
Como a mudança afeta quem ainda tem geladeira antiga?
Se a sua geladeira tem mais de 10 anos, provavelmente ela está em uma das categorias que serão descontinuadas (D ou E). Embora não haja obrigação legal de trocar o aparelho imediatamente, a tendência é que o consumo seja bem maior que o de um modelo “A”.
Algumas estratégias para melhorar a eficiência de uma geladeira antiga:
- Limpar as bobinas do condensador (geralmente na parte de trás).
- Manter a porta bem fechada – evite deixá‑la aberta por muito tempo.
- Regular a temperatura ideal (entre 3 °C e 5 °C para o refrigerador, –18 °C para o freezer).
- Descongelar o freezer regularmente, se ele não for frost‑free.
- Posicionar a geladeira longe de fontes de calor, como fogões ou luz solar direta.
Essas medidas não substituem a troca por um modelo mais eficiente, mas podem reduzir o consumo em até 10%.
Comparativo Brasil × União Europeia
A UE já adotou o sistema de três letras há alguns anos e tem metas ambiciosas de redução de emissões. Enquanto o Brasil ainda está “correndo atrás”, a padronização do selo ajuda a criar um mercado mais transparente, favorecendo importadores e fabricantes que já atendem aos padrões europeus.
Um ponto interessante: a rotulagem simplificada pode abrir espaço para que marcas estrangeiras que já produzem geladeiras “A” ganhem mais participação no mercado brasileiro, pressionando a indústria local a inovar ainda mais.
O que esperar nos próximos anos?
Além da nova classificação em 2026 e do ajuste final em 2030, o Inmetro tem outros projetos em andamento, como a criação de um selo digital que poderia ser lido por smartphones, mostrando não só a classificação, mas estimativas de consumo anual baseado no uso típico da família.
Essa tecnologia pode ajudar ainda mais na escolha consciente, pois o consumidor teria acesso a dados personalizados, como “quanto você economiza por mês se usar este modelo X”.
Resumo prático para quem está pensando em comprar
- Em 2026, procure apenas geladeiras com selo A, B ou C – ignore “D” e “E”, que não serão mais vendidas.
- Prefira o selo A, que oferece a maior economia a longo prazo.
- Analise o tamanho e a tecnologia (inverter, boa vedação).
- Considere o custo total de propriedade: preço de compra + gasto anual de energia.
- Aproveite as promoções, mas não sacrifique a eficiência por um preço muito baixo.
Conclusão
O novo selo de eficiência energética das geladeiras pode parecer apenas uma mudança visual, mas traz impactos reais no seu bolso e no meio ambiente. Simplificar de seis para três categorias ajuda a gente a entender rapidamente qual aparelho vai consumir menos energia, e a meta de alinhar o Brasil aos padrões da União Europeia demonstra um compromisso maior com a sustentabilidade.
Se você está planejando trocar a geladeira nos próximos anos, vale a pena observar essas mudanças, comparar os selos e escolher um modelo que, embora talvez custe um pouco mais na hora da compra, pagará esse investimento em economia de energia e, claro, em menos impacto ambiental. E se a sua geladeira atual já está na fase “D” ou “E”, talvez seja a hora de considerar a substituição ou, ao menos, aplicar as dicas de manutenção para melhorar sua eficiência.
Fica a dica: da próxima vez que estiver no corredor da loja, dê uma olhada no selo. Três letras podem dizer muito sobre o futuro da sua conta de luz e do planeta.




