Se você mora no interior de São Paulo ou acompanha de perto a produção de açúcar, provavelmente já ouviu falar que 2025 tem sido um ano complicado para a cana-de-açúcar. Não é só um papo de meteorologista; são fatos que afetam diretamente a colheita, o preço do açúcar e, claro, a renda dos produtores.
O que aconteceu nos primeiros meses do ano?
De janeiro a março, a região de Piracicaba registrou déficit hídrico e temperaturas acima da média. A Estação Meteorológica da Esalq/USP mostrou que as chuvas ficaram bem abaixo do esperado, enquanto o calor subiu até 4 °C a mais que o normal. Essa combinação faz a cana sentir “sede” e, ao mesmo tempo, sofrer com o estresse térmico.
Como a falta de água afeta a cana?
A cana-de-açúcar tem um ciclo de desenvolvimento bem sensível ao solo úmido nos primeiros estágios. Quando o solo está seco, a planta diminui a produção de folhas e, consequentemente, reduz a fotossíntese. O resultado? Menos matéria verde, menos açúcar armazenado nos colmos e, no fim das contas, menor produtividade por hectare.
- Brotação atrasada: as mudas demoram mais para emergir, o que encurta o período de crescimento.
- Redução de peso: canas mais leves significam menos açúcar para a usina.
- Vulnerabilidade a pragas: plantas estressadas são alvos fáceis de insetos e doenças.
Geada inesperada: outro inimigo
Além do calor, os agricultores também tiveram que lidar com noites frias. As temperaturas nas raízes podem ficar até 4 °C abaixo da superfície, provocando geada nas áreas mais baixas. A cana não tolera bem o frio; a geada pode queimar os brotos e comprometer a rebrota, que é crucial para a próxima safra.
Chuvas concentradas não resolvem o problema
Setembro e outubro trouxeram menos chuva que o esperado. Em novembro, até que houve volume acima da média, mas quase tudo caiu em um único dia. Quando a água chega de forma tão concentrada, grande parte escorre rapidamente e não é absorvida pelo solo. O solo fica “seca” novamente nos dias seguintes, mantendo o déficit hídrico.
O que dizem os especialistas?
Felipe Pilau, agrometeorologista da Esalq, explica que a variabilidade climática – meses mais secos e outros com chuvas intensas mas pontuais – é típica, mas quando se repete por vários ciclos pode reduzir a produção em até 5 % em relação à média histórica. Ele recomenda monitoramento constante da umidade do solo e o uso de previsões climáticas de longo prazo para ajustar o manejo.
Impactos na indústria sucroalcooleira
Os números da UNICA mostram que, até 16 de novembro, a moagem acumulada da safra 2025/2026 foi de 576,25 milhões de toneladas, ligeiramente abaixo do ciclo anterior (583,59 milhões). Isso já indica um recuo de 1,26 % e reflete a menor produtividade nas usinas do Centro‑Sul.
O que os produtores podem fazer agora?
Arnaldo Bortoletto, vice‑presidente da Coplacana, sugere algumas estratégias práticas:
- Instalar estações meteorológicas locais: dados em tempo real ajudam a decidir quando irrigar ou adiar tratamentos.
- Adotar sistemas de irrigação de precisão: gotejamento ou pivôs de baixa vazão reduzem o desperdício.
- Utilizar coberturas vegetais: mantêm a umidade do solo e protegem contra a erosão.
- Planejar a época de plantio: ajustar o calendário para evitar os períodos mais críticos de calor.
Perspectivas para a próxima safra
As previsões apontam para chuvas dentro da normalidade nos meses de dezembro a fevereiro, mas sem expectativa de eventos mais chuvosos que compensariam o déficit. Se a tendência continuar, poderemos ver uma leve queda na produtividade da safra 2025/2026, o que pode repercutir nos preços do açúcar e do etanol.
Por que isso importa para você?
Mesmo que você não esteja diretamente na lavoura, o clima da cana afeta a economia regional. Menor produção pode elevar o preço do açúcar nas prateleiras, impactar a indústria de bebidas e até influenciar o custo do etanol como combustível. Além disso, muitos trabalhadores rurais dependem da safra para seu sustento. Entender o que está acontecendo ajuda a apoiar políticas de apoio ao agricultor e a exigir investimentos em tecnologia de manejo.
Conclusão
O estresse hídrico e o calor extremo são desafios que vêm se intensificando com as mudanças climáticas. Em São Paulo, a cana-de-açúcar sente na pele – literalmente – esses efeitos, e os números já mostram o início de um recuo na produção. A boa notícia é que, com informação, tecnologia e manejo adequado, ainda há espaço para mitigar os impactos. Ficar atento às previsões, investir em infraestrutura de monitoramento e adotar práticas sustentáveis são passos essenciais para garantir que a cana continue sendo um dos pilares da nossa agricultura.
E você, já percebeu alguma mudança nos preços ou na disponibilidade de produtos derivados da cana? Compartilhe sua experiência nos comentários!




