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Dólar, inflação dos EUA e política brasileira: o que está movendo o seu dinheiro hoje

Dólar, inflação dos EUA e política brasileira: o que está movendo o seu dinheiro hoje

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Se você acordou nesta quinta-feira (18) e viu o dólar em R$ 5,5150, pode ter pensado que nada mudou. Na verdade, o cenário está bem mais agitado do que parece. Entre a divulgação do CPI dos Estados Unidos, a reunião do Banco Central aqui no Brasil e as últimas pesquisas eleitorais, o mercado está tentando decifrar o que vem por aí. Neste post, eu vou destrinchar os principais fatores que influenciam a cotação do dólar e do Ibovespa, e mostrar como isso pode impactar o seu bolso, seus investimentos e até as suas próximas compras.

Por que o dólar oscila?

O dólar é o termômetro global da economia. Quando algo acontece nos EUA – seja a taxa de juros, o índice de preços ao consumidor (CPI) ou até um conflito internacional – a moeda americana sente o efeito imediatamente. Nesta quinta, o CPI de novembro foi divulgado às 10h30, com expectativa de alta anual de 3,1 %. Esse número está acima da meta do Federal Reserve, o que costuma gerar medo de que o Fed aumente os juros para conter a inflação.

Mas tem um detalhe: o governo americano estava em paralisação, o que pode ter diminuído a precisão dos dados. Essa incerteza faz com que investidores se tornem mais cautelosos, reduzindo a demanda por dólares e, consequentemente, provocando a leve queda de 0,13 % que vimos hoje.

O que o Brasil tem a ver nisso?

Aqui no Brasil, a agenda também está cheia. Às 8h, o Banco Central divulgou o Relatório de Política Monetária do quarto trimestre, analisando inflação, atividade econômica e riscos. Em seguida, às 11h, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, fez coletiva para comentar o documento, e ainda tivemos a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Esses eventos são cruciais porque dão pistas sobre a postura do BC quanto à taxa Selic, que, por sua vez, afeta o fluxo de capital estrangeiro e a cotação do real.

Quando o BC sinaliza que pode manter a taxa de juros alta por mais tempo, o real tende a se valorizar, puxando o dólar para baixo. Se, ao contrário, houver indicação de corte de juros, o real pode perder força e o dólar subir.

Bolsa de valores: o Ibovespa reage ao clima político

Enquanto o dólar recuava, o Ibovespa avançava 0,22 %, fechando em 157.675 pontos. Essa alta modesta vem depois de uma queda na terça‑feira, quando a pesquisa Genial/Quaest mostrou Lula com 41 % das intenções de voto, Flávio Bolsonaro com 23 % e Tarcísio de Freitas com 10 %. A percepção de que o governo atual tem mais chances de se manter no poder gerou preocupação entre investidores, que temem que ajustes fiscais robustos sejam mais difíceis de implementar.

O resultado da pesquisa fez com que muitos investidores buscassem proteção no dólar e exigissem juros mais altos para comprar títulos do governo. Essa mudança de sentimento acabou pressionando a bolsa, que registrou queda na terça, mas recuperou um pouco na quinta, ainda que o desempenho semanal seja negativo (-2,14 %).

Como esses números afetam o seu dia a dia?

  • Compras internacionais: Se o dólar está mais barato, produtos importados – de eletrônicos a roupas – podem ficar mais acessíveis. Mas lembre‑se de que a cotação pode mudar rapidamente, então vale ficar de olho nas promoções.
  • Investimentos: Um real mais forte favorece investimentos em renda fixa brasileira, pois a taxa de juros real pode ficar mais atrativa. Por outro lado, um dólar em alta pode tornar fundos de ações internacionais mais interessantes.
  • Viagens: Se você está planejando viajar para os EUA ou países que usam o dólar, a queda recente pode ser um alívio no orçamento da viagem.
  • Financiamentos e empréstimos: A expectativa de manutenção da taxa Selic alta pode significar parcelas de empréstimos mais caras. Fique atento ao contrato do seu financiamento.

O que dizem os analistas?

Bruno Shahini, da Nomad, apontou que a combinação de incertezas nos EUA e a percepção de um governo brasileiro mais forte, porém com dificuldades fiscais, levou investidores a buscar refúgio no dólar e a exigir juros mais altos para títulos públicos. Essa postura de “fuga para a segurança” costuma empurrar o dólar para cima, mas, como vimos, a divulgação do CPI acabou puxando a moeda para baixo, ao menos temporariamente.

Olhar para o futuro: o que esperar?

O caminho do dólar e do Ibovespa nos próximos dias vai depender de duas coisas principais: a resposta do Federal Reserve ao CPI e a postura do Banco Central brasileiro diante da inflação interna. Se o Fed decidir que a alta de 3,1 % no CPI é sinal de que a inflação está fora de controle, podemos ver novos aumentos de juros, o que fortaleceria o dólar. Por outro lado, se o BC mantiver a taxa Selic em patamares elevados por mais tempo, o real pode ganhar força, puxando o dólar para baixo.

Além disso, o cenário político brasileiro ainda tem muita volatilidade. As próximas pesquisas de intenção de voto, as decisões do Congresso sobre reformas fiscais e o desempenho da economia real (inflação, desemprego, consumo) vão continuar mexendo com a confiança dos investidores.

Dicas práticas para quem acompanha o mercado

  1. Monitore o calendário econômico: Anote as datas de divulgação do CPI, dos pedidos de auxílio‑desemprego nos EUA e dos relatórios do BC. Cada um desses eventos pode mover o dólar em questão de horas.
  2. Diversifique seus investimentos: Não coloque todo o seu dinheiro em um único tipo de ativo. Combine renda fixa, ações brasileiras, fundos internacionais e, se quiser, uma pequena parcela em dólar.
  3. Use ferramentas de alerta: Muitos aplicativos de corretoras permitem criar notificações quando o dólar atinge um valor que você definiu. Isso ajuda a aproveitar boas oportunidades.
  4. Planeje compras grandes: Se você pretende comprar um bem importado, tente programar a compra para quando o dólar estiver em baixa. Mas lembre‑se de que o timing perfeito é raro; o mais importante é não deixar a ansiedade atrapalhar o orçamento.

Conclusão

O mercado está em um ponto de interseção entre a política monetária dos EUA, a estratégia do Banco Central brasileiro e o clima político interno. Cada um desses elementos pode fazer o dólar subir ou cair, e, por consequência, influenciar o Ibovespa e a sua vida financeira. O melhor caminho é ficar informado, entender como esses indicadores funcionam e, principalmente, adaptar suas decisões de consumo e investimento ao cenário atual.

Se você ainda não acompanha de perto as notícias econômicas, vale a pena começar a prestar atenção nos números que mencionei. Eles não são apenas estatísticas; são sinais que ajudam a proteger o seu dinheiro e a aproveitar oportunidades quando elas surgem.