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Dólar em alta, Ibovespa em baixa: o que a corrida de Flávio Bolsonaro e a Superquarta significam para o seu bolso

Dólar em alta, Ibovespa em baixa: o que a corrida de Flávio Bolsonaro e a Superquarta significam para o seu bolso

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Introdução rápida

Na terça‑feira (9) o dólar subiu 0,26% e chegou a R$ 5,4349. Ao mesmo tempo, o Ibovespa recuou 0,13%, fechando em 157.981 pontos. Parece só mais um número nos noticiários, mas, na prática, essas variações mexem diretamente no que a gente paga no supermercado, no custo do crédito e até nas oportunidades de investimento.

Por que o dólar subiu?

Dois fatores principais explicam a alta:

  • Política interna: a pré‑candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência em 2026 foi declarada como “irreversível”. Essa notícia gerou incerteza sobre a estabilidade fiscal e, consequentemente, fez o real perder força.
  • Expectativas externas: dados recentes do mercado de trabalho dos EUA (relatório JOLTS e pesquisa ADP) sinalizam que o Federal Reserve pode cortar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual. Enquanto o Fed pensa em aliviar a política monetária, o Banco Central do Brasil (BC) deve manter a Selic em 15%.

Quando o mercado percebe risco – seja político ou fiscal – ele costuma buscar proteção no dólar, que é visto como o ativo‑refúgio.

O que a candidatura de Flávio Bolsonaro tem a ver com a bolsa?

Para quem não acompanha a política de perto, pode parecer estranho ligar a decisão de um senador ao desempenho do Ibovespa. Mas o que acontece é o seguinte:

  1. Flávio Bolsonaro representa a continuidade da família Bolsonaro no poder. Se ele for eleito, há a percepção de que o governo atual – que já tem um déficit fiscal considerável – terá menos espaço para fazer ajustes estruturais.
  2. Analistas acreditam que a presença de Flávio na corrida eleitoral enfraquece a oposição e aumenta as chances de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um cenário de “reeleição do atual governo” costuma ser visto como menos favorável para reformas econômicas agressivas.
  3. Esse medo de um ambiente fiscal mais frouxo eleva o “prêmio de risco” exigido pelos investidores. Resultado: menos dinheiro entra na bolsa, e os preços das ações caem.

Na prática, quem tem dinheiro investido em ações sente a pressão nos retornos. Quem está pensando em abrir uma conta de investimento agora pode encontrar preços mais atrativos, mas também mais volatilidade.

Superquarta: o que esperar das decisões de juros?

O próximo dia útil (10) será decisivo – a chamada Superquarta – quando tanto o Banco Central do Brasil quanto o Federal Reserve divulgarão suas decisões de política monetária.

  • Brasil: a expectativa é de manutenção da Selic em 15% ao ano. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, tem sinalizado que os juros permanecerão altos até que a inflação esteja bem controlada.
  • EUA: a maioria dos analistas aposta num corte de 0,25 ponto percentual. O Fed também vai observar o índice de preços PCE, que chegou a 2,8% ao ano, ligeiramente abaixo da meta de 2,9%.

Essas decisões influenciam diretamente o dólar. Se o Fed cortar, o dólar tende a enfraquecer; se o BC mantiver a Selic alta, o real pode continuar sob pressão.

Como esses movimentos afetam o seu dia a dia?

Talvez você não acompanhe a Bolsa de Valores, mas sente o impacto de três maneiras principais:

  1. Importação de produtos: um dólar mais caro encarece eletrônicos, roupas e até medicamentos importados.
  2. Financiamento e crédito: juros altos no Brasil significam parcelas de empréstimos e cartões de crédito mais caras. Se a Selic permanecer em 15%, o custo do crédito não deve cair tão cedo.
  3. Investimentos: a volatilidade pode abrir oportunidades para quem tem perfil mais arrojado. Por outro lado, investidores conservadores podem preferir a renda fixa, que ainda oferece retornos atrativos devido à taxa Selic.

O que os especialistas estão dizendo?

Leonel Mattos, da StoneX, destaca que o mercado está focado em duas questões: a competitividade de Flávio Bolsonaro e a possibilidade de fragmentação da direita. Ele afirma que “o risco fiscal aumenta a exigência de prêmio pelos investidores, pressionando a taxa de câmbio”. Em outras palavras, enquanto não houver clareza sobre quem vai liderar o país e como serão as contas públicas, o dólar pode continuar subindo.

Perspectivas para o futuro próximo

Vamos dividir em três cenários possíveis:

  • Cenário otimista: o Fed corta juros, o BC mantém a Selic e, ao mesmo tempo, surge um consenso político que tranquiliza os investidores. Nesse caso, o dólar poderia recuar para a faixa dos R$ 5,20‑5,30, e o Ibovespa poderia retomar uma trajetória de alta.
  • Cenário neutro: o Fed corta, mas o BC não altera a Selic. O dólar ficaria estável ou com leve alta, e a bolsa permaneceria volátil, reagindo a notícias políticas.
  • Cenário pessimista: o Fed mantém os juros, o BC também não corta e a disputa eleitoral se intensifica, com mais dúvidas sobre a política fiscal. O dólar poderia subir acima de R$ 5,50 e o Ibovespa poderia registrar quedas mais profundas.

Qual desses cenários parece mais provável? Eu diria que o mercado ainda está digerindo a notícia da candidatura de Flávio e a votação na Câmara sobre a redução de pena de Jair Bolsonaro. Enquanto não houver um consenso claro, a volatilidade deve permanecer.

Dicas práticas para quem quer proteger o bolso

  1. Reveja seu orçamento: se o dólar está em alta, tente reduzir gastos com produtos importados e busque alternativas nacionais.
  2. Renegocie dívidas: com a Selic alta, as parcelas de empréstimos podem ser caras. Vale a pena conversar com o banco para buscar condições melhores.
  3. Diversifique investimentos: não coloque todo o dinheiro em um único tipo de ativo. Uma combinação de renda fixa, fundos multimercado e, se tiver perfil, ações, pode ajudar a mitigar riscos.
  4. Fique de olho nas notícias: decisões de juros e movimentos políticos têm impacto rápido. Acompanhar fontes confiáveis ajuda a tomar decisões mais informadas.

Conclusão

O aumento do dólar para R$ 5,43 e a queda do Ibovespa são mais do que números em um gráfico – são reflexos de um momento de incerteza política e econômica. A candidatura de Flávio Bolsonaro, a votação na Câmara sobre a pena de Jair Bolsonaro e a Superquarta de juros criam um cenário onde o risco fiscal está em alta.

Para quem tem o objetivo de proteger o orçamento familiar e buscar boas oportunidades de investimento, o caminho passa por entender esses movimentos, ajustar o consumo e diversificar a carteira. O futuro ainda tem muitas incógnitas, mas ficar bem informado é a melhor estratégia para não ser surpreendido.

Se você quiser acompanhar mais de perto como esses fatores vão evoluir, continue lendo nossos posts e, claro, mantenha o olho nas decisões de juros que virão amanhã.