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Do Kwon: O que a condenação de 15 anos nos ensina sobre o risco das criptomoedas

Do Kwon: O que a condenação de 15 anos nos ensina sobre o risco das criptomoedas

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Quando a notícia de que Do Kwon, o magnata sul‑coreano das criptomoedas, foi condenado a 15 anos de prisão chegou ao meu feed, eu tive a mesma reação de quem vê um filme de ação: choque, curiosidade e, de repente, uma enxurrada de perguntas. Como alguém que já ouviu falar da TerraUSD e da Luna, mas que nunca entendeu bem o que realmente aconteceu, eu decidi mergulhar na história e, ao mesmo tempo, refletir sobre o que isso significa para quem, como eu, pensa em investir em cripto.

Quem é Do Kwon?

Do Kwon não é um nome comum nas ruas, mas nos bastidores da tecnologia ele foi quase uma celebridade. Formado em ciência da computação por Stanford, passou por gigantes como Microsoft e Apple antes de fundar a Terraform Labs, empresa responsável pela criação da TerraUSD (UST) e da Luna. Em 2019, ele entrou na lista “30 Under 30 Asia” da Forbes – um reconhecimento que, na época, parecia confirmar que ele era um dos grandes visionários da nova era financeira.

O que era a TerraUSD?

A UST se apresentava como uma stablecoin, ou seja, uma moeda digital cujo preço seria sempre igual a 1 dólar americano. A ideia parecia simples: oferecer a estabilidade do dólar combinada com a rapidez e a descentralização das criptomoedas. Para isso, a UST usava um algoritmo que mantinha seu preço em paridade com a Luna, outra moeda criada por Kwon.

  • Promessa: transações rápidas, sem intermediários, e sem a volatilidade típica das criptos.
  • Apelo: investidores que queriam “o melhor dos dois mundos” – a segurança do dólar e a inovação da blockchain.
  • Resultado: bilhões de dólares foram atraídos, e a UST chegou a ser considerada a segunda maior stablecoin do mundo, atrás apenas da Tether.

O colapso que abalou o mercado

Em maio de 2022, tudo mudou. O algoritmo que mantinha a paridade entre UST e Luna falhou. A confiança dos investidores evaporou, a Luna despencou de cerca de US$ 118 para menos de US$ 0,10 em poucos dias, e a UST perdeu a estabilidade, caindo também. O que era apresentado como “inovação” se transformou em uma crise que custou mais de US$ 40 bilhões – cerca de R$ 217 bilhões – a investidores ao redor do mundo.

Para entender o porquê, vale lembrar que, ao contrário de outras stablecoins como Tether ou USDC, a UST não era respaldada por reservas reais de dólares ou títulos públicos. O mecanismo era puramente algorítmico, dependente da confiança dos participantes. Quando essa confiança desapareceu, o sistema entrou em colapso.

Do Kwon na justiça

Depois do desastre, Kwon fugiu da Coreia do Sul. Ele foi preso em março de 2023 no aeroporto de Podgorica, Montenegro, usando um passaporte falso da Costa Rica. Em agosto de 2023, ele se declarou culpado nos EUA por conspiração para cometer fraude e fraude eletrônica. Em 11 de julho de 2024, o juiz de Nova York o condenou a 15 anos de prisão.

Essa sentença é histórica por duas razões:

  • É uma das maiores penas já impostas a um executivo de cripto nos EUA.
  • Mostra que autoridades americanas estão dispostas a perseguir líderes de projetos que afetam investidores globais, mesmo que o crime tenha sido cometido em outro continente.

O que isso significa para quem investe em cripto?

Se você, como eu, já pensou em colocar parte da poupança em Bitcoin, Ethereum ou até mesmo em projetos mais “promissores”, a história de Do Kwon traz lições importantes:

  1. Entenda o respaldo da moeda. Stablecoins que têm reservas reais são menos arriscadas que as algorítmicas.
  2. Desconfie de promessas de retorno rápido. Se alguém garante que sua moeda vai “mudar o mundo” e ainda tem um “culto” de seguidores, isso pode ser sinal de alerta.
  3. Diversifique. Não coloque todo o seu capital em um único projeto, por mais que ele pareça seguro.
  4. Fique de olho na regulação. Países como os EUA estão cada vez mais atentos a fraudes no mercado cripto; isso pode impactar a disponibilidade de certos ativos.

O lado humano da tragédia

Além dos números gigantescos, o caso deixou histórias pessoais dolorosas. Muitos investidores eram pessoas comuns que tinham economias de toda a vida. No Reddit, surgiram milhares de relatos de quem perdeu a casa, o carro, até a aposentadoria. Alguns buscaram apoio emocional, formando grupos de apoio para lidar com o trauma financeiro.

Esse aspecto humano costuma ser esquecido quando falamos de “bolhas” e “crash”. Mas é essencial lembrar que por trás de cada dólar perdido há uma vida que pode mudar para sempre.

O futuro das stablecoins e da regulação

Com a condenação de Do Kwon, reguladores ao redor do mundo estão mais cautelosos. Nos EUA, a SEC tem sinalizado que vai exigir maior transparência das stablecoins, especialmente quanto às reservas que as respaldam. Na União Europeia, o regulamento MiCA (Markets in Crypto‑Assets) está em fase de implementação, buscando criar regras claras para emissores de cripto.

Para nós, investidores, isso pode significar duas coisas:

  • Maior segurança jurídica ao escolher ativos que cumpram requisitos de reserva.
  • Possível restrição de alguns projetos que não conseguem se adaptar às novas regras.

Conclusão: lições que ficam

O caso Do Kwon é, sem dúvida, um dos maiores escândalos da era das criptomoedas. Ele nos mostra que, apesar da tecnologia ser fascinante, o fator humano – ganância, hype, e falta de transparência – ainda pode transformar inovação em catástrofe.

Se eu puder deixar um conselho prático, seria este: antes de investir, pergunte a si mesmo se entende realmente como aquele ativo funciona, quem está por trás dele e quais são os riscos reais. Não se deixe levar só pelo brilho das manchetes ou pelos “gurus” que prometem mudar o mundo.

E você, já tinha ouvido falar da TerraUSD antes? Como se sente ao ver essa história se desenrolar? Compartilhe nos comentários – a troca de experiências ajuda a gente a navegar num mercado tão volátil quanto promissor.