Você já parou pra pensar como seria a nossa rotina sem os Correios? Uma carta não chega, um pacote some, e o comércio eletrônico perde um braço. Por isso, quando ouvi falar que a estatal está acumulando prejuízos de bilhões, meu primeiro pensamento foi: “Como vamos sair dessa?”.
Na última quarta‑feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu uma entrevista que acabou virando assunto de mesa de café, de reunião de condomínio e, claro, de debate nas redes. Ele explicou que o governo está tentando garantir um empréstimo de um consórcio de bancos para os Correios, mas que, se o acordo não rolar, pode acabar colocando dinheiro público direto na conta da empresa.
O que está acontecendo nos números?
Até setembro, os Correios registraram um prejuízo acumulado de R$ 6 bilhões. É o 13º trimestre consecutivo no vermelho, desde o último trimestre de 2022. No primeiro semestre, o rombo já era de R$ 4,36 bilhões. Em termos simples, a empresa está gastando mais do que ganha, e a situação não parece melhorar.
Dois caminhos possíveis, segundo Haddad
O ministro dividiu a estratégia em duas opções:
- Garantia do Tesouro: o governo oferece ao consórcio de bancos um aval, ou seja, garante que o empréstimo será pago, desde que a estatal apresente um plano de reestruturação sério.
- Aporte direto de recursos públicos: se o banco não aceitar as condições, o Tesouro pode injetar dinheiro na empresa, mas dentro dos limites do arcabouço fiscal – ou seja, sem descuidar das contas públicas.
Haddad deixou claro que a primeira alternativa é a prioridade. Ele não quer “faca no pescoço” de um banco por falta de entendimento. Mas, ao mesmo tempo, não descarta a segunda opção caso seja realmente necessário.
Por que os Correios não podem ser privatizados?
Um ponto que gerou muita curiosidade foi a negação de Haddad sobre a privatização da estatal. O governo anterior, liderado por Paulo Guedes, chegou a cogitar vender os Correios para reduzir a dívida. Haddad, porém, argumenta que o serviço postal universal – garantir que uma carta chegue a qualquer ponto do Brasil – ainda é essencial e não se paga sozinho.
Ele apontou que o mundo inteiro encontrou formas de viabilizar esse serviço sem abrir mão da gestão pública: parcerias, novos serviços, diversificação de receitas. E, falando em diversificação, Haddad sugeriu que os Correios comecem a oferecer serviços financeiros – seguros, previdência – para gerar caixa.
Como a nova lei do devedor contumaz se encaixa nessa história?
Durante a mesma coletiva, o ministro comemorou a aprovação da lei que criminaliza empresas que sonegam impostos de forma recorrente. A ideia é retirar do mercado companhias “laranjas” que alimentam o crime organizado e a evasão fiscal.
Ele explicou que, ao eliminar esses players, o Estado ganha mais arrecadação, o que pode ser usado, inclusive, para apoiar empresas estratégicas como os Correios. Além disso, estados produtores como São Paulo e Rio de Janeiro, que sofrem com a atividade ilegal, podem sentir um alívio rápido nas finanças.
O que isso significa para o seu dia a dia?
Talvez você pense: “Isso é coisa de ministro, não tem nada a ver comigo”. Mas a verdade é que a saúde financeira dos Correios impacta diretamente o consumidor:
- Pra quem compra online: atrasos nas entregas podem aumentar custos de frete ou até fazer lojas migrarem para outros serviços de logística.
- Para quem ainda usa carta registrada: a descontinuação de serviços pode tornar mais difícil enviar documentos oficiais.
- Para pequenos empreendedores: os Correios oferecem tarifas competitivas para envios de pequeno volume. Se a empresa fechar, esses negócios perdem uma opção acessível.
Quais são os prós e contras de cada caminho?
Garantia do Tesouro + empréstimo bancário
- Pró: mantém a responsabilidade fiscal – o governo só garante, não injeta recursos diretamente.
- Contra: depende da aprovação de um plano de reestruturação que realmente funcione. Se o plano falhar, o aval pode ficar inutilizado.
Aporte direto do Tesouro
- Pró: solução rápida para evitar a falência da estatal.
- Contra: pode gerar críticas por uso de dinheiro público em empresa que já tem histórico de prejuízo, além de pressionar o limite da regra fiscal.
O que eu, como cidadão, posso fazer?
Não há uma caixa de votação para decidir o futuro dos Correios, mas há algumas atitudes que ajudam:
- Use os serviços da estatal: ao escolher os Correios para enviar encomendas, você contribui para a receita da empresa.
- Fique informado: acompanhe as notícias sobre o plano de reestruturação e participe de debates em fóruns locais ou nas redes sociais.
- Pressione representantes: escreva ao seu deputado ou senador pedindo transparência nas negociações e que sejam priorizadas soluções sustentáveis.
Olhando para o futuro
Se tudo correr bem, os Correios vão sair debaixo de um rombo de bilhões e voltar a ser uma empresa viável, ainda que com um modelo diferente do tradicional. A inclusão de serviços financeiros pode ser a chave para gerar receita extra, assim como parcerias com e‑commerces.
Mas, se o governo acabar precisando injetar dinheiro público, a discussão sobre o uso desses recursos vai se intensificar, especialmente num momento em que o país tenta equilibrar as contas e ainda tem desafios como a inflação.
Em resumo, o que vemos aqui é um dilema clássico: salvar uma instituição estratégica à custa de recursos limitados ou deixar que o mercado encontre novos caminhos. O que importa é que, enquanto isso, a gente continua precisando dos Correios no dia a dia, seja para receber aquele presente inesperado ou para enviar um documento importante. E, claro, acompanhar de perto como o governo vai resolver essa equação.




