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Copom mantém Selic em 15%: o que isso significa para o seu bolso e para a economia brasileira

Copom mantém Selic em 15%: o que isso significa para o seu bolso e para a economia brasileira

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Na manhã desta quarta‑feira (10), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil se reuniu para decidir o destino da taxa básica de juros, a Selic. A expectativa dos economistas é clara: a taxa deve permanecer em 15% ao ano, o patamar mais alto que vimos nos últimos quase 20 anos. Se isso acontecer, será a quarta manutenção consecutiva da Selic.

Por que a Selic está tão alta?

O principal objetivo do Copom ao definir a taxa de juros é controlar a inflação. Quando a inflação está acima da meta, o Banco Central costuma manter ou subir a Selic para esfriar a demanda e conter a alta de preços. Desde o início de 2025, o Brasil trabalha com um regime de metas de inflação mais flexível – a meta central é 3%, com tolerância entre 1,5% e 4,5%.

Até agora, a inflação tem ficado acima desse intervalo por seis meses seguidos, o que fez o BC precisar explicar, em carta pública, os motivos desse descolamento. Por isso, a decisão de manter a taxa em 15% não surpreende.

Como a decisão afeta o seu dia a dia?

Para a maioria das famílias, a taxa Selic tem impacto direto nos custos de crédito – financiamento de carro, casa, empréstimos pessoais e até no rendimento da caderneta de poupança. Com a Selic em 15%:

  • Empréstimos ficam mais caros: os bancos costumam repassar a taxa básica para os juros cobrados dos clientes.
  • Poupança perde força: o rendimento da caderneta fica próximo a 6,17% ao ano, bem abaixo de outros investimentos.
  • Cartão de crédito e cheque especial: continuam com juros que podem ultrapassar 300% ao ano.

Em resumo, manter a Selic alta significa que o crédito continua caro e o dinheiro guardado rende pouco. Para quem está pensando em comprar um imóvel ou financiar um carro, o momento ainda não é o ideal.

O que dizem os analistas?

Várias instituições financeiras já divulgaram suas projeções. O Itaú acredita que o corte da Selic só deve começar em janeiro de 2026, com uma redução de 0,25 ponto percentual, levando a taxa a 14,75%.

Já a Blue3 Investimentos, representada por José Aureo Viana, ressalta que o BC ainda está “travado” pelo risco fiscal – ou seja, os gastos públicos elevados podem pressionar a inflação e atrasar novos cortes.

O C6 Bank, por sua vez, vê um cenário mais otimista: espera que o primeiro corte venha em março de 2026, com a Selic fechando 2026 em torno de 13% ao ano.

Desaceleração da economia: estratégia ou consequência?

O Banco Central tem sido franco ao dizer que uma desaceleração do crescimento econômico faz parte da estratégia para conter a inflação. A lógica é simples: se a economia cresce mais devagar, há menos pressão sobre preços, sobretudo no setor de serviços, que costuma ser mais sensível a variações de demanda.

Na última ata do Copom, divulgada em 11 de novembro, o BC destacou que o “hiato do produto” continua positivo. Isso significa que a economia ainda está operando acima do seu potencial, mas sem gerar pressões inflacionárias excessivas. Em outras palavras, o país tem espaço para crescer, mas o ritmo precisa ser mais moderado.

Projeções de inflação para os próximos anos

O mercado estima que a inflação oficial ficará em torno de 4,40% em 2025, 4,16% em 2026, 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028. Todas essas cifras ainda estão acima da meta central de 3%, o que reforça a cautela do Copom.

Vale lembrar que as decisões de juros têm um efeito retardado na economia – de seis a 18 meses. Por isso, o BC já está olhando para o segundo trimestre de 2027 ao calibrar a política monetária de hoje.

O que você pode fazer enquanto a Selic permanece alta?

  • Reavalie seus empréstimos: se você tem dívida com juros altos, considere renegociar ou pagar antecipadamente, já que o custo do crédito não deve cair em breve.
  • Diversifique seus investimentos: a poupança perde atratividade; opções como Tesouro Direto (IPCA+), CDBs de bancos médios ou fundos de renda fixa podem oferecer retornos melhores.
  • Fique de olho nas despesas: com o crédito mais caro, controlar gastos supérfluos ajuda a manter o orçamento saudável.
  • Planeje a compra de bens duráveis: se possível, adie a aquisição de imóveis ou veículos até que a Selic comece a cair, pois isso reduz significativamente o valor total pago.

Olhar para o futuro

O cenário não é preto no branco. Se a inflação começar a responder de forma consistente às metas, o BC pode abrir a porta para cortes mais agressivos a partir de 2026. Mas, como apontam os analistas, o caminho depende de três fatores críticos:

  1. Desempenho da inflação: a tendência de queda precisa se confirmar nos próximos trimestres.
  2. Risco fiscal: gastos públicos elevados podem gerar pressões inflacionárias inesperadas.
  3. Condições do mercado de trabalho: salários em alta podem alimentar a demanda e, consequentemente, a inflação.

Enquanto isso, a mensagem do Copom parece ser de paciência e serenidade. Juros altos por mais tempo podem ser desconfortáveis, mas servem como um freio para evitar que a inflação saia ainda mais do controle.

Conclusão

Manter a Selic em 15% ao ano é, ao mesmo tempo, um sinal de que o Banco Central está confiante de que a política monetária atual está funcionando e um lembrete de que a economia ainda tem desafios pela frente. Para quem acompanha as finanças pessoais, isso significa continuar atento ao custo do crédito, buscar alternativas de investimento mais rentáveis e, sobretudo, manter a disciplina no orçamento.

O próximo passo será observar como a inflação reage nos próximos meses e se o BC começará a sinalizar, ainda que sutilmente, a abertura para uma fase de cortes. Até lá, a melhor estratégia é se adaptar ao cenário atual e preparar-se para as possíveis mudanças que virão.