Se você está acompanhando o Concurso Nacional Unificado (CNU) 2025, provavelmente já se pegou pensando: “Como vai ser a prova discursiva?” Eu também já passei por essa ansiedade, então decidi colocar no papel (ou melhor, no teclado) tudo o que descobri, juntando as informações oficiais, dicas de quem já estudou para concursos e um pouco da minha própria experiência de quem já escreveu redações em tempo cronometrado. O objetivo aqui é transformar um monte de regras técnicas em uma conversa descontraída, como se estivéssemos tomando um café e trocando ideias sobre como encarar essa etapa decisiva.
Por que a prova discursiva importa tanto?
A primeira coisa que me chamou a atenção ao ler o edital foi o peso que a prova discursiva tem na Nota Final Ponderada. Mesmo sendo mais curta que a objetiva, ela pode valer até 45 pontos para cargos de nível superior e 30 pontos para nível intermediário. Quando a gente soma tudo – objetiva, redação, pontuação de desempate – a discursiva pode ser o diferencial que faz o candidato subir algumas posições na classificação final. Em termos práticos, se você tem 70 pontos na objetiva e 45 na discursiva, seu total já chega a 115, enquanto alguém que tirou 80 na objetiva mas zerou na redação fica em 80. Ou seja, a redação pode ser o seu trunfo ou a sua ruína.
Formato da prova: o que muda de acordo com o nível?
- Nível Superior: são duas questões discursivas, cada uma com limite de 30 linhas. Cada questão vale 22,5 pontos, divididos igualmente entre conteúdo específico e domínio da Língua Portuguesa.
- Nível Intermediário: uma única redação dissertativo‑argumentativa, também de até 30 linhas, que vale 30 pontos, todos atribuídos ao critério de Língua Portuguesa.
Essa divisão tem um motivo claro: cargos de nível superior exigem que o candidato demonstre conhecimento técnico aprofundado, enquanto cargos de nível intermediário focam mais na capacidade de comunicação escrita.
Critérios de correção: o que os avaliadores realmente olham?
Para o nível superior, a banca da Fundação Getúlio Vargas (FGV) usa dois blocos de avaliação:
- Domínio dos conhecimentos específicos: aqui o corretor verifica se você entendeu o tema, se usou os conceitos corretos e se trouxe informações relevantes que constam nos anexos do bloco temático.
- Uso da Língua Portuguesa: gramática, ortografia, coesão, coerência e organização textual. A redação precisa ter introdução, desenvolvimento e conclusão bem definidos.
No nível intermediário, o único critério é a qualidade da escrita. Mesmo que o tema tenha relação com o bloco, não há pontuação extra por conhecimento técnico. A banca quer ver se você consegue articular ideias, usar conectivos adequados e manter a norma culta.
Regras rígidas da folha definitiva
Um ponto que costuma assustar os candidatos é a chamada “folha definitiva”. Depois de escrever seu rascunho (que não será corrigido), você tem que transferir tudo para a folha oficial, dentro das linhas marcadas. Qualquer coisa fora desse espaço pode levar a nota zero. Aqui vai a lista de armadilhas mais comuns:
- Assinaturas, iniciais, desenhos ou qualquer marca que identifique o candidato.
- Uso de lápis, borracha ou tinta de cor diferente de preto ou azul.
- Rasuras ou tentativas de apagar parte do texto.
- Escrever fora das linhas ou continuar a resposta em outra área da folha.
- Fuga total do tema – responder algo que não tem relação com o enunciado.
- Texto em forma de lista, esquema ou frases soltas, sem estrutura de introdução‑desenvolvimento‑conclusão.
Essas regras servem para garantir a correção às cegas, ou seja, o avaliador não sabe quem escreveu o texto. Se alguma dessas infrações acontecer, a banca simplesmente anula a resposta.
Estratégia de escrita: como organizar 30 linhas?
30 linhas pode parecer pouco, mas com um plano bem definido dá para fazer um texto completo e convincente. A dica que mais funciona – e que eu mesma já testei – é dividir o espaço em quatro parágrafos:
- Introdução (4‑5 linhas): apresente o tema, contextualize e indique a tese que você vai defender.
- Primeiro desenvolvimento (8‑10 linhas): traga o primeiro argumento, apoiado em conceito ou dado do edital.
- Segundo desenvolvimento (8‑10 linhas): apresente um segundo argumento, preferencialmente complementando o primeiro ou trazendo um contraponto.
- Conclusão (4‑5 linhas): retome a tese e mostre como os argumentos a sustentam, finalizando com uma frase de efeito ou proposta de solução.
Com esse esquema, você já garante a estrutura mínima exigida e ainda tem espaço para usar conectivos como “além disso”, “por outro lado” e “consequentemente”, que dão fluidez ao texto.
Como escolher o tema e os argumentos?
O edital deixa claro que o tema da redação será baseado nos conteúdos específicos do seu bloco temático. Por isso, a primeira coisa a fazer é ler os anexos do seu bloco e marcar os tópicos que mais aparecem nas provas objetivas. Por exemplo, se você está no bloco de Administração, é comum ver questões sobre gestão por competências, planejamento estratégico ou políticas de recursos humanos. Pegue esses conceitos e já pense em como eles podem ser usados como argumentos.
Uma boa estratégia é criar um pequeno banco de argumentos para cada tema recorrente. Anote definições, exemplos de políticas públicas, estatísticas relevantes (desde que estejam no edital) e, se possível, cite autores reconhecidos. Na hora da prova, basta adaptar o que já está preparado ao enunciado específico.
Dicas de quem já passou por isso: a professora Letícia Bastos
Eu conversei com a Letícia, que tem experiência como professora de redação para concursos, e ela compartilhou três pilares que todo candidato deve seguir:
- Revisão focada: não tente revisar tudo de uma vez. Priorize os pontos que mais tiram nota – coerência, coesão e gramática.
- Treino e simulação: faça redações cronometradas, respeitando o limite de 30 linhas. Depois, compare seu texto com o gabarito da banca (quando disponível) ou peça a um colega para avaliar.
- Simulação completa: pelo menos uma vez, faça a prova inteira, incluindo a objetiva e a discursiva, para sentir o ritmo e a pressão do dia.
Ela ainda recomenda reservar os últimos 5‑10 minutos da prova para uma revisão rápida: verifique se o tema foi atendido, se há erros de concordância e se alguma palavra foi escrita com a grafia errada.
Horários e logística da prova discursiva
Os portões se fecham às 12h30 (horário de Brasília) e a prova começa às 13h. Para o nível superior, você tem até as 16h para escrever (três horas). O caderno de questões pode ser retirado a partir das 15h. Já no nível intermediário, o tempo é de duas horas, terminando às 15h, com retirada do caderno a partir das 14h. Em ambos os casos, o candidato deve permanecer na sala por, no mínimo, uma hora após o término, entregando a folha de respostas e assinando a ata.
Erros que podem zerar a sua nota – e como evitá‑los
Além das regras da folha definitiva, há alguns deslizes que costumam custar pontos preciosos:
- Esquecer de colocar a assinatura (não, não é permitido – a falta de assinatura também pode ser considerada violação).
- Usar caneta de cor diferente: a banca aceita apenas preto ou azul. Qualquer outra cor é invalidada.
- Rasuras exageradas: se o corretor não conseguir ler o que você escreveu, a nota pode ser zero.
- Escrever fora da margem: a folha tem linhas numeradas; ultrapassar o limite significa perda total da pontuação da questão.
- Fuga total do tema: responder algo que não tem nada a ver com o enunciado elimina a nota.
A solução? Treine em folhas semelhantes à oficial, respeitando as linhas e usando apenas caneta preta ou azul. Crie o hábito de revisar rapidamente a posição do texto antes de entregar.
Como a primeira fase do CNU 2025 nos prepara para a discursiva
A primeira fase, realizada em outubro, trouxe algumas novidades que influenciam a forma como nos preparamos para a redação. Primeiro, foram produzidas 36 versões diferentes da prova objetiva, o que aumentou a segurança contra fraudes. Segundo, o candidato pôde levar o caderno de questões para casa – mas apenas se permanecesse na sala até o final da prova. Essa medida incentivou a revisão cuidadosa dos conteúdos específicos, que são exatamente os mesmos que aparecerão nas questões discursivas.
Além disso, a taxa de comparecimento foi alta (cerca de 60% dos inscritos), mostrando que o CNU está atraindo um público sério e bem preparado. Essa competitividade eleva ainda mais a importância de se destacar na prova discursiva, já que a diferença entre candidatos pode ser mínima.
Blocos temáticos: onde encontrar os conteúdos específicos
O CNU 2025 está dividido em nove blocos temáticos. Cada bloco tem anexos que listam os tópicos que podem aparecer nas provas. Aqui vai um resumão rápido:
- Seguridade Social: políticas de previdência, saúde pública e assistência social.
- Cultura e Educação: legislação cultural, políticas educacionais, financiamento de projetos artísticos.
- Ciências, Dados e Tecnologia: ciência de dados, inovação, regulação tecnológica.
- Engenharias e Arquitetura: gestão de obras, normas técnicas, sustentabilidade.
- Administração: gestão por competências, planejamento estratégico, governança.
- Desenvolvimento Socioeconômico: políticas de desenvolvimento regional, economia solidária.
- Justiça e Defesa: direito constitucional, segurança pública, defesa civil.
- Intermediário – Saúde: sistemas de saúde, políticas de atenção básica.
- Intermediário – Regulação: regulação de serviços públicos, agências reguladoras.
O truque é estudar esses anexos como se fossem o próprio conteúdo da redação. Cada tópico pode virar um argumento, então anote definições, exemplos e números que você pode usar na hora H.
Ferramentas e recursos para treinar a discursiva
Eu costumo usar três recursos principais:
- Aplicativos de cronometragem: o Focus Keeper ajuda a dividir o tempo em blocos (por exemplo, 20 minutos para rascunho, 25 minutos para escrita, 5 minutos para revisão).
- Modelos de folha oficial: baixe PDFs da FGV que reproduzem a folha de respostas. Imprima e pratique a escrita dentro das linhas.
- Grupos de estudo online: plataformas como Discord ou Telegram têm salas específicas para o CNU, onde os participantes trocam temas, corrigem redações e dão feedback rápido.
Essas ferramentas dão ritmo e ajudam a internalizar as regras antes do dia da prova.
O que esperar dos próximos passos?
Depois da aplicação da discursiva (7 de dezembro), o calendário segue assim:
- 23 de janeiro de 2026 – divulgação da nota preliminar e espelho de correção.
- 26‑27 de janeiro de 2026 – prazo para recursos.
- 18 de fevereiro de 2026 – resultado dos recursos e nota definitiva.
- 20 de fevereiro de 2026 – publicação das listas de classificação (vagas imediatas e lista de espera).
Fique de olho nesses prazos, porque um recurso bem fundamentado pode recuperar alguns pontos perdidos por questões de interpretação ou erros formais.
Resumo prático: checklist de última hora
- Releia o edital e os anexos do seu bloco temático.
- Monte um banco de argumentos (conceitos, exemplos, dados).
- Treine redações de 30 linhas usando a estrutura 4‑parágrafos.
- Faça simulados cronometrados e use a folha oficial para praticar a escrita.
- Na véspera, revise regras da folha definitiva (caneta, linhas, proibição de assinatura).
- No dia da prova, chegue cedo, leve somente o material permitido e mantenha a calma.
- Durante a redação, siga o plano de 4‑parágrafos e use conectivos para garantir coesão.
- Reserve os últimos 5‑10 minutos para revisar ortografia, concordância e se o tema foi atendido.
Seguindo esse roteiro, você transforma a prova discursiva de um obstáculo assustador em uma oportunidade de brilhar.
Considerações finais
O CNU 2025 traz um formato de prova discursiva que, à primeira vista, parece complexo. Mas, como tudo na vida, ele se resume a detalhes: entender a estrutura, respeitar as regras da folha, dominar o conteúdo do seu bloco e praticar a escrita dentro do tempo limitado. Se você encarar cada ponto como uma peça de um quebra‑cabeça, a montagem fica muito mais fácil.
Eu espero que esse texto tenha ajudado a clarear as ideias e a reduzir a ansiedade. Lembre‑se: a prova discursiva não é um bicho de sete cabeças, mas sim uma chance de mostrar que você sabe comunicar ideias de forma clara e objetiva – uma habilidade essencial para qualquer cargo público.
Boa sorte, e que a caneta (preta ou azul) esteja sempre ao seu favor!




