Quando ouvi pela primeira vez sobre o Programa Carro Sustentável, confesso que fiquei meio cético. Afinal, desconto de imposto parece sempre algo que beneficia o governo ou os grandes grupos, não o consumidor comum. Mas, depois de acompanhar os números que a Anfavea divulgou – mais de 200 mil emplacamentos em menos de cinco meses – percebi que há algo realmente diferente acontecendo nas concessionárias brasileiras.
O que é o Programa Carro Sustentável?
Em termos simples, o programa zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos compactos que cumpram critérios de eficiência energética e uso de materiais recicláveis. A ideia é incentivar a produção e a compra de carros que emitam menos CO₂ e que, ao mesmo tempo, usem mais de 80% de componentes recicláveis. Para que um modelo seja elegível, ele precisa:
- Emitir menos de 83 g de CO₂ por quilômetro;
- Conter mais de 80 % de materiais recicláveis;
- Ser fabricado integralmente no Brasil (soldagem, pintura, motor, montagem);
- Se enquadrar na categoria de carro compacto.
Se o veículo não atingir todos esses requisitos, ele ainda pode receber um desconto parcial no IPI, que passa a ser calculado com base em eficiência, potência, segurança e reciclabilidade.
Como o IPI Verde impactou as vendas?
Os números são impressionantes. Desde o início, em 11 de julho, o programa já contabilizou 201,4 mil unidades emplacadas – um salto de 14,5 % em relação ao mesmo período do ano passado. O crescimento não foi uniforme, mas quase todos os meses registraram aumento de dois dígitos:
- Julho: 30 mil unidades (31,8 % acima de 2024);
- Agosto: 40 mil unidades (22,1 % acima);
- Setembro: 39 mil unidades (20,5 % acima);
- Outubro: 45 mil unidades (12,7 % acima);
- Novembro: 47 mil unidades (1,8 % abaixo).
O destaque ficou para o varejo – a compra feita em concessionárias – que viu um salto de 51,6 % nos emplacamentos (de 30,9 mil para 46,8 mil). Já a venda direta, que atende frotas, locadoras e compradores com direito ao desconto PcD, cresceu modestamente, 6,6 %.
Por que isso importa para o seu bolso?
O IPI costuma ser um dos impostos que mais pesa no preço final de um carro novo. Quando ele é zerado, o desconto pode chegar a R$ 4 mil ou mais, dependendo do modelo. Para quem está comprando o primeiro carro, ou para quem quer trocar um velho por algo mais econômico, essa diferença pode ser decisiva.
Além do preço de compra, os veículos do programa são, em média, mais econômicos no consumo de combustível, o que gera economia mensal ao longo da vida útil do carro. Se considerarmos um consumo 5 % menor, a conta de gasolina pode cair cerca de R$ 150 por mês, ou R$ 1.800 por ano – dinheiro que volta para a conta do consumidor.
Quais modelos estão na lista?
Até o momento, a Anfavea liberou a seguinte relação de veículos que já se qualificam para o IPI zero:
- Renault Kwid;
- Fiat Mobi;
- Fiat Argo;
- Hyundai HB20 e HB20S;
- Volkswagen Polo, Saveiro, T‑Cross e Nivus;
- Chevrolet Onix e Onix Plus.
Esses são os carros que você costuma ver nas ruas das cidades brasileiras, então a proposta não está focada em nichos de luxo, mas sim em quem realmente precisa de um carro acessível e menos poluente.
Vantagens e críticas ao programa
Pró:
- Incentivo real à produção nacional. Como a regra exige fabricação completa no Brasil, as montadoras têm um motivo a mais para manter ou ampliar suas linhas de produção local.
- Redução de emissões. Cada carro que emite menos de 83 g de CO₂ ajuda a cumprir metas climáticas globais, ainda que de forma incremental.
- Alívio financeiro. O desconto no IPI pode ser a diferença entre fechar ou não um negócio.
Contra:
- Limitação de modelos. Ainda são poucos os veículos que atendem a todos os critérios, o que pode deixar quem prefere outro modelo de fora.
- Dependência de políticas futuras. O programa tem validade temporária; se o governo mudar a regra, o benefício pode desaparecer.
- Impacto fiscal limitado. O governo afirma que o programa não afetará a arrecadação, mas críticos apontam que a redução de IPI pode gerar perda de receita em um momento de necessidade de recursos.
O que esperar nos próximos anos?
O presidente da Anfavea, Igor Calvet, já sinalizou que o programa deve entrar em um “platô” de estabilidade após o pico inicial. Isso faz sentido: os consumidores que tinham pressa em aproveitar o benefício já compraram, e agora o mercado vai se ajustar ao novo patamar de preço.
Entretanto, há sinais de que o governo pretende ampliar a tabela de descontos, criando faixas de IPI reduzido para veículos que ainda não chegam ao zero, mas que apresentam boa eficiência. Se isso acontecer, poderemos ver mais modelos entrando no programa, inclusive SUVs compactos que vêm ganhando espaço nas cidades.
Dicas práticas se você está pensando em aproveitar o IPI Verde
- Faça a lista dos modelos que te interessam. Verifique se eles estão na lista oficial – o site da Anfavea costuma atualizar.
- Negocie na concessionária. Mesmo com o IPI zero, há margem para descontos adicionais, principalmente se você já tem um carro para dar de troca.
- Considere o custo total de propriedade. Olhe para consumo de combustível, seguro e manutenção. Carros mais leves e com motores menores costumam ser mais baratos ao longo do tempo.
- Fique de olho nas mudanças regulatórias. O programa tem validade de 90 dias para novas regras de cálculo do IPI, então aproveite enquanto o benefício está em plena força.
Conclusão
O Programa Carro Sustentável mostrou que política fiscal pode ser usada para direcionar o comportamento de consumo de forma positiva. Mais de 200 mil brasileiros já tiraram proveito do IPI verde, e isso se traduziu em mais de 14 % de crescimento nas vendas de veículos populares. Para quem busca um carro novo, o programa oferece não só um desconto imediato, mas também a oportunidade de contribuir – ainda que modestamente – para um futuro com menos emissões.
Se você está no mercado, vale a pena pesquisar, comparar e, sobretudo, não deixar o benefício passar despercebido. Afinal, um carro que custa menos e ainda ajuda o planeta tem um apelo difícil de ignorar.




