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Caixa volta a liberar dois financiamentos ao mesmo tempo: o que isso significa para quem quer a casa própria

Caixa volta a liberar dois financiamentos ao mesmo tempo: o que isso significa para quem quer a casa própria

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Um alívio para quem sonha com a casa própria

Se você acompanha as notícias sobre crédito imobiliário, já deve ter visto a manchete: a Caixa Econômica Federal permite novamente que clientes contratem mais de um financiamento simultâneo usando recursos do SBPE. Para quem está tentando comprar o primeiro apartamento ou investindo em um imóvel para alugar, a mudança pode ser um verdadeiro ponto de virada.

Entendendo o que mudou

Até novembro de 2024, a Caixa tinha uma regra rígida: se você já tinha um financiamento habitacional ativo – e isso incluía o seu cônjuge, independentemente do regime de casamento – não podia abrir outro crédito imobiliário no banco. A medida foi tomada porque o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) estava com pouca liquidez. Em termos simples, havia muita demanda por crédito, mas poucos recursos disponíveis para atender a todos.

Agora, depois de 13 meses de restrição, a Caixa anunciou que essa barreira foi retirada. Você pode, sim, ter dois (ou até mais) financiamentos ao mesmo tempo, contanto que eles sejam operados dentro do SBPE.

Por que o SBPE é importante?

O SBPE é formado principalmente pelos depósitos de poupança. Quando você coloca dinheiro na caderneta, parte dele pode ser usado pelos bancos para conceder crédito habitacional. É uma das principais fontes de financiamento de casas no Brasil, junto com o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).

Os financiamentos que utilizam recursos do SBPE têm algumas características que os tornam atraentes:

  • Saldo devedor corrigido pela Taxa Referencial (TR);
  • Juros a partir de 10,99% ao ano;
  • Prazo de pagamento de até 420 meses (35 anos).

Essas condições são bastante competitivas, sobretudo para quem busca parcelas menores ao longo de muitos anos.

O que motivou a mudança?

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, explicou que a decisão só foi possível depois que o Banco Central alterou as regras dos depósitos compulsórios da poupança. Basicamente, parte dos recursos que antes ficava “preso” na caderneta pode agora ser direcionada ao crédito imobiliário. Isso aumenta a disponibilidade de recursos para os bancos e, consequentemente, a capacidade de conceder mais empréstimos.

Além disso, a mudança faz parte de um pacote de medidas anunciadas pelo governo em outubro passado, que tem como objetivo impulsionar a construção civil e facilitar o acesso ao crédito. Entre as ações estão o aumento do limite de financiamento pelo SBPE e SFH, a ampliação do uso do FGTS no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) e a flexibilização dos compulsórios.

Como isso afeta a sua vida prática?

Vamos a alguns cenários que ilustram o impacto real dessa liberação:

  1. Famílias que compram a primeira casa e depois ampliam: Imagine que você acabou de comprar seu apartamento de 2 quartos. Dentro de dois anos, a família cresce e vocês precisam de mais espaço. Antes, seria preciso quitar ou renegociar o primeiro financiamento antes de buscar um segundo. Agora, é possível contratar um novo crédito para a compra de uma casa maior, mantendo o primeiro financiamento ativo.
  2. Investidores que diversificam: Se você compra um imóvel para alugar e, ao mesmo tempo, quer adquirir outro para revenda, a possibilidade de ter dois financiamentos simultâneos abre margem para estratégias mais agressivas, sem precisar esperar a quitação total de um deles.
  3. Casais que dividem responsabilidades: Mesmo que o casal tenha regime de comunhão parcial ou total, a nova regra permite que ambos solicitem financiamentos diferentes, desde que os contratos estejam no nome de cada um. Isso pode ser útil para quem quer dividir os custos ou proteger o patrimônio.

É claro que, apesar da oportunidade, a decisão de assumir mais de um financiamento deve ser tomada com cautela. O comprometimento de renda aumenta, e o risco de inadimplência pode crescer se a situação financeira mudar.

Dicas para quem pensa em usar a nova regra

  • Faça um planejamento detalhado: Calcule o total de parcelas mensais, considerando ambos os financiamentos, e verifique se o seu orçamento comporta esse valor sem apertar demais outras despesas.
  • Considere a taxa de juros e o prazo: Nem sempre o financiamento mais longo é a melhor escolha. Avalie se vale a pena estender o prazo para reduzir a parcela ou se prefere pagar mais agora para economizar juros no futuro.
  • Use o FGTS a seu favor: O Fundo de Garantia pode ser usado para amortizar ou liquidar parte do saldo devedor, reduzindo o valor das parcelas.
  • Cheque sua pontuação de crédito: Uma boa classificação no SPC/Serasa pode garantir condições mais vantajosas e facilitar a aprovação de um segundo financiamento.
  • Não ignore os custos adicionais: Taxas de cartório, seguros obrigatórios e despesas de registro podem pesar no orçamento inicial.

O que esperar do mercado imobiliário?

Analistas apontam que a flexibilização do crédito pode gerar um leve aumento na demanda por imóveis residenciais, principalmente nas regiões metropolitanas onde a oferta de terrenos é limitada e os preços são mais altos. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba podem sentir esse impulso nas próximas semanas.

Ao mesmo tempo, construtoras e incorporadoras podem acelerar lançamentos, já que o acesso ao financiamento costuma ser um dos principais gatilhos para a compra. Se você está de olho em um novo condomínio ou em um projeto de revitalização urbana, pode ser um bom momento para começar a conversar com um consultor da Caixa.

Cuidados finais

Embora a notícia seja animadora, vale lembrar que o crédito imobiliário ainda depende da saúde financeira do país. Se houver nova alta na taxa Selic ou mudanças nas políticas de crédito, as condições podem se ajustar novamente.

Portanto, meu conselho – como alguém que já passou por duas compras de imóvel – é: use a oportunidade, mas faça isso com os pés no chão. Avalie seu plano de vida, converse com um especialista e, se tudo fizer sentido, aproveite para transformar o sonho da casa própria em realidade.

Conclusão

A decisão da Caixa de permitir mais de um financiamento ao mesmo tempo abre portas para quem precisa de mais flexibilidade financeira, seja para ampliar a família, investir ou simplesmente melhorar a qualidade de vida. Com juros ainda atrativos e prazos longos, o SBPE continua sendo uma das ferramentas mais acessíveis para quem quer comprar um imóvel.

Se você está pensando em aproveitar essa novidade, comece a reunir a documentação, faça simulações e, principalmente, mantenha o controle das suas finanças. O futuro da sua casa pode estar a poucos cliques de distância.