Um passo oficial rumo ao controle do vício em apostas
Na última quarta‑feira (10), o Ministério da Fazenda lançou uma ferramenta que, à primeira vista, pode parecer simples: um botão para você se “autoexcluir” dos sites de apostas online. Mas por trás desse recurso há uma estratégia reconhecida pela ciência como essencial para reduzir os danos à saúde mental da população. Se você já se pegou pensando em abrir uma conta em casas de apostas, ou se conhece alguém que tem dificuldades em parar, vale a pena entender como funciona e o que isso significa no dia a dia.
Como funciona a autoexclusão centralizada?
O serviço está disponível no endereço gov.br/autoexclusaoapostas. O processo é bem direto:
- Você cria (ou usa) seu login no portal gov.br;
- Escolhe o período de exclusão – 1, 3, 6, 12 meses ou indeterminado;
- Confirma a escolha e recebe um documento que comprova a sua decisão.
Uma vez escolhido o prazo, não há como reverter a exclusão enquanto ele estiver ativo. Só quem opta pelo período indeterminado tem um prazo de um mês para mudar de ideia.
Por que essa medida é tão importante?
O Brasil tem registrado um aumento significativo nas apostas digitais, impulsionado pela popularização dos smartphones e pela facilidade de acesso a plataformas internacionais. Segundo estudos da Organização Mundial da Saúde, o jogo problemático pode desencadear ansiedade, depressão e até levar a situações de endividamento grave. A autoexclusão centralizada funciona como um “corte de energia” que impede que o CPF do usuário seja usado para novos cadastros ou para receber publicidade de casas de apostas.
Além de bloquear o acesso, a ferramenta também coleta informações valiosas sobre o motivo da exclusão – seja por decisão voluntária, dificuldades financeiras, recomendação de profissional de saúde, perda de controle ou preocupação com a privacidade dos dados. Esses dados ajudam o governo a mapear perfis de risco e a direcionar políticas públicas mais eficazes.
O que acontece depois da exclusão?
Ao concluir o procedimento, o usuário tem acesso a uma série de recursos de apoio:
- Links para pontos de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS);
- Direcionamento ao Meu SUS Digital e à Ouvidoria do SUS para avaliação de possíveis vícios;
- Informações sobre teleatendimentos em saúde mental, que a partir de fevereiro de 2026 serão oferecidos em parceria com o Hospital Sírio‑Libanês.
Essas opções mostram que a medida vai além do bloqueio técnico – ela também oferece um caminho de tratamento e acompanhamento.
Prós e contras na prática
Prós
- Facilidade de acesso: tudo online, sem precisar de deslocamento ou papelada;
- Proteção de dados: o CPF fica indisponível para novos cadastros, reduzindo o risco de spam e ofertas agressivas;
- Suporte institucional: integração com o SUS e com serviços de saúde mental especializados;
- Autonomia: o próprio usuário decide o prazo e pode, se quiser, mudar de ideia dentro do prazo de um mês (no caso de exclusão indeterminada).
Contras
- Limitação ao CPF: se o usuário possuir múltiplos documentos (RG, passaporte) ainda pode tentar contornar a restrição;
- Dependência de internet: quem não tem acesso fácil ao portal gov.br pode encontrar dificuldades;
- Tempo de resposta: a confirmação da exclusão pode levar alguns dias, dependendo da integração com as casas de apostas.
Como usar a ferramenta passo a passo
- Acesse gov.br/autoexclusaoapostas e faça login com seu gov.br;
- Preencha seus dados pessoais e confirme que estão corretos;
- Selecione o prazo desejado – 1, 3, 6, 12 meses ou indeterminado;
- Escolha (ou não) informar o motivo da exclusão;
- Leia e aceite os termos de uso;
- Finalize e aguarde o documento de confirmação que será enviado por e‑mail.
Pronto! Seu CPF agora está bloqueado para novos cadastros em sites de apostas e você não receberá mais propaganda dessas plataformas.
O que fazer se você ainda sente vontade de apostar?
A autoexclusão não resolve, por si só, a raiz do problema. Se o impulso continuar, considere:
- Buscar apoio de um psicólogo ou psiquiatra especializado em dependência de jogos;
- Participar de grupos de apoio, como os Gamblers Anonymous, que oferecem troca de experiências;
- Utilizar aplicativos de controle de gastos para monitorar despesas e evitar recaídas;
- Conversar com familiares ou amigos de confiança, criando uma rede de suporte.
Lembre‑se de que reconhecer a dificuldade já é um grande passo. A ferramenta do governo serve como um “trava‑porta” que pode dar o tempo necessário para buscar ajuda profissional.
Perspectivas para o futuro
Com a implementação da autoexclusão centralizada, o Brasil se alinha a países como Reino Unido, Austrália e Canadá, que já adotam sistemas semelhantes há anos. A expectativa é que, ao combinar bloqueio técnico com suporte de saúde mental, haja uma redução significativa nos casos de vício em apostas nos próximos cinco anos.
Além disso, a parceria com o Hospital Sírio‑Libanês para teleatendimento pode abrir portas para outras iniciativas digitais de saúde, como acompanhamento de dependência de álcool, jogos eletrônicos e até compulsões alimentares.
Minha experiência pessoal
Confesso que, quando ouvi falar da ferramenta, pensei que seria “mais uma burocracia”. Porém, ao conversar com um amigo que já havia tentado parar de apostar e acabou se endividando, percebi o quanto um bloqueio simples poderia ser libertador. Ele me contou que, depois de se autoexcluir, conseguiu focar nos estudos e, com o apoio de um psicólogo, reconstruiu sua relação com o dinheiro.
Se você está lendo este texto e sente que pode estar em risco, experimente a ferramenta. Não há custo, é rápido e, sobretudo, coloca você no controle da própria vida.
Conclusão
A autoexclusão nas apostas online chega como uma resposta prática e baseada em evidência científica para um problema que tem crescido no Brasil. Ao bloquear o CPF e oferecer recursos de saúde, o governo cria um caminho que pode salvar finanças, relacionamentos e, sobretudo, a saúde mental de milhares de pessoas. Use essa oportunidade, explore os serviços de apoio e, se precisar, procure ajuda profissional. A decisão de se proteger está ao seu alcance – basta dar o primeiro passo.




