Na última semana, o Brasil viveu um daqueles momentos que a gente só vê em filmes de ação: ventos fortes, árvores caindo, semáforos apagados e milhões de casas sem luz. O que começou como um vendaval histórico em São Paulo acabou gerando um apagão que deixou mais de 2,2 milhões de clientes no escuro. Diante desse cenário, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu agir e mandou as distribuidoras de energia do Rio de Janeiro e de São Paulo reforçarem seus planos de contingência.
Por que a Aneel está intervindo agora?
Em termos simples, a Aneel quer evitar que situações como a de 10 de dezembro de 2025 se repitam. A agência explicou que a medida tem caráter preventivo: se as distribuidoras não cumprirem as exigências, podem enfrentar sanções. Isso não é só uma questão burocrática; trata‑se de garantir que, quando o clima virar contra a gente, a energia volte mais rápido e com menos transtornos.
O que são planos de contingência?
Planos de contingência são conjuntos de ações pré‑definidas para lidar com emergências. Eles servem para reduzir danos, manter a continuidade dos serviços e responder rapidamente a imprevistos. No caso das distribuidoras, esses planos precisam incluir:
- Mobilização de equipes treinadas para recompor a rede de distribuição;
- Procedimentos claros de comunicação com Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e autoridades locais;
- Protocolos de segurança para acidentes envolvendo veículos de grande porte, como trio‑elétricos.
O que aconteceu em São Paulo?
O vendaval de 10 de dezembro derrubou árvores, interrompeu voos e desligou semáforos em toda a capital e região metropolitana. No auge do apagão, mais de 2,2 milhões de clientes ficaram sem energia. Cinco dias depois, a Enel já anunciava a normalização do fornecimento para a Grande São Paulo, mas ainda havia cerca de 53 mil imóveis sem luz – número próximo da média em dias normais.
Além do desconforto, o evento gerou um volume enorme de chamadas de emergência: o Corpo de Bombeiros recebeu 1.412 chamados apenas por quedas de árvores. Essa pressão sobre os serviços de emergência evidencia a importância de um plano bem estruturado.
Multas e histórico de penalidades
A Enel SP já acumula R$ 374 milhões em multas desde 2020, aplicadas pela Aneel e pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp). O que chama atenção é que a empresa ainda não pagou mais de 92% desse valor. Recentemente, a Aneel solicitou à Enel uma série de documentos detalhados sobre a atuação da companhia durante o apagão, como fotos, laudos meteorológicos, linha do tempo das decisões e gráficos de recomposição.
Essas exigências mostram que a agência está cada vez mais rigorosa e que as empresas não podem se dar ao luxo de “esquecer” de investir em preparação.
Como isso afeta o consumidor?
Para quem mora em São Paulo ou Rio de Janeiro, a notícia tem um lado prático:
- Menos tempo sem luz: com equipes mais bem treinadas e protocolos claros, a energia volta mais rápido.
- Mais segurança: procedimentos de interlocução com bombeiros e defesa civil reduzem riscos de acidentes e garantem que a população receba orientações corretas.
- Transparência: a exigência de relatórios detalhados permite que o consumidor acompanhe o desempenho da distribuidora.
Mas há um ponto de atenção: se as multas não forem pagas, as distribuidoras podem ter menos recursos para investir em infraestrutura, o que pode gerar novos problemas no futuro. Por isso, é fundamental que a Aneel continue fiscalizando e que as empresas cumpram suas obrigações.
O que podemos fazer enquanto isso?
Mesmo que a Aneel esteja trabalhando nos bastidores, nós, consumidores, podemos adotar algumas medidas simples para se preparar para possíveis apagões:
- Monte um kit de emergência: lanternas, pilhas, carregadores portáteis e um pequeno estoque de água e alimentos não perecíveis.
- Desconecte aparelhos eletrônicos: isso protege seus equipamentos de picos de energia quando a luz voltar.
- Fique atento aos avisos da sua distribuidora: muitas empresas enviam SMS ou notificações em aplicativos quando há risco de interrupção.
- Participe de associações de bairro: grupos organizados costumam ter planos de comunicação mais rápidos em situações de crise.
Essas atitudes não substituem um plano de contingência bem estruturado, mas ajudam a minimizar o desconforto até que a energia seja restabelecida.
O futuro da energia nas grandes cidades
O que estamos vendo agora pode ser apenas a ponta do iceberg. Com as mudanças climáticas, eventos extremos como vendavais, tempestades e ondas de calor devem se tornar mais frequentes. As distribuidoras precisarão investir não só em protocolos de emergência, mas também em tecnologias que tornem a rede mais resiliente:
- Smart grids (redes inteligentes): sistemas que detectam falhas em tempo real e redirecionam energia automaticamente.
- Armazenamento de energia: baterias de grande escala que podem suprir áreas críticas durante quedas.
- Energia distribuída: painéis solares e microgeração em residências e comércios, reduzindo a dependência da rede central.
Essas inovações exigem apoio regulatório e investimentos, mas prometem reduzir a vulnerabilidade das cidades a apagões.
Conclusão
A decisão da Aneel de exigir reforço nos planos de contingência é um passo importante para proteger consumidores em São Paulo, Rio de Janeiro e, futuramente, em todo o país. Enquanto as distribuidoras ajustam suas equipes e processos, nós podemos nos preparar em casa, ficar atentos às comunicações e apoiar políticas que incentivem uma rede elétrica mais moderna e resiliente.
Se você ainda não tem um plano de emergência, aproveite este momento para montar um. E, claro, acompanhe as notícias da sua distribuidora – a informação é a melhor aliada contra o escuro.




