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Macron bloqueia acordo UE‑Mercosul: o que isso significa para agricultores e consumidores

Macron bloqueia acordo UE‑Mercosul: o que isso significa para agricultores e consumidores

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Na última quinta‑feira, em Bruxelas, o presidente francês Emmanuel Macron deixou bem claro que a França não vai assinar o tão aguardado acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul se não houver novas garantias para os agricultores. A declaração pegou a imprensa e os mercados de surpresa, mas, ao mesmo tempo, trouxe à tona um debate que já vinha fervendo há meses nas ruas de Paris, nas fazendas da Normandia e até nas mesas de negociação de Berlim.

Por que o acordo UE‑Mercosul está em jogo?

O tratado, que levou mais de 20 anos para ser negociado, tem como objetivo principal reduzir ou eliminar tarifas entre os dois blocos. Em teoria, isso abre portas para que produtos como carne bovina, soja, açúcar e vinho circulem com menos impostos, beneficiando exportadores e, quem sabe, diminuindo preços para o consumidor final.

Mas a realidade é mais complexa. Enquanto alguns países europeus enxergam o acordo como uma oportunidade de diversificar mercados e impulsionar setores como tecnologia e serviços, grande parte dos agricultores franceses vê nele uma ameaça direta à sua sobrevivência.

O medo dos agricultores franceses

Para entender a resistência, vale lembrar que a agricultura representa cerca de 3 % do PIB da França, mas tem um peso simbólico enorme na identidade nacional. Os produtores temem que a entrada de carne e soja sul‑americanas – cultivadas sob regras ambientais consideradas menos rigorosas – possa derrubar os preços internos.

Macron, ao falar diretamente aos agricultores, reforçou esse ponto:

“Consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”.

Ele também alertou contra qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto, deixando claro que a França pretende usar seu voto como ferramenta de negociação.

Quais são as salvaguardas já propostas?

O Parlamento Europeu aprovou recentemente um conjunto de medidas que funcionam como gatilhos de proteção:

  • Se o preço de um produto latino‑americano ficar 5 % abaixo do preço europeu, podem ser aplicadas tarifas temporárias.
  • Se o volume de importações isentas de tarifas ultrapassar 5 % do consumo interno, o mecanismo de salvaguarda pode ser acionado.

Essas regras parecem razoáveis, mas, para os produtores franceses, ainda são insuficientes. Eles pedem garantias mais rígidas, como limites de quota de importação e monitoramento ambiental mais estrito.

O papel decisivo da Itália e da maioria qualificada

No Conselho Europeu, a assinatura do acordo depende de uma maioria qualificada: pelo menos 15 dos 27 países, representando 65 % da população da UE. A França, com cerca de 67 milhões de habitantes, já tem um peso considerável, mas não chega a fechar a maioria sozinha.

A Itália, que tem cerca de 59 milhões de habitantes, pode ser o ponto de virada. Se o governo de Giorgia Meloni decidir apoiar o tratado, a combinação França‑Itália‑Polônia‑Hungria pode ser suficiente para bloquear ou aprovar o acordo, dependendo da aliança que se formar.

Impactos para o Brasil e demais países do Mercosul

Para o Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia, o acordo representa a chance de acessar um mercado de mais de 450 milhões de consumidores com tarifas reduzidas. Setores como soja, carne bovina e açúcar estão ansiosos por essa abertura.

Entretanto, a resistência europeia pode atrasar a assinatura prevista para o fim de semana em Foz do Iguaçu. Caso o acordo seja adiado ou modificado, os exportadores sul‑americanos podem enfrentar incertezas que afetam investimentos e cadeias de produção.

O que isso muda no nosso dia a dia?

Para quem vive fora da Europa, a notícia pode parecer distante, mas tem reflexos concretos:

  • Preços de alimentos: Se o acordo avançar, produtos importados podem ficar mais baratos, mas isso pode pressionar os agricultores locais em alguns países.
  • Qualidade e sustentabilidade: A disputa sobre normas ambientais levanta a questão de que tipo de produção queremos apoiar – mais barata ou mais responsável?
  • Empregos: Setores de exportação nos países do Mercosul podem gerar milhares de novos empregos, enquanto setores agrícolas europeus podem sentir pressão para se modernizar.

Perspectivas para o futuro

O que podemos esperar nos próximos meses?

  1. Negociações de última hora: Macron pode usar a ameaça de veto para conseguir concessões mais fortes de salvaguardas.
  2. Alinhamento italiano: A posição da Itália será decisiva; um apoio à França pode bloquear o acordo, enquanto um apoio ao bloco pode garantir a assinatura.
  3. Pressão pública: Manifestações de agricultores em Paris, Bruxelas e outras capitais europeias continuam, e a opinião pública pode influenciar os governos.
  4. Revisão de normas ambientais: O debate pode acelerar a harmonização de padrões de produção entre a UE e o Mercosul, algo que beneficiaria consumidores conscientes.

Em resumo, o bloqueio de Macron não é apenas um gesto político; ele reflete tensões profundas entre comércio global, soberania alimentar e sustentabilidade. Seja qual for o desfecho, o assunto ficará no radar dos negociadores, produtores e consumidores nos próximos anos.

E você, o que acha? Vale a pena abrir o mercado a produtos mais baratos, mesmo que isso signifique mais competição para os agricultores locais? Ou seria melhor proteger a produção nacional, ainda que isso implique preços mais altos nas prateleiras? Compartilhe sua opinião nos comentários – a discussão está apenas começando.