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A reta final do acordo UE‑Mercosul: por que o Brasil sente o frio na barriga?

A reta final do acordo UE‑Mercosul: por que o Brasil sente o frio na barriga?

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Se você acompanha as notícias de economia ou política internacional, provavelmente já ouviu falar do tão aguardado acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. A data marcada para a assinatura – 20 de dezembro, em Foz do Iguaçu, Paraná – está quase aí, mas o clima nos corredores de Bruxelas está mais tenso do que nunca. Eu mesmo, que costumo ler tudo que rola nos bastidores diplomáticos, fiquei curioso para entender por que o governo brasileiro está tão apreensivo e o que isso pode significar para a gente, consumidor e empresário.

Um acordo que vem de longe

Para colocar as coisas em perspectiva, a negociação começou em 1999. São 25 anos de conversas, idas e vindas, e a proposta final promete criar uma das maiores áreas de livre‑comércio do planeta: cerca de 718 milhões de pessoas e um PIB conjunto de US$ 22 trilhões. Em teoria, isso significa menos tarifas, mais exportações e importações mais baratas, e um impulso considerável para a competitividade das empresas brasileiras.

O que está em jogo agora?

Chegamos à fase decisiva: o acordo ainda precisa ser aprovado duas vezes na Europa – pelo Parlamento Europeu e, principalmente, pelo Conselho Europeu. Enquanto o Parlamento costuma decidir por maioria simples, o Conselho exige uma maioria qualificada: pelo menos 15 dos 27 países membros, representando 65 % da população da UE (cerca de 451 milhões de habitantes). Se falharem, o acordo pode ser enterrado de vez, e a chance de reabrir as negociações seria quase nula.

Quem são os protagonistas?

  • Brasil: maior economia do Mercosul, ansioso para diversificar mercados e reduzir a dependência da China.
  • Itália: com 59 milhões de habitantes, é o “fiel da balança”. Seu apoio ou oposição pode determinar o destino do tratado.
  • França e Polônia: os principais opositores, preocupados com os impactos nos setores agrícolas.
  • Alemanha, Espanha, Portugal e República Checa: defensores do acordo, vendo nele oportunidades de crescimento.

Por que a França está com o pé atrás?

Os agricultores franceses temem ser engolidos pela concorrência dos produtos agropecuários sul‑americanos – carne, soja, açúcar. Para amenizar o receio, a UE introduziu salvaguardas: se as exportações do Mercosul aumentarem mais de 5 % em relação ao ano anterior, a Europa pode suspender as vantagens tarifárias. Essas salvaguardas ainda precisam ser votadas, mas já dão uma ideia do nível de cautela que os europeus têm.

E a Itália, quem realmente pode decidir?

Com cerca de 36 % da população da UE (quando somada à França e Polônia), um “não” italiano poderia bloquear o acordo. Até o último encontro em Brasília, o diplomata italiano afirmou apoio, mas o clima geral ainda é de prudência. Se a Itália mudar de posição, o futuro do acordo pode mudar da noite para o dia.

O que isso significa para nós, brasileiros?

Vamos dividir em três pontos práticos:

  1. Produtos mais baratos: Se o acordo entrar em vigor, itens como vinho, queijo e chocolates europeus podem chegar ao Brasil com tarifas reduzidas, o que beneficia o consumidor final.
  2. Exportações em alta: Setores como carne bovina, soja e café teriam acesso facilitado ao mercado europeu, potencialmente aumentando receitas e gerando empregos.
  3. Risco de dependência: Uma queda repentina nas exportações europeias poderia deixar o Brasil vulnerável a flutuações de outros mercados, como a China.

Se o acordo não acontecer, para onde o Brasil vai?

Os analistas apontam que o país intensificará a busca por parceiros na Ásia. Já em 2025, a China comprou US$ 94 bilhões em produtos brasileiros – mais que o dobro das exportações para a UE (US$ 45 bilhões). Isso mostra que a China é um mercado já forte, mas ainda há espaço para diversificar ainda mais, talvez mirando a Índia, o Sudeste Asiático ou até mesmo acordos bilaterais com países do Oriente Médio.

Um panorama histórico rápido

Vale lembrar que o multilateralismo tem sido testado nos últimos anos. O acordo comercial entre EUA e UE, firmado após a guerra tarifária de Donald Trump, mostrou que blocos podem se unir contra pressões externas. A UE, ao fechar acordos mais favoráveis com os EUA, pode estar relutante em fazer um tratado tão “generoso” com o Mercosul, que ainda tem diferenças econômicas e regulatórias significativas.

Conclusão: esperança cautelosa

Eu vejo duas possibilidades claras:

  • Assinatura e aprovação: O Brasil ganha acesso a um dos maiores mercados consumidores do mundo, impulsionando exportações e trazendo mais variedade de produtos para as prateleiras.
  • Recuo europeu: O Brasil precisará acelerar a diversificação de parceiros comerciais, reforçando laços com a Ásia e talvez buscando novos acordos regionais na América Latina.

Independentemente do resultado, o que fica claro é que o comércio internacional está em constante mudança, e o Brasil precisa estar preparado para adaptar sua estratégia. Para nós, que acompanhamos de perto as notícias, o próximo fim de semana será decisivo. E você, o que acha? Vai ser um salto econômico ou mais um obstáculo a ser superado?

Fique ligado, porque a história ainda está sendo escrita, e o próximo capítulo pode mudar a forma como consumimos e produzimos no nosso dia a dia.