Na última quinta‑feira (18), Fernando Haddad, ministro da Fazenda, deixou o ar da sala de imprensa com uma mensagem que já está dando o que falar nos corredores do Palácio do Planalto e nas rodas de conversa dos analistas econômicos. Ele disse que pretende deixar o cargo até fevereiro de 2026 para, supostamente, ajudar na campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. Mas, além da política, o que essa possível troca de comando traz de concreto para a gente, cidadão comum, que sente o peso das contas públicas no bolso?
Por que Haddad quer sair?
Em um café de final de ano com jornalistas, Haddad explicou que ser ministro da Fazenda e, ao mesmo tempo, participar ativamente da campanha presidencial são papéis incompatíveis. Ele contou que conversou com Lula e que, se o presidente aceitar seu pedido, a pasta passará por uma transição antes de fevereiro de 2026. A ideia, segundo o próprio ministro, é garantir que a equipe da Fazenda tenha tempo suficiente para concluir dois trabalhos críticos:
- Os ajustes no orçamento de 2025, que ainda vão ser definidos ao longo do próximo ano;
- A proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2027, que deve estar pronta até abril de 2026.
Esses dois momentos são decisivos porque definem quanto o governo pode gastar, onde cortar e quais reformas devem ser avançadas. Se a liderança mudar antes desses prazos, há risco de atrasos ou de perder a coerência nas políticas fiscais.
Quem pode assumir? Dario Durigan no radar
Haddad não revelou oficialmente quem será seu sucessor, mas deu indícios de que o número 2 da pasta, Dario Durigan, tem boas chances. Durigan já atua como secretário‑especial de Política Fiscal e tem experiência em negociações com o mercado. Caso ele assuma, a expectativa é de continuidade nas linhas de política adotadas até agora: foco em reformas de gastos e manutenção da credibilidade fiscal.
Os “ajustes” no arcabouço fiscal: o que muda?
Além da saída, Haddad admitiu que podem ser necessários “ajustes nos parâmetros” do arcabouço fiscal aprovado em 2023. Para quem não acompanha de perto, o arcabouço é basicamente um conjunto de regras que limitam o crescimento dos gastos públicos. Atualmente, as despesas não podem crescer mais de 70 % da alta das receitas, com um limite de 2,5 % ao ano acima da inflação.
O ministro sugeriu que esses números podem ser revisados – subir ou descer – dependendo das condições econômicas. Por exemplo, mudar o limite de 70 % para 60 % ou 80 %, ou ajustar a taxa de crescimento real de 2,5 % para 2 % ou 3 %.
Mas ele reforçou que a “arquitetura” do arcabouço – ou seja, a estrutura geral – permanecerá. Isso é importante porque o mercado financeiro tem reagido positivamente à estabilidade das regras, ajudando a manter a confiança nos títulos públicos brasileiros.
Reforma de gastos: a agenda que não pode parar
Haddad foi enfático ao dizer que a continuidade das reformas de gastos públicos é essencial. Ele apontou que a alta dos juros – que chegou a 15 % ao ano – não foi causada apenas pelos gastos, mas também pela “desancoragem” do ano passado, quando o ajuste do Imposto de Renda gerou muita turbulência.
Em termos práticos, isso significa que o governo continuará buscando cortar despesas supérfluas, melhorar a eficiência dos serviços públicos e, possivelmente, avançar com a reforma administrativa. Para a gente, isso pode se traduzir em menos desperdício de recursos e, quem sabe, em serviços mais ágeis.
Jornada 6 por 1: o debate que pode virar tema de campanha
Durante a entrevista, Haddad também trouxe à tona a discussão sobre a jornada de trabalho de 6 dias por 1 de folga, que tem circulado no Congresso. Lula, segundo o ministro, é simpático à ideia, mas deixa claro que não se trata de uma iniciativa do Executivo, e sim de um pleito da sociedade e dos empresários.
Se esse tema ganhar força, pode aparecer nos discursos de campanha de 2026, principalmente como forma de atrair eleitores que defendem maior flexibilidade no horário de trabalho. Para quem trabalha em setores que já têm a jornada de 40 horas, a proposta pode parecer redundante; mas para outros segmentos, pode representar uma mudança significativa.
O que isso tudo muda no seu dia a dia?
Você pode estar se perguntando: “E eu, como cidadão, como isso me afeta?”. Aqui vão alguns pontos práticos:
- Inflação e juros: Se o governo mantiver a disciplina fiscal, há mais chance de que a inflação se mantenha sob controle e que os juros não subam ainda mais. Isso impacta o custo do crédito – empréstimos, financiamentos e até o cartão de crédito.
- Orçamento de saúde e educação: Ajustes no arcabouço podem influenciar quanto o governo vai conseguir investir nessas áreas. Um limite mais rígido pode significar cortes, mas também pode forçar a busca por eficiência.
- Investimento privado: A estabilidade das regras fiscais costuma atrair investidores estrangeiros. Mais investimento pode gerar mais empregos e, a longo prazo, melhorar a renda per capita.
- Campanha de 2026: Se Haddad se envolver na campanha, ele pode trazer ao debate temas como a jornada 6‑1, a reforma de gastos e a necessidade de manter a credibilidade fiscal, influenciando a agenda política dos próximos anos.
Próximos passos e o que observar
Para quem acompanha a política e a economia, alguns indicadores vão ser úteis nos próximos meses:
- Calendário de transição: Se a saída de Haddad for confirmada, fique de olho nas datas de nomeação do novo ministro e nos primeiros pronunciamentos dele.
- Debates no Congresso: A discussão sobre a jornada 6‑1 e os ajustes no arcabouço fiscal devem aparecer nas comissões de finanças e trabalho.
- Reação do mercado: Observe a variação dos juros (Selic) e dos spreads dos títulos públicos. Qualquer mudança brusca pode indicar que o mercado está reagindo a novidades fiscais.
- Campanha de Lula: Embora Haddad tenha afirmado que não pretende concorrer em 2026, sua proximidade com a campanha pode trazer novos temas à tona, como a necessidade de reformas estruturais.
Conclusão
O anúncio de Haddad sobre sua possível saída da Fazenda até fevereiro de 2026 abre um capítulo importante tanto para a política quanto para a economia brasileira. A mensagem central é clara: o governo quer garantir que a pasta da Fazenda esteja em mãos firmes para concluir o orçamento de 2025 e preparar a LDO de 2027, enquanto o próprio Haddad pode dedicar seu tempo à campanha de reeleição de Lula.
Para nós, isso significa que a estabilidade fiscal continua sendo um ponto de atenção. Se as regras do arcabouço forem ajustadas de forma equilibrada, podemos esperar menos volatilidade nos juros e mais confiança para investimentos. Por outro lado, mudanças bruscas ou cortes excessivos podem gerar debates intensos, especialmente em áreas como saúde e educação.
Em resumo, fique de olho nas próximas declarações do governo, nas discussões do Congresso e, claro, nas notícias sobre a campanha de 2026. Afinal, a forma como a Fazenda será conduzida nos próximos dois anos pode definir o ritmo da nossa economia nos próximos cinco.




