Na última terça‑feira, o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina cresceu 3,3% no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. O número ficou um pouquinho abaixo da expectativa dos analistas, que esperavam 3,5%, mas ainda assim traz boas notícias para quem acompanha a economia da região.
Por que esse crescimento importa?
Primeiro, vale entender que a Argentina é a terceira maior economia da América Latina, atrás só do Brasil e do México. Quando o PIB de um país desse porte dá sinal de recuperação, isso costuma reverberar em vários setores: exportações, investimentos estrangeiros, até a cotação do dólar na região. Para quem tem negócios que dependem de importação ou exportação, ou mesmo para quem pensa em viajar, esses números podem mudar a forma como o dinheiro circula.
O que impulsionou o resultado?
- Investimento fixo bruto: o maior motor do crescimento. Empresas estão colocando mais capital em máquinas, fábricas e infraestrutura.
- Setor financeiro: bancos e instituições de crédito mostraram resultados positivos, indicando que o crédito está mais disponível.
- Mineração e extração: a Argentina tem reservas importantes de minerais, e a demanda internacional ajudou a elevar a produção.
- Hospedagem e alimentação: o turismo interno e externo deu um gás, refletido em hotéis, restaurantes e serviços relacionados.
Esses setores são sensíveis a mudanças de confiança e a políticas econômicas. Quando eles dão sinal verde, costuma ser um indício de que o ambiente de negócios está melhorando.
Comparativo com o trimestre anterior
Em termos de variação trimestral, o PIB subiu apenas 0,3% em relação ao segundo trimestre, mas esse número já leva em conta o ajuste sazonal – ou seja, elimina oscilações típicas de determinadas épocas do ano, como férias ou colheitas. Mesmo que a alta pareça tímida, ela mostra que a economia não está mais em recessão, como foi o caso no final de 2023.
O contexto político: Javier Milei e as eleições de meio de mandato
Não dá para separar economia de política, ainda mais na Argentina, onde o presidente Javier Milei tem adotado uma agenda de austeridade bastante rígida. Nas eleições legislativas de outubro, o partido de Milei – La Libertad Avanza – garantiu uma vitória expressiva, indicando que parte da população apoia as reformas estruturais, mesmo que elas tragam cortes de gastos e aumentem a pressão sobre a conta pública.
Os analistas interpretam esse apoio como um sinal de que os eleitores estão cansados das crises recorrentes e preferem dar mais tempo ao governo para que as reformas surtam efeito. Essa confiança política pode ser um dos fatores que impulsionam o investimento privado, já que empresários tendem a se sentir mais seguros quando há estabilidade institucional.
Desafios que ainda permanecem
Apesar do crescimento, a Argentina ainda enfrenta problemas sérios:
- Inflação alta: o país continua lutando contra preços que sobem rapidamente, o que corrói o poder de compra da população.
- Consumo interno fraco: a confiança dos consumidores ainda está baixa, limitando a demanda por bens e serviços.
- Produção industrial sob pressão: setores como a indústria automotiva e de bens de consumo ainda sentem os efeitos da desvalorização cambial e dos custos de insumos.
Esses pontos mostram que, embora o PIB esteja crescendo, a recuperação ainda é frágil e depende de políticas que consigam equilibrar o controle da inflação com estímulos ao consumo.
Projeções para 2025
O governo de Milei tem metas ambiciosas: espera que a economia cresça 5,4% em 2025. Já a pesquisa de expectativas de mercado (REM) do Banco Central projeta um crescimento de 4,4% para o mesmo período. Ambas as previsões são otimistas, mas ainda realistas se considerarmos o ritmo atual de investimento e a estabilidade política que o presidente tem conseguido manter.
Se a Argentina conseguir alcançar esses números, os efeitos podem ser sentidos além de suas fronteiras: maior competitividade nas exportações, atração de capitais estrangeiros e, possivelmente, um fortalecimento do peso argentino frente ao dólar.
O que isso significa para nós, brasileiros?
Para quem mora no Brasil, o desempenho da Argentina tem algumas implicações práticas:
- Comércio bilateral: um crescimento argentino pode aumentar a demanda por produtos brasileiros, como alimentos, máquinas agrícolas e tecnologia.
- Turismo: se o setor de hospedagem e alimentação está em alta, pode ser um sinal de que mais argentinos vão viajar ao Brasil, impulsionando o turismo nas fronteiras.
- Investimentos: fundos de investimento que têm exposição à América Latina podem ajustar suas carteiras, favorecendo empresas que se beneficiam da recuperação argentina.
Além disso, acompanhar de perto esses indicadores nos ajuda a entender tendências macroeconômicas que, de alguma forma, afetam a taxa de câmbio, os preços de importação e até a inflação aqui.
Como ficar de olho nos próximos capítulos?
Se você quer acompanhar a evolução da economia argentina, vale prestar atenção em alguns indicadores-chave:
- Relatórios mensais do Indec sobre produção industrial e consumo interno.
- Decisões de política monetária do Banco Central da Argentina, principalmente as taxas de juros.
- Resultados das próximas eleições e possíveis mudanças no gabinete econômico.
- Fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) – eles costumam ser um termômetro da confiança internacional.
Com essas informações em mãos, fica mais fácil entender se a Argentina está realmente consolidando uma recuperação sustentável ou se ainda corre o risco de voltar à recessão.
Conclusão
O crescimento de 3,3% no PIB no terceiro trimestre mostra que a Argentina está saindo do buraco, mas ainda tem um longo caminho pela frente. As reformas de Javier Milei, o apoio político recente e o aumento dos investimentos são sinais positivos, porém a alta inflação e o consumo fraco ainda são obstáculos que precisam ser superados.
Para nós, brasileiros, a situação argentina pode representar oportunidades de negócios, turismo e investimentos, mas também exige cautela, já que a volatilidade ainda está presente. O melhor caminho é acompanhar os números de perto, entender as políticas que estão sendo implementadas e, claro, manter um olhar crítico sobre as projeções otimistas.
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