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Tarifas mexicanas: o que o aumento de impostos sobre China e Brasil significa para a gente

Tarifas mexicanas: o que o aumento de impostos sobre China e Brasil significa para a gente

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Na última quarta‑feira, o Senado do México deu um basta nas importações de uma dúzia de países – entre eles, a China e o Brasil – ao aprovar um aumento nas tarifas de importação. Se você ainda não ouviu falar disso, ou acha que a notícia fica restrita ao comércio entre México e esses países, segura aí que eu vou explicar o que está acontecendo, por que isso importa para o nosso dia a dia e quais são os possíveis caminhos que esse cenário pode abrir.

Como tudo começou?

Em setembro, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum apresentou um projeto de lei que, na prática, aumenta os impostos sobre produtos importados de países como China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Rússia, Tailândia, Turquia e, claro, Brasil. A proposta foi aprovada na Câmara dos Deputados e, depois de um debate que se estendeu até a noite, o Senado confirmou a medida com 76 votos a favor e apenas cinco contra. O plano deve entrar em vigor no dia 1º de janeiro de 2026.

Quais setores são mais afetados?

Não é só um aumento genérico: são 1.463 categorias de importação que vão sentir o peso da nova taxa. Entre elas, os setores automotivo, têxtil, vestuário, plásticos, eletrodomésticos e calçados. A ideia oficial é proteger a indústria mexicana, criar empregos locais e reduzir a dependência de produtos estrangeiros. Na prática, isso significa que um carro fabricado na Coreia do Sul, uma camiseta feita na China ou um eletrodoméstico importado da Turquia podem ficar mais caros para o consumidor mexicano.

Quanto aumentam as tarifas?

Originalmente, o projeto previa tarifas de até 50 % sobre alguns produtos. Depois de negociações no Congresso, a maioria das taxas foi reduzida para faixas entre 20 % e 35 %, mantendo o patamar máximo apenas em casos específicos. Mesmo assim, um aumento de 20 % já pode representar uma diferença significativa no preço final, especialmente em itens de consumo diário.

Por que o México está fazendo isso agora?

A resposta tem duas faces bem distintas:

  • Pressão dos Estados Unidos: O presidente dos EUA, Donald Trump, tem pressionado o México a não ser um “portão de entrada” para produtos chineses que entram no mercado americano. A ideia é que, se o México elevar suas tarifas, menos produtos chineses passarão por lá e acabarão nos Estados Unidos.
  • Estratégia de desenvolvimento interno: O governo mexicano quer fortalecer a produção nacional, criar cadeias de suprimentos mais curtas e, quem sabe, gerar mais empregos. O plano, chamado de “Plano México”, foi apresentado como uma resposta ao que a própria Sheinbaum chama de “dependência excessiva de importações”.

E a China, como reage?

Logo após o anúncio, Pequim declarou que não aceita nenhum tipo de “coerção” que limite suas exportações e sinalizou que poderia adotar medidas de retaliação. Até agora, não há detalhes concretos sobre o que a China pode fazer, mas a tensão já está no ar. O governo mexicano chegou a propor a criação de um “grupo de trabalho” com a China para discutir a medida, mas poucos detalhes foram divulgados.

O que isso significa para o Brasil?

Para quem produz ou exporta para o México, a notícia pode ser um baque. Produtos brasileiros que hoje chegam ao mercado mexicano com tarifas menores podem ver seus custos subir, tornando‑se menos competitivos. Isso pode afetar setores como:

  • Alimentos processados
  • Produtos têxteis e de vestuário
  • Automóveis e auto‑peças
  • Equipamentos eletrônicos

Se a sua empresa depende desses mercados, vale a pena repensar a estratégia: buscar parcerias locais, investir em produção dentro do México ou até mesmo diversificar os destinos de exportação.

Impacto no consumidor mexicano – e no brasileiro que compra lá

Um aumento de tarifa geralmente se traduz em preços mais altos nas prateleiras. Isso pode gerar duas consequências imediatas:

  1. Inflação: Produtos importados mais caros podem puxar o índice de preços ao consumidor para cima, reduzindo o poder de compra das famílias mexicanas.
  2. Mudança de hábitos de consumo: Os consumidores podem começar a procurar alternativas locais, o que, a longo prazo, pode estimular o crescimento de indústrias mexicanas.

Para os brasileiros que moram ou viajam ao México, a conta no cartão de crédito pode ficar mais pesada ao comprar roupas ou eletrônicos. Por outro lado, pode abrir espaço para marcas mexicanas que antes não competiam diretamente com produtos importados.

O debate interno no México

Nem todos no Senado concordaram com a medida. Cerca de 35 senadores se abstiveram, alegando que o projeto foi “preparado às pressas”, sem avaliar adequadamente os efeitos sobre a inflação. Alguns ainda questionaram se o México está realmente definindo sua própria política comercial ou simplesmente seguindo as ordens de Washington.

O senador Juan Carlos Loera, do partido Morena, defendeu a reforma como “único objetivo fortalecer a economia nacional”. Já Mario Humberto Vázquez, do PAN (oposição), levantou a suspeita de que o México está apenas reagindo – ou até obedecendo – às exigências americanas.

Próximos passos e o que observar

Com a lei já aprovada, o próximo passo é a publicação oficial da presidente Sheinbaum, que deve acontecer nos próximos dias. A partir de então, as empresas terão até 2026 para se adaptar às novas tarifas. Enquanto isso, alguns pontos merecem atenção:

  • Negociações do T‑MEC: O México está renegociando o Tratado entre México, Canadá e Estados Unidos. Qualquer mudança nas regras de origem pode influenciar ainda mais as tarifas.
  • Reações de outros países: China, Índia e outros países afetados podem buscar retaliações ou acordos bilaterais para contornar as tarifas.
  • Impacto na inflação mexicana: Se os preços subirem muito, o governo pode ter que intervir com políticas monetárias ou subsídios.

O que eu faria se fosse empresário?

Se eu fosse dono de uma empresa que exporta para o México, a primeira coisa seria analisar o portfólio de produtos que mais sofrerão com o aumento. Em seguida, avaliaria duas estratégias paralelas:

  1. Localização da produção: Montar uma fábrica ou parceria no México pode transformar a tarifa de importação em um custo interno, reduzindo o impacto no preço final.
  2. Diversificação de mercados: Redirecionar parte da produção para outros destinos – como a América do Sul, Europa ou até mesmo o próprio mercado interno brasileiro – para não ficar dependente de um único cliente.

Além disso, manter um canal de diálogo aberto com as autoridades mexicanas pode ajudar a antecipar mudanças regulatórias e até participar de grupos de trabalho que discutem a política tarifária.

Conclusão: um alerta para todos nós

Embora a notícia pareça distante, ela nos lembra como o comércio global está interligado. Uma decisão tomada em Washington, refletida em um voto no Senado mexicano, pode mudar o preço de um celular que eu pretendo comprar ou o custo de um carro importado que meu amigo quer vender. Para quem tem negócios que dependem de exportação, é um sinal claro de que é preciso estar sempre de olho nas políticas comerciais alheias.

Se você, leitor, tem alguma empresa que exporta para o México, ou simplesmente gosta de entender como decisões políticas afetam o seu bolso, vale a pena acompanhar de perto as próximas etapas desse processo. E, claro, ficar de olho nas reações da China e dos demais países citados – porque, como tudo no comércio internacional, o que começa como uma tarifa pode virar uma cadeia de negociações, acordos e, quem sabe, novas oportunidades.

Até a próxima, e fique atento às notícias que, mesmo parecendo distantes, podem mudar a forma como gastamos e produzimos.