Na última segunda‑feira (15), a Braskem divulgou uma notícia que, embora pareça só mais um acordo entre grandes investidores, tem implicações bem reais para quem acompanha o mercado de petroquímica, para os credores da empresa e, até certo ponto, para o nosso dia a dia.
O que aconteceu?
Basicamente, a Novonor – que antes se chamava Odebrecht – assinou um contrato de exclusividade com a gestora de investimentos IG4 Capital. O objetivo? Transferir a participação de controle que a Novonor detinha na Braskem para um fundo administrado pela IG4.
Com a operação concluída, a IG4 vai controlar 50,111% das ações com direito a voto da Braskem (ou seja, a maioria das decisões estratégicas) e 34,323% do capital total. A Petrobras, que já era o segundo maior acionista, passará a dividir o controle com a IG4. A Novonor, por sua vez, ficará com uma fatia residual de apenas 4%.
Por que isso importa?
Para entender a importância, vale lembrar que a Braskem atravessa um momento delicado. A empresa tem margens de lucro apertadas, enfrenta forte concorrência internacional e carrega dívidas relacionadas a danos ambientais causados por antigas operações de mineração de sal em Maceió, capital de Alagoas. Essa dívida, que chega a cerca de R$ 20 bilhões, está garantida por ações da própria Braskem – um mecanismo conhecido como “dívida com garantia em ações”.
Ao trazer a IG4 como novo controlador, há esperança de que a empresa receba um impulso de gestão mais agressiva e de capital fresco para lidar com esses desafios. A IG4 tem experiência em reestruturações (turnaround) e pode buscar soluções que a gestão atual da Braskem ainda não tenha conseguido.
Como chegamos aqui?
A história da participação da Novonor na Braskem começa há mais de uma década, quando o grupo Odebrecht, então ainda muito forte, usou suas ações da petroquímica como garantia em empréstimos bilionários. Quando a Operação Lava Jato estourou, o grupo viu seu patrimônio despencar, acumulando dívidas enormes.
Desde então, a Novonor tem tentado se desfazer da participação de controle na Braskem, mas sem sucesso. Houve conversas com investidores como Nelson Tanure, que costuma investir em empresas em dificuldade, mas nada se concretizou. O acordo com a IG4 parece ser a primeira tentativa bem-sucedida de vender essa participação.
O que muda na prática?
- Governança: A IG4, ao deter a maioria das ações com direito a voto, terá a palavra final nas decisões estratégicas – desde investimentos em novos projetos até a forma de lidar com as dívidas ambientais.
- Financiamento: Com a dívida de R$ 20 bilhões garantida por ações, a Braskem pode renegociar condições mais favoráveis junto aos credores, aliviando o fluxo de caixa.
- Investimentos: A empresa já anunciou planos de expansão em unidades como Triunfo (RS), Montenegro (RS), Nova Santa Rita (PE) e Rio Grande (RS). O novo controle pode acelerar esses projetos.
- Impacto ambiental: A pressão para resolver os passivos de mineração de sal em Alagoas deve aumentar, já que investidores institucionais costumam exigir clareza e rapidez nesses temas.
O que isso significa para nós, leitores?
Se você não tem ações da Braskem, pode estar se perguntando por que esse acordo importa para o seu bolso. A resposta está na cadeia de produção de plásticos e produtos químicos que usamos diariamente. A Braskem é a maior produtora de polietileno e polipropileno das Américas, materiais que estão em tudo: embalagens, brinquedos, móveis, carros.
Um desempenho melhor da empresa pode significar preços mais estáveis para esses produtos. Por outro lado, se a reestruturação falhar, podemos ver aumentos de custos que acabam repassados ao consumidor.
Além disso, o caso ilustra como grandes escândalos de corrupção ainda reverberam no mercado. A dívida que a Novonor acumulou ainda está sendo paga, e isso afeta o custo de capital de outras empresas brasileiras que precisam de financiamento.
Riscos e desafios
Nem tudo são flores. A IG4 tem um histórico de intervenções agressivas, o que pode gerar atritos com a Petrobras e com a própria gestão da Braskem. Também há o risco de que a dívida garantida por ações se torne um peso ainda maior se o preço das ações da Braskem cair.
Outro ponto delicado é a questão ambiental. A pressão da sociedade civil e de órgãos reguladores para a reparação dos danos em Alagoas tem crescido. Se a IG4 não conseguir equilibrar a necessidade de lucro com a responsabilidade ambiental, a empresa pode enfrentar multas e restrições que prejudicam sua operação.
Olhar para o futuro
O que eu espero ver nos próximos meses?
- Transparência: A IG4 deve publicar um plano detalhado de como pretende lidar com a dívida e com os passivos ambientais.
- Investimento em inovação: A petroquímica está em transição global rumo a materiais mais sustentáveis. Se a Braskem conseguir investir em bioplásticos ou em processos de captura de carbono, pode ganhar uma vantagem competitiva.
- Reação do mercado: Acompanhar o preço das ações da Braskem será um termômetro de como investidores avaliam o acordo. Uma alta consistente pode indicar confiança na nova gestão.
Em resumo, o acordo entre Novonor e IG4 é mais que uma simples troca de ações. Ele abre portas para uma possível reviravolta na Braskem, mas também traz desafios que vão exigir muita disciplina e foco em sustentabilidade.
Se você acompanha o mercado de ações, tem investimentos em empresas do setor químico ou simplesmente quer entender como grandes negócios afetam o cotidiano, vale a pena ficar de olho nos próximos comunicados da Braskem e da IG4.
E você, o que acha dessa mudança? Acredita que a IG4 vai conseguir virar o jogo da Braskem ou acha que os problemas são profundos demais? Deixe sua opinião nos comentários!




