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Do Kwon condenado a 15 anos: o que a queda da TerraUSD ensina aos investidores brasileiros

Do Kwon condenado a 15 anos: o que a queda da TerraUSD ensina aos investidores brasileiros

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Quando eu ouvi pela primeira vez o nome Do Kwon, confesso que imaginei um visionário da tecnologia, alguém que poderia mudar a forma como a gente lida com dinheiro. O que eu não esperava era encontrar um conto de ascensão meteórica, fanatismo de investidores e, no fim, uma sentença de 15 anos de prisão em Nova Iorque. O caso da TerraUSD (UST) e da Luna não é só mais um escândalo de criptomoedas; ele traz lições valiosas para quem tem curiosidade ou já está com algum real investido nesse universo.

Quem é Do Kwon?

Do Kwon, de 34 anos, nasceu na Coreia do Sul, estudou ciência da computação em Stanford e trabalhou em gigantes como Microsoft e Apple. Em 2018, fundou a Terraform Labs, com sede em Singapura, e lançou duas moedas digitais: a stablecoin TerraUSD (UST) e a criptomoeda Luna. A proposta era simples – a UST seria “estável”, atrelada ao dólar, enquanto a Luna serviria para equilibrar o preço da stablecoin através de um algoritmo.

Do que se tratava a promessa?

Ao contrário de outras stablecoins, como Tether (USDT) ou USDC, que mantêm reservas reais em dinheiro ou títulos, a UST não tinha ativos físicos por trás. O algoritmo prometia que, se a UST se desviasse de US$1, os usuários poderiam trocar a diferença por Luna, que então se valorizaria ou desvalorizaria para restaurar o equilíbrio.

Essa ideia atraiu bilhões de dólares de fundos de risco, investidores institucionais e um exército de “lunáticos” – como se autodenominavam os fãs da Luna. O hype era tão grande que a Forbes colocou Do Kwon na lista “30 Under 30 Asia”.

O colapso de maio de 2022

Em maio de 2022, a confiança no algoritmo que sustentava a UST começou a ruir. Vários fatores – alta volatilidade do mercado cripto, saídas massivas de capital e dúvidas sobre a real capacidade de sustentação – fizeram a UST perder o peg de US$1. Quando isso aconteceu, a Luna entrou em uma espiral de queda livre: de US$118 para menos de US$0,10 em poucos dias.

O resultado? Mais de US$40 bilhões (cerca de R$217 bilhões) evaporaram em questão de semanas. Investidores pequenos, que tinham colocado suas economias de toda a vida, foram os mais atingidos. Muitos relataram no Reddit que perderam a casa, o carro, ou até a capacidade de pagar o aluguel.

Como chegou à condenação?

Do Kwon se declarou culpado em agosto de 2023 por conspiração para cometer fraude e fraude eletrônica nos Estados Unidos. Ele foi preso em março de 2024 no aeroporto de Podgorica, Montenegro, usando um passaporte falso da Costa Rica, e extraditado para Nova Iorque, onde recebeu a sentença de 15 anos.

A acusação sustenta que Kwon estruturou um esquema de pirâmide disfarçado, prometendo retornos garantidos por meio da estabilidade da UST, quando na prática não havia reservas reais para respaldar a moeda.

O que isso significa para nós, brasileiros?

  • Stablecoins não são sinônimo de segurança. A ideia de que uma moeda digital está “presenteada” ao dólar não garante que ela seja estável. Sempre verifique se há reservas reais por trás.
  • Desconfie de promessas de retornos garantidos. Se alguém garante lucro sem risco, provavelmente está vendendo um esquema de pirâmide.
  • Regulação ainda está em fase. No Brasil, a CVM e o Banco Central ainda estão definindo regras claras para criptoativos. Enquanto isso, a responsabilidade recai sobre o investidor.
  • Diversifique seus investimentos. Não coloque todo o seu patrimônio em um único ativo, ainda que pareça promissor.

Como proteger seu bolso

Se você já tem alguma exposição a cripto, ou pensa em entrar, aqui vão algumas práticas que aprendi analisando o caso Terra/Luna:

  1. Faça sua própria pesquisa (DYOR). Leia whitepapers, verifique auditorias de segurança, e procure por relatórios independentes.
  2. Cheque a transparência. Projetos sérios costumam publicar reservas, relatórios trimestrais e têm equipes de compliance.
  3. Use exchanges confiáveis. Plataformas regulamentadas no Brasil, como a Mercado Bitcoin ou a Binance (versão local), oferecem camadas extras de segurança.
  4. Limite o valor investido. Defina um teto que, se perdido, não comprometa sua qualidade de vida.
  5. Esteja atento a notícias. Mudanças regulatórias, falhas de segurança ou processos judiciais podem sinalizar riscos.

O futuro das stablecoins no Brasil

Com a condenação de Do Kwon, as autoridades globais estão mais atentas a projetos que prometem estabilidade sem respaldo. No Brasil, o Banco Central já lançou o real digital, a versão de moeda digital do real, que será 100 % lastreada pelo Banco Central. Essa iniciativa pode reduzir a necessidade de stablecoins privadas, oferecendo uma alternativa oficial e segura.

Entretanto, a demanda por cripto ainda cresce, principalmente entre jovens que buscam independência financeira. O desafio será equilibrar inovação com proteção ao consumidor.

Reflexões finais

Eu lembro de ter lido sobre a TerraUSD quando ainda era estudante de economia e ficava fascinado com a ideia de um dinheiro totalmente descentralizado. Hoje, ao ver a sentença de 15 anos para Do Kwon, percebo que o entusiasmo cego pode ser perigoso. A tecnologia em si não é ruim, mas a forma como alguns a utilizam pode gerar prejuízos enormes.

Se você ainda tem dúvidas, minha sugestão é: converse com um consultor financeiro, participe de comunidades que valorizam a transparência e, sobretudo, mantenha o senso crítico. O mundo cripto ainda tem muito a oferecer, mas como todo investimento, requer cautela.

Fique de olho nas próximas regulações, nas discussões sobre o real digital e, principalmente, nas lições que casos como o de Do Kwon nos deixam. Afinal, aprender com os erros dos outros pode salvar o seu futuro financeiro.