Na última sexta‑feira, a Dinamarca – que atualmente ocupa a presidência rotativa da União Europeia – confirmou que a votação sobre o acordo comercial entre a UE e o Mercosul deve acontecer já na próxima semana. Se tudo correr bem, a assinatura oficial será feita em Brasília no dia 20 de dezembro, com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Parece coisa de diplomatas, mas esse acordo tem implicações muito reais para quem compra carne, frutas ou até mesmo um carro na Europa, e para quem exporta soja, carne bovina ou café para o velho continente.
Um pouco de história
As negociações começaram há quase 25 anos, quando o Mercosul – bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – decidiu abrir as portas para o mercado europeu. Foram anos de discussões sobre tarifas, padrões sanitários, regras de origem e, claro, muita política interna de ambos os lados. Em dezembro de 2023, as partes chegaram a um entendimento que prometia ser o maior acordo comercial da UE até hoje, com redução de tarifas que poderia chegar a 99% em diversos setores.
Por que a votação agora?
A presidência dinamarquesa quer concluir a votação antes do fim do ano para que a assinatura possa acontecer antes do Natal. O cronograma é apertado porque a UE precisa da maioria qualificada dos Estados‑membros – 15 países que representem 65% da população da União – para aprovar o texto. Alemanha, Espanha e os países nórdicos já demonstram apoio, mas há resistência de lugares como Polônia, que já avisou que vai votar contra, e ainda há dúvidas sobre a posição da França e da Itália.
Os temores da França e de outros agricultores europeus
O ponto mais delicado do acordo são as importações de produtos agrícolas. Agricultores franceses, alemães e de outros países temem que a entrada de carne bovina, aves e açúcar do Mercosul, ainda que com tarifas reduzidas, possa derrubar os preços internos e ameaçar empregos rurais. Para acalmar esses receios, a Comissão Europeia incluiu um mecanismo de “suspensão parcial”, que permite bloquear temporariamente o acesso preferencial a alguns produtos caso o mercado europeu sofra impactos significativos.
O que os defensores dizem
- Diversificação de mercados: a UE busca reduzir a dependência da China e dos EUA, especialmente em setores estratégicos como minerais críticos para chips e tecnologias verdes.
- Oportunidade para o Mercosul: exportadores brasileiros de soja, carne e café teriam acesso a um mercado de mais de 450 milhões de consumidores, com tarifas quase inexistentes.
- Benefícios para consumidores: preços mais baixos e maior variedade de produtos nas prateleiras europeias.
Os riscos e as críticas
Além da preocupação dos agricultores, há quem argumente que o acordo pode criar um desequilíbrio nas cadeias de produção. Por exemplo, a redução de tarifas para produtos agrícolas pode incentivar a expansão de áreas agrícolas no Brasil, pressionando ainda mais a Amazônia e outros biomas. Também há dúvidas sobre a efetividade do mecanismo de suspensão – será que ele será acionado a tempo de proteger os produtores europeus?
Como isso afeta a gente, aqui no Brasil?
Para quem vive de exportação, a assinatura pode significar contratos mais longos, menos burocracia e maior previsibilidade nos negócios. Para o consumidor, pode significar carne mais barata nas prateleiras, mas também a necessidade de ficar atento a questões de sustentabilidade. E para o governo, o acordo traz uma fonte de receita extra em forma de tarifas reduzidas que podem ser reinvestidas em infraestrutura ou em programas sociais.
O que pode acontecer se o acordo falhar?
Um dos diplomatas europeus citados na imprensa afirmou que, se a votação não acontecer nas próximas semanas, o acordo “estará morto”. Isso não quer dizer que as negociações vão acabar de vez, mas que o impulso político desaparece, e a UE pode buscar outras parcerias ou reforçar acordos já existentes, como o com o Reino Unido ou com o Canadá. Para o Mercosul, seria um revés diplomático que poderia enfraquecer a coesão do bloco.
Perspectivas para o futuro
Mesmo que o acordo seja aprovado, ainda resta o desafio de implementá‑lo. Os países terão que adaptar suas legislações, criar sistemas de monitoramento de origem e garantir que o mecanismo de suspensão funcione de forma transparente. Além disso, a dinâmica geopolítica – como as tensões comerciais entre EUA e China – pode mudar rapidamente, exigindo ajustes nos termos do acordo.
Em resumo, a votação da próxima semana não é apenas um detalhe burocrático. Ela pode definir como será o fluxo de produtos entre o hemisfério norte e o sul nos próximos anos, influenciar a agenda climática, e até impactar a competitividade de indústrias europeias frente a concorrentes asiáticas. Vale a pena ficar de olho, porque o que acontece nos corredores de Bruxelas pode acabar na sua mesa de jantar.
E você, o que acha desse possível novo capítulo nas relações comerciais entre a Europa e a América do Sul? Acha que os benefícios superam os riscos? Deixe seu comentário e vamos conversar sobre o futuro do comércio global.




