Radar Fiscal

Ajuda de US$ 11 bi de Trump: ponte temporária ou solução real para os agricultores americanos?

Ajuda de US$ 11 bi de Trump: ponte temporária ou solução real para os agricultores americanos?

Compartilhe esse artigo:

WhatsApp
Facebook
Threads
X
Telegram
LinkedIn

Quando li a notícia de que o governo Trump liberou um pacote de US$ 11 bilhões para os agricultores dos Estados Unidos, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “mais um socorro de curto prazo?”. Não é a primeira vez que vemos Washington tentando aliviar a pressão sobre o agronegócio, mas, como quem acompanha de perto o mercado de alimentos, percebo que esse tipo de medida costuma ser mais uma “tábua de salvação” do que uma solução de longo prazo.

O que está acontecendo nos campos americanos?

Os agricultores dos EUA enfrentam uma combinação de fatores que tem deixado a conta no vermelho: preços de safra historicamente baixos, custos de insumos (fertilizantes, sementes, combustível) nas alturas e, claro, o impacto da guerra comercial iniciada por Trump em 2018. A tarifa sobre a soja, milho, trigo e outras commodities provocou retaliações da China e de outros parceiros, reduzindo drasticamente as exportações. Para quem planta soja, a situação foi ainda mais dolorosa – a China suspendeu as importações entre maio e novembro, tirando bilhões de dólares de receita.

Segundo estimativas de especialistas, as perdas totais nas nove principais commodities variam entre US$ 35 bilhões e US$ 44 bilhões. Em outras palavras, o auxílio de US$ 11 bilhões cobre, no melhor dos casos, menos de um terço dessas perdas. Não é surpresa que agricultores como Mike Stranz, da National Farmers Union, descrevam o pacote como “uma tábua de salvação, não uma solução de longo prazo”.

Como esse dinheiro será distribuído?

A estrutura do auxílio é baseada em acres plantados, custos de produção e outros indicadores. Não há ajuste regional, o que significa que produtores de áreas mais afetadas podem receber menos do que realmente precisam. Além disso, a maior parte dos US$ 12 bilhões (valor mencionado em alguns trechos da matéria) será destinada a commodities como milho e soja, deixando culturas como batata russet, que já enfrentam perdas de cerca de US$ 0,5 bilhão, com apenas um bilhão de dólares disponíveis – um valor insuficiente para cobrir o déficit.

  • Quem recebe? Aproximadamente 1/4 das perdas de soja, segundo o presidente da American Soybean Association, Caleb Ragland.
  • Para que serve? Mais da metade dos agricultores pretende usar o dinheiro para pagar dívidas, não para investir em maquinário ou capital de giro.
  • Qual a expectativa? Credores agrícolas preveem que menos da metade dos tomadores de empréstimos será lucrativa até 2026.

Comparando com o Brasil: o que podemos aprender?

Enquanto os EUA lutam com a retração das exportações de soja para a China, o Brasil tem aproveitado exatamente essa brecha. Em 2023, o país bateu recorde de exportações de soja e amendoim para a China, impulsionado por uma demanda que os produtores americanos não conseguiram atender. Essa dinâmica traz duas lições importantes para quem acompanha o agronegócio:

  1. Diversificação de mercados: depender de um único comprador pode ser arriscado. O Brasil tem buscado novos destinos (UE, Sudeste Asiático) para reduzir a vulnerabilidade.
  2. Política de apoio consistente: ao contrário dos auxílios pontuais dos EUA, o governo brasileiro tem mantido programas de seguro agrícola e linhas de crédito mais estáveis, o que ajuda os produtores a planejar a longo prazo.

O que a “One Big Beautiful Bill” promete?

A lei de impostos e gastos de Trump, apelidada de “One Big Beautiful Bill”, pretende aumentar os preços de referência das commodities, o que, em teoria, acionaria os programas de rede de segurança agrícola de forma mais rápida. Os ajustes previstos variam de 10% a 21% e devem entrar em vigor em outubro de 2026. Se tudo correr como planejado, esses aumentos poderiam melhorar a rentabilidade dos produtores, mas ainda há dúvidas:

  • Os novos preços de referência serão realmente suficientes para cobrir os custos crescentes?
  • Como a lei lidará com as dívidas acumuladas até 2026?
  • Os agricultores que já estão à beira da falência vão conseguir sobreviver até lá?

Perspectivas para os próximos anos

Se considerarmos os cenários possíveis, podemos dividir o futuro próximo dos agricultores americanos em três linhas principais:

  1. Continuidade das tensões comerciais: caso as tarifas permaneçam ou novas barreiras sejam impostas, a dependência de mercados externos continuará a ser um ponto fraco.
  2. Adaptação tecnológica: produtores que investirem em tecnologia (agricultura de precisão, variedades resistentes) podem melhorar margens, mesmo com preços baixos.
  3. Reforma das políticas de apoio: se o Congresso aprovar a “One Big Beautiful Bill” e ajustes adicionais, poderemos ver um alívio mais estruturado, mas isso ainda depende de negociações políticas.

Para quem está fora dos EUA, a lição principal é que o agronegócio global está interligado. Uma decisão política em Washington reverbera nos preços de alimentos nas prateleiras de todo o mundo, inclusive no Brasil. Por isso, vale acompanhar não só os números de produção, mas também as discussões legislativas que podem mudar o cenário.

O que eu faria se fosse agricultor?

Se eu estivesse no meio dos campos de Iowa ou Kansas, a primeira coisa seria analisar a estrutura de custos da minha fazenda. Perguntas como “Quanto da minha dívida pode ser paga com esse auxílio?” e “Qual a margem de lucro real após descontar fertilizantes e combustível?” seriam essenciais. Em seguida, buscaria diversificar a produção – talvez incluir culturas menos expostas às tarifas, como algodão ou sorgo – e, se possível, explorar canais de venda direta, como contratos com processadores locais ou até exportações para mercados alternativos.

Além disso, manteria um olho atento nas políticas de apoio federal. O auxílio de US$ 11 bilhões pode ser temporário, mas a “One Big Beautiful Bill” pode abrir portas para pagamentos mais consistentes a partir de 2026. Preparar a fazenda para esse futuro – ajustando o planejamento financeiro, renegociando dívidas e investindo em tecnologia – pode ser a diferença entre sobreviver e fechar as portas.

Conclusão

Em resumo, a ajuda de US$ 11 bilhões anunciada por Trump é, na prática, uma ponte que impede que os agricultores afundem imediatamente, mas não resolve os problemas estruturais que vêm se acumulando nos últimos anos. Os preços baixos, o aumento dos custos de insumos e a guerra comercial são desafios que exigem soluções mais profundas do que um cheque pontual.

Para quem acompanha o agronegócio – seja nos EUA, no Brasil ou em qualquer outro país – é crucial entender que políticas de apoio devem ser acompanhadas de estratégias de longo prazo: diversificação de mercados, investimento em tecnologia e um ambiente regulatório estável. Só assim os produtores conseguirão transformar “tábuas de salvação” em bases sólidas para o futuro.

E você, o que acha? Acredita que o auxílio será suficiente para manter o agronegócio americano à tona até 2026? Ou vê essa medida como mais um paliativo que só adia o inevitável? Deixe seu comentário e vamos discutir juntos!