Na última quarta‑feira, o Senado do México aprovou um projeto que vai elevar as tarifas de importação de uma dúzia de países, entre eles a China e o Brasil. A medida, que já havia sido aprovada na Câmara dos Deputados, deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026. Se você já se perguntou como uma decisão tomada a 3 000 km de distância pode interferir no preço dos produtos que chegam ao Brasil, este texto é para você.
Por que o México decidiu subir as tarifas?
O ponto de partida da proposta foi a pressão comercial dos Estados Unidos. O presidente americano, Donald Trump, tem reiterado que o México não pode ser a porta de entrada de produtos chineses para o mercado norte‑americano. Em resposta, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum lançou, em setembro, o chamado “Plano México”, que inclui a elevação de tarifas como forma de proteger a indústria nacional e reduzir a dependência de importações.
Na prática, a ideia é simples: ao tornar produtos estrangeiros mais caros, os consumidores mexicanos seriam incentivados a comprar itens produzidos no próprio país. O governo argumenta que isso vai gerar empregos, fortalecer cadeias de suprimentos locais e, a longo prazo, melhorar a balança comercial.
Quais setores serão mais impactados?
São 1.463 categorias de importação que entram na conta, abrangendo áreas como:
- Automotivo – peças e veículos completos;
- Têxtil e vestuário – roupas, tecidos e acessórios;
- Plásticos – embalagens, utensílios e componentes industriais;
- Eletrodomésticos – de geladeiras a pequenos aparelhos de cozinha;
- Calçados – tanto de marcas globais quanto de fabricantes regionais.
Embora a proposta original previria tarifas de até 50 %, a maioria foi reduzida para faixas entre 20 % e 35 %. Apenas alguns produtos manterão a alíquota máxima.
E o Brasil? Como a medida afeta a gente?
Para nós, a mudança tem duas faces. Primeiro, os produtos brasileiros que já exportam para o México podem enfrentar um aumento de custos, o que pode reduzir a competitividade dos nossos bens no mercado mexicano. Segundo, se a medida realmente impulsionar a produção local no México, poderemos ver um aumento da demanda por insumos brasileiros que ainda não são produzidos lá – como matérias‑primas agrícolas ou componentes eletrônicos.
Um exemplo prático: imagine que uma empresa mexicana de calçados decida substituir um fornecedor chinês por um brasileiro para evitar a tarifa de 35 %. Isso pode abrir novas oportunidades de negócios para fabricantes de couro e solados no Brasil. Por outro lado, se a tarifa recair sobre produtos que já competem com os nossos, como roupas de algodão, pode haver menos espaço para as exportações brasileiras.
Impactos no consumidor mexicano (e no nosso)
Os consumidores no México provavelmente sentirão o peso da medida nos preços das prateleiras. Um aumento de 30 % numa camiseta importada da China pode significar um custo adicional de alguns reais para quem compra no Brasil e traz para o México, ou ainda para quem importa produtos para revenda.
Para nós, isso pode significar duas coisas:
- Produtos mexicanos que antes eram baratos podem ficar mais caros, o que abre espaço para marcas brasileiras preencherem a lacuna.
- Se a inflação mexicana subir, pode haver um efeito cascata nos preços de produtos que dependem de insumos mexicanos, como componentes eletrônicos usados em smartphones brasileiros.
O que dizem os especialistas?
Os senadores que votaram a favor alegam que a reforma vai “fortalecer a economia nacional”. Já os que se abstiveram – 35 senadores – criticaram a rapidez da aprovação e apontaram o risco de elevar a inflação. O economista Mario Humberto Vázquez, do PAN, questionou se o México está realmente definindo sua própria política comercial ou apenas reagindo às exigências de Washington.
Do lado da China, a reação foi de alerta: o país denunciou qualquer forma de “coerção” que limite suas exportações e sugeriu possíveis retaliações. Até agora, não há sinais claros de que a China vá impor medidas punitivas, mas a tensão comercial já está no ar.
Como se preparar?
Se você tem uma empresa que exporta para o México, vale a pena rever contratos, analisar a possibilidade de renegociar preços ou buscar parceiros locais que possam ajudar a contornar as novas tarifas. Para quem compra produtos mexicanos, fique atento ao preço final e avalie se vale a pena buscar alternativas brasileiras.
Para o consumidor final, a dica é simples: acompanhe as notícias de perto, compare preços e, se possível, dê preferência a produtos nacionais. Em tempos de mudanças tarifárias, o apoio ao comércio interno costuma ser a estratégia mais segura.
O que vem pela frente?
O México ainda está em processo de renegociação do T‑MEC (acordo comercial com EUA e Canadá). As novas tarifas podem ser usadas como moeda de negociação, pressionando Washington a oferecer condições mais favoráveis ao México. Se isso acontecer, pode haver um novo ciclo de ajustes que afetará novamente as cadeias de suprimentos globais.
Em resumo, a decisão do Senado mexicano de aumentar tarifas sobre Brasil, China e outros países tem implicações diretas e indiretas para a nossa economia. Seja como exportador, importador ou consumidor, vale a pena ficar de olho, adaptar estratégias e, acima de tudo, entender que o comércio internacional é um jogo de xadrez onde cada movimento pode mudar o cenário para todos nós.
E você, já sentiu alguma mudança no preço de produtos importados? Compartilhe nos comentários como tem lidado com essas questões. Vamos trocar ideias e aprender juntos!




