Quando eu vi a notícia de que o Toyota Yaris Cross recebeu apenas duas estrelas no teste de segurança do Latin NCAP, a primeira reação foi de surpresa. Afinal, a Toyota tem fama de fabricar veículos confiáveis e, nos últimos anos, tem sido destaque em avaliações de segurança. Mas será que isso muda a forma como avaliamos o carro? Vamos conversar sobre o que está por trás desses números, o que eles realmente dizem para quem está de olho no Yaris Cross e como isso se encaixa no cenário brasileiro de SUVs compactos.
Entendendo o Latin NCAP
O Latin NCAP é o programa que testa a proteção de ocupantes e pedestres em veículos vendidos na América Latina. As notas vão de zero a cinco estrelas – quanto mais estrelas, melhor a proteção. O teste avalia três grandes áreas:
- Proteção de adultos (cabeça, peito, pernas etc.)
- Proteção de crianças (inclui sistemas de retenção e airbags)
- Proteção de pedestres (frontal do carro, capô, capuz do motor)
Além disso, há um bônus para sistemas de assistência à segurança, como frenagem automática de emergência ou alerta de ponto cego.
Os números do Yaris Cross
Para o modelo produzido na fábrica de Sorocaba (SP), o Latin NCAP divulgou as seguintes porcentagens de proteção:
- 77 % de proteção para adultos
- 69 % para crianças
- 56 % para pedestres
- 58 % de proteção com sistemas de assistência
Esses percentuais resultaram em duas estrelas. O mesmo resultado foi registrado nas versões hatch e sedã do Yaris, que também ficaram com duas estrelas.
Onde o carro acertou e onde errou
O teste apontou pontos positivos, como a boa proteção da cabeça e da parte inferior das pernas em impactos frontais e laterais. Mas os pontos críticos foram:
- Peito e coxas do motorista vulneráveis em impactos frontais.
- Tórax do motorista vulnerável em impactos laterais.
- Falta de interruptor para desativar o airbag do passageiro ao instalar um SRI (Sistema de Retenção Infantil) voltado para trás.
- Ausência de sinalização de aviso para o airbag, exigida pelo Latin NCAP.
- Carência de assistência de velocidade para pedestres e de sensor de ponto cego.
Essas falhas, especialmente relacionadas à proteção de crianças, puxaram a nota para baixo.
Por que isso importa para o consumidor?
Se você está pensando em comprar um SUV compacto, a segurança costuma estar no topo da lista – e com razão. Um acidente pode mudar a vida de quem está no carro e de quem está ao redor. Portanto, entender o que as estrelas realmente significam ajuda a fazer uma escolha mais consciente.
Do ponto de vista prático, duas estrelas indicam que o veículo oferece um nível de proteção abaixo da média regional. Em situações reais, isso pode se traduzir em maior risco de lesões graves para ocupantes e pedestres. Se você tem filhos pequenos, a falta de um interruptor de desativação do airbag pode ser um problema sério, já que impede a instalação segura de cadeirinhas voltadas para trás.
Como o Yaris Cross se compara aos concorrentes?
O segmento de SUVs compactos está bem disputado no Brasil. Entre os principais rivais do Yaris Cross estão:
- Volkswagen T‑Cross
- Hyundai Creta
- Honda HR‑V
- Chevrolet Tracker
- Nissan Kicks
- Fiat Pulse
Quando olhamos para as avaliações de segurança desses modelos, a maioria costuma ficar entre três e quatro estrelas no Latin NCAP. Isso coloca o Yaris Cross em desvantagem clara, apesar de seu preço competitivo (a partir de R$ 161.390).
Preço e tecnologia: o outro lado da moeda
O Yaris Cross chega ao mercado como o SUV mais barato da Toyota no Brasil, com versões híbridas flex que prometem até 111 cv e consumo de 17,9 km/l na cidade. Essa combinação de preço baixo e tecnologia híbrida é atrativa, especialmente para quem busca economia de combustível.
No entanto, a questão da segurança não pode ser deixada de lado. Se a Toyota pretende se posicionar como referência em confiabilidade, ela precisa equilibrar o custo‑benefício com um pacote de segurança que realmente proteja os ocupantes.
O que a Toyota pode fazer a seguir?
Algumas medidas simples já foram apontadas pelo Latin NCAP e poderiam melhorar drasticamente a nota:
- Adicionar o interruptor de desativação do airbag do passageiro.
- Incluir sinalização visual de aviso para o airbag, conforme exigência do teste.
- Instalar sensores de ponto cego e sistemas de frenagem automática de emergência.
- Reforçar a estrutura da cabine para melhorar a proteção do peito e das coxas.
Essas mudanças não exigem uma reengenharia completa, mas sim ajustes de engenharia que já são padrão em muitos concorrentes.
Vale a pena comprar o Yaris Cross agora?
Se eu estivesse na sua posição, faria uma lista de prioridades:
- Orçamento: O Yaris Cross tem preço atrativo, principalmente nas versões híbridas.
- Consumo: O híbrido flex é um diferencial importante para quem percorre muitos quilômetros.
- Segurança: Dois estrelas podem ser decisivos se você tem filhos ou se a segurança é seu principal critério.
Para quem não abre mão de um pacote de segurança acima da média, talvez valha a pena considerar modelos como o Volkswagen T‑Cross ou o Hyundai Creta, que costumam obter três ou quatro estrelas. Por outro lado, se o preço e a economia de combustível são mais críticos, o Yaris Cross ainda pode ser uma opção, mas com a consciência de que há espaço para melhorar.
O futuro dos SUVs compactos no Brasil
O mercado brasileiro está cada vez mais exigente. Consumidores estão mais informados, e órgãos como o Latin NCAP têm ganhado visibilidade. Isso pressiona as montadoras a elevar seus padrões de segurança. A tendência é que, nos próximos anos, duas estrelas deixem de ser aceitáveis para um carro de massa.
Para a Toyota, o desafio será manter a proposta de preço acessível e eficiência híbrida sem sacrificar a segurança. Se a empresa conseguir integrar os ajustes apontados, o Yaris Cross pode evoluir de “bom preço, segurança baixa” para “bom preço, segurança alta”, algo que seria um grande diferencial no segmento.
Em resumo, o teste de duas estrelas não significa que o Yaris Cross seja um carro perigoso, mas indica que ainda há lacunas importantes a serem preenchidas. Avalie seu perfil, compare com os concorrentes e, se possível, faça um test‑drive focado em sentir a robustez da cabine e a ergonomia dos airbags. A decisão final deve equilibrar custo, consumo e, acima de tudo, a tranquilidade de saber que você e sua família estão protegidos.




