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Por que a Selic ficou em 15% pela quarta vez e o que isso significa para o seu bolso

Por que a Selic ficou em 15% pela quarta vez e o que isso significa para o seu bolso

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Na última quarta‑feira (10), o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central – decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano. Foi a quarta reunião consecutiva com a mesma decisão. Para quem acompanha a economia, a notícia parece “mais do mesmo”, mas, na prática, tem implicações bem reais no dia a dia de quem ganha o salário mínimo, paga o financiamento do carro ou tenta economizar para a aposentadoria.

O que é a Selic e por que ela importa?

Em termos simples, a Selic é o preço do dinheiro no Brasil. Quando o Banco Central eleva a taxa, o crédito fica mais caro: empréstimos, financiamentos e cartões de crédito passam a cobrar mais juros. Quando a taxa cai, o oposto acontece. Mas a Selic não serve só para regular o crédito; ela é a principal arma do BC para controlar a inflação.

Por que o Copom manteve a taxa em 15%?

O comunicado oficial traz duas ideias centrais:

  • Incerteza prolongada: O cenário econômico ainda está cheio de dúvidas – desde a trajetória dos preços internacionais até a força do mercado de trabalho.
  • Inflação ainda fora da meta: Embora o IPCA (índice oficial de preços) tenha registrado 0,18% em novembro – o menor nível em sete anos – a inflação acumulada em 12 meses está em 4,46%, ainda acima da meta de 3% (com tolerância até 4,5%).

Esses dois fatores levaram o Copom a concluir que “manter a Selic em 15% por período bastante prolongado” é a estratégia mais segura para que a inflação volte a se acomodar dentro da faixa desejada.

Como isso afeta a sua vida?

Para quem não vive de números, a manutenção da Selic tem efeitos diretos:

  • Financiamento de imóveis: As parcelas continuam altas. Se você está pensando em comprar a casa própria, talvez seja melhor esperar por uma eventual redução, que só deve acontecer a partir de março, segundo a maioria dos economistas.
  • Cartão de crédito: O rotativo ainda cobra juros que podem chegar a 300% ao ano. Manter o saldo no cartão se torna ainda mais caro.
  • Poupança: O rendimento da caderneta tradicional ficou em 0,5% ao ano (0,5% da Selic), ou seja, praticamente zero de ganho real.
  • Investimentos: Títulos do Tesouro Direto atrelados à Selic (Tesouro Selic) rendem próximo a 13,5% ao ano, já que o imposto de renda e a taxa de custódia reduzem um pouco o retorno.

Em resumo, enquanto a taxa permanecer alta, o custo do crédito pesa mais nos bolsos das famílias, especialmente das mais vulneráveis, que têm menos margem para arcar com juros altos.

O que os economistas esperam para 2025‑2028?

O Banco Central já olha para o futuro. As projeções do mercado apontam inflação de 4,40% em 2025, 4,16% em 2026, 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028. Todas ainda acima da meta de 3%, mas em tendência de queda.

Isso significa que, mesmo que a Selic seja mantida em 15% agora, o BC já tem planos de reduzir gradualmente – mas somente quando as projeções estiverem mais alinhadas com a meta. A primeira queda esperada, segundo a maioria das instituições financeiras, seria para 14,5% em março.

Por que a política monetária é tão “cautelosa”?

O Copom destaca três pontos que justificam a postura rígida:

  1. Expectativas desancoradas: Se as pessoas acreditam que a inflação vai subir, elas acabam ajustando preços e salários de forma preventiva, o que alimenta ainda mais a alta.
  2. Projeções de inflação elevadas: As estimativas ainda apontam para números acima da meta, o que pressiona o BC a manter a taxa alta.
  3. Resiliência da atividade econômica: Mesmo com juros altos, a economia tem mostrado força, o que pode gerar pressões inflacionárias nos serviços.

Esses fatores criam um ciclo: juros altos contêm a inflação, mas também freiam o crescimento. O BC tenta equilibrar esse jogo, mantendo a taxa em um nível que “não queime” a economia, mas que também não deixe a inflação escapar.

Desaceleração controlada: o que é o hiato do produto?

Na última ata, o Copom mencionou que o “hiato do produto” – a diferença entre o potencial de crescimento da economia e o crescimento efetivo – segue positivo. Em termos simples, isso indica que a economia está crescendo acima do que seria sustentável a longo prazo, sem gerar pressão inflacionária imediata.

Essa situação permite ao BC adotar uma estratégia de “desaceleração controlada”: reduzir o ritmo de expansão para evitar que a demanda supere a oferta, o que ajudaria a baixar a inflação sem causar recessão.

O que você pode fazer agora?

Mesmo que a decisão do Copom pareça distante da sua realidade, há ações práticas que podem mitigar o impacto dos juros altos:

  • Renegocie dívidas: Se você tem empréstimos ou financiamentos, procure o banco para renegociar prazos ou taxas. Mesmo uma pequena redução pode fazer diferença.
  • Priorize a reserva de emergência: Em tempos de juros altos, manter um fundo de emergência em investimentos de baixo risco (como Tesouro Selic) protege seu poder de compra.
  • Reavalie o cartão de crédito: Evite o rotativo a todo custo. Se precisar parcelar compras, busque opções com juros menores ou use o débito.
  • Planeje investimentos de longo prazo: Títulos públicos, fundos de renda fixa e até ações podem oferecer retornos superiores à inflação, desde que você tenha horizonte de tempo.

Essas medidas ajudam a driblar o efeito dos juros altos e a preparar o seu futuro financeiro.

Olhar para o futuro

O que está claro é que a Selic não vai cair da noite para o dia. O BC está adotando uma postura vigilante e, se a inflação continuar dentro da tolerância, podemos esperar os primeiros cortes apenas em 2025, possivelmente já no segundo semestre.

Enquanto isso, a mensagem para o cidadão é simples: controle os gastos, evite dívidas caras e busque investimentos que protejam seu dinheiro da inflação. Assim, mesmo com a taxa básica de juros presa em 15%, você consegue manter o equilíbrio nas finanças pessoais.

Fique de olho nas próximas atas do Copom e nas projeções do IPCA. Elas são os termômetros que indicam quando o cenário pode mudar e, consequentemente, quando os juros podem começar a baixar. Até lá, a melhor estratégia é manter a disciplina financeira e aproveitar as oportunidades de investimento que surgirem.