Na última quarta‑feira (10), o Ministério da Fazenda lançou algo que pode mudar a forma como lidamos com as apostas na internet: um portal onde você pode se “autoexcluir” dos sites de jogos e, a partir daí, parar de receber qualquer propaganda dessas casas de aposta.
Por que isso é importante?
Se você já se pegou clicando em anúncios de apostas enquanto navega, sabe como eles são persistentes. Eles aparecem no feed, nas notificações, até nos e‑mails. Para quem tem um histórico de jogo problemático, essa exposição constante pode ser um gatilho perigoso. A pesquisa científica já aponta que a autoexclusão centralizada – quando feita em um único ponto de controle – reduz significativamente os danos à saúde mental da população.
Como funciona a ferramenta?
O processo é bem simples:
- Acesse gov.br/autoexclusaoapostas;
- Faça login com sua conta do portal gov.br (caso ainda não tenha, o cadastro leva poucos minutos);
- Escolha o período de exclusão – 1, 3, 6, 12 meses ou indeterminado;
- Confirme os termos de uso e verifique se seus dados estão corretos;
- Receba um documento comprovando a sua decisão.
Se optar pelo prazo indeterminado, você tem até 30 dias para mudar de ideia. Em qualquer outro período, a escolha é irrevogável até que o tempo escolhido termine.
Quais são os motivos que você pode registrar?
O portal permite que você indique por que está se autoexcluindo. As opções são:
- Decisão voluntária;
- Dificuldades financeiras;
- Recomendação de profissional de saúde;
- Perda de controle sobre o jogo (saúde mental);
- Prevenção de uso dos seus dados em plataformas de apostas.
Se preferir, pode simplesmente deixar em branco.
O que acontece depois?
Além de bloquear seu CPF para novos cadastros em sites de apostas, a ferramenta encaminha o usuário a recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Você receberá links para o Meu SUS Digital e para a Ouvidoria do SUS, onde pode fazer um auto‑diagnóstico rápido de possíveis problemas de vício e, se necessário, buscar ajuda especializada.
A partir de fevereiro de 2026, o SUS passará a oferecer teleatendimentos focados em jogos e apostas, em parceria com o Hospital Sírio‑Libanês, através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional (Proadi‑SUS). Isso significa que, mesmo que você esteja em casa, terá acesso a psicólogos e psiquiatras que entendem o universo das apostas online.
Pró‑e‑contra da autoexclusão centralizada
Prós:
- Facilidade de uso: um único ponto de controle, sem precisar se cadastrar em cada site de aposta;
- Privacidade: seu CPF fica bloqueado, dificultando que empresas de marketing coletem seus dados novamente;
- Integração com a saúde pública: direcionamento imediato a serviços do SUS, que já têm experiência no tratamento de dependências;
- Segurança jurídica: a medida tem respaldo legal e pode ser usada como prova em disputas de consumo.
Contras e cuidados:
- Se você escolher o prazo indeterminado e mudar de ideia depois de 30 dias, terá que refazer todo o processo;
- Alguns sites de apostas internacionais podem não reconhecer a exclusão baseada em CPF brasileiro;
- É preciso ter acesso à internet e ao portal gov.br, o que pode ser um obstáculo para quem tem pouca familiaridade digital.
Como isso pode impactar o seu dia a dia?
Imagine que você costuma jogar em sites de apostas nas horas vagas, mas percebe que isso está começando a afetar seu orçamento e seu sono. Ao se autoexcluir, você elimina a principal porta de entrada – o convite constante por e‑mail ou push notification. Sem esses estímulos, a tentação diminui, e você ganha espaço mental para focar em outras atividades, como estudar, praticar um hobby ou simplesmente descansar.
Além disso, ao ser encaminhado ao SUS, você tem a oportunidade de conversar com profissionais que podem identificar se o comportamento já se configurou como vício ou se ainda está em um estágio de risco. Esse diagnóstico precoce costuma ser decisivo para evitar problemas mais graves, como endividamento ou transtornos de ansiedade.
O que eu recomendo?
Se você sente que o jogo está consumindo mais tempo e dinheiro do que gostaria, dê um passo adiante e experimente a autoexclusão por um período curto – talvez 3 meses. Esse teste pode ser suficiente para observar mudanças de comportamento sem se comprometer a longo prazo.
Se o resultado for positivo, considere estender o prazo ou até mesmo optar pelo indeterminado. E, claro, aproveite os recursos de apoio do SUS: converse com um psicólogo, participe de grupos de apoio online e, se precisar, procure o teleatendimento que será ampliado em 2026.
Conclusão
A iniciativa do Ministério da Fazenda chega num momento em que o mercado de apostas online está em plena expansão no Brasil. Ao colocar o cidadão no centro da decisão, o governo não só oferece uma ferramenta prática, mas também abre caminho para um tratamento mais humano e integrado das questões de saúde mental relacionadas ao jogo.
Para quem já está cansado de anúncios invasivos ou sente que a roleta virtual está tirando o controle da sua vida, a autoexclusão pode ser o primeiro passo para retomar a autonomia. E, se ainda estiver em dúvida, lembre‑se: o portal é gratuito, o processo é simples, e a única coisa que você tem a perder é a exposição constante a ofertas que podem ser prejudiciais.
Então, que tal dar uma olhada hoje mesmo? Seu futuro (e seu bolso) podem agradecer.




