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Roraima finalmente conectada ao SIN: o que isso muda para a gente?

Roraima finalmente conectada ao SIN: o que isso muda para a gente?

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A notícia de que a Aneel determinou a conexão efetiva de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN) a partir de 1º de janeiro de 2026 está gerando bastante conversa por aqui. Não é todo dia que um estado que ficou isolado da rede elétrica nacional por décadas começa a receber a infraestrutura necessária para se integrar ao resto do país. Vou contar como tudo aconteceu, o que isso significa na prática para quem mora em Boa Vista ou nas cidades do interior, e ainda analisar alguns prós e contras dessa mudança.

Um pouco de história – por que Roraima ficou isolada?

Durante mais de 18 anos a energia de Roraima foi fornecida pela Venezuela. Quando o fornecimento parou em março de 2019, o estado teve que se virar com o que tinha: um parque térmico formado por 17 usinas termelétricas (UTEs) e uma pequena central hidrelétrica (PCH). Juntas, essas instalações geram cerca de 200 MW por dia, atendendo quase 176 mil consumidores. O problema é que esse modelo depende de combustíveis fósseis, tem custos altos e, principalmente, deixa o estado vulnerável a crises externas.

O que mudou?

A decisão da Aneel traz quatro pontos principais:

  • Interligação ao SIN a partir de 2026: a partir de 1º de janeiro de 2026, Roraima receberá as linhas de transmissão e distribuição necessárias para estar plenamente conectado ao restante da rede elétrica brasileira.
  • Implantação do Sistema de Medição para Faturamento (SFM): os agentes geradores têm até 20 de junho de 2026 para colocar o SFM em operação, o que vai garantir que a medição de energia seja padronizada e transparente.
  • Adesão à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE): todos os ativos precisam estar cadastrados e modelados até a mesma data, permitindo que a energia gerada em Roraima seja negociada no mercado nacional.
  • Separação dos ativos da Roraima Energia: até 1º de julho de 2027 a empresa deve concluir a divisão de seus ativos, facilitando a gestão e a integração ao SIN.

Como funciona o Linhão do Tucuruí?

A peça central desse processo é a Linha de Transmissão Manaus – Boa Vista, conhecida como Linhão do Tucuruí. A obra começou em 2022, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a ordem de serviço que destravou o projeto que estava parado há anos. São 122 km de torres que passam, em parte, pelo território indígena dos Waimiri‑Atroari, que aceitaram a proposta de compensação do governo federal.

Durante a construção, foram gerados cerca de 3 mil empregos diretos e indiretos – um número significativo para a região, que tem escassez de oportunidades. Quando a linha estiver concluída, a energia produzida nas usinas de Manaus e, futuramente, em outras partes do Norte, poderá ser enviada para Boa Vista e distribuída pelos municípios roraimenses.

O que isso traz para o dia a dia dos roraimenses?

  • Redução de custos: a energia importada da rede nacional costuma ser mais barata que a produzida por usinas termelétricas, que dependem de diesel ou gás. Isso pode refletir em contas de luz mais baixas para residências e empresas.
  • Maior confiabilidade: ao fazer parte do SIN, Roraima terá acesso a um reservatório maior de energia. Se houver falta de geração local, o sistema nacional pode suprir a demanda, diminuindo riscos de apagões.
  • Incentivo a novos investimentos: com a integração, investidores veem mais segurança para montar projetos de energia renovável – solar, eólica ou até pequenas hidrelétricas – já que a energia gerada pode ser vendida no mercado nacional.
  • Impacto ambiental positivo: menos dependência de termelétricas significa menos queima de combustíveis fósseis e, consequentemente, menos emissões de CO₂.

Desafios e cuidados a observar

Mesmo com tantos benefícios, a transição não será isenta de obstáculos:

  • Prazo apertado: a Aneel estabeleceu datas rígidas (junho de 2026 para o SFM, julho de 2027 para a separação dos ativos). Cumprir esses prazos exige coordenação entre governo federal, estadual, empresas de energia e comunidades locais.
  • Questões indígenas: a passagem da linha pelos territórios Waimiri‑Atroari ainda pode gerar discussões sobre compensação, preservação ambiental e respeito cultural. O diálogo contínuo será essencial.
  • Capacitação técnica: operadores locais precisarão de treinamento para lidar com o novo sistema de medição e com a participação na CCEE. Investir em formação é crucial para que a integração seja eficaz.
  • Tarifas de transmissão: embora a energia possa ficar mais barata, os custos de uso da nova linha de transmissão serão repassados nas tarifas. É importante que a regulação garanta que esses custos não sejam excessivos.

O que eu, como consumidor, posso fazer?

A mudança ainda está a alguns anos de distância, mas já dá para começar a se preparar:

  • Fique de olho nas notícias da Aneel e da Roraima Energia – elas vão divulgar detalhes sobre como será feita a migração dos contratos e o que mudar nas faturas.
  • Considere adotar práticas de economia de energia em casa: lâmpadas LED, eletrodomésticos mais eficientes e o uso consciente do ar‑condicionado podem reduzir ainda mais a conta, independentemente da fonte da energia.
  • Se você tem um negócio, avalie a possibilidade de investir em geração própria (painéis solares, por exemplo). Com a energia mais barata e a rede nacional ao alcance, a viabilidade desses projetos aumenta.
  • Participar de consultas públicas: quando o governo abre processos de consulta sobre a linha de transmissão ou sobre a regulação tarifária, a sua opinião pode influenciar decisões importantes.

Olhar para o futuro

A integração de Roraima ao SIN pode ser vista como um marco simbólico – o último estado brasileiro a ficar fora da rede nacional agora será incluído. Isso tem um peso político e simbólico forte, mostrando que o país está avançando na universalização da energia.

Mas, mais do que isso, a mudança tem potencial de transformar a economia local. Energia mais barata e confiável pode estimular o crescimento de indústrias, melhorar a qualidade dos serviços de saúde e educação (que dependem de energia estável) e até atrair turismo ao oferecer infraestrutura moderna.

Se tudo correr bem, nos próximos anos poderemos ver Roraima desenvolvendo projetos de energia solar em grande escala, aproveitando seu clima ensolarado. A combinação de energia renovável local com a interligação ao SIN pode criar um modelo de sustentabilidade que sirva de exemplo para outras regiões remotas.

Em resumo, a decisão da Aneel representa uma oportunidade real de melhorar a qualidade de vida dos roraimenses, reduzir custos e abrir portas para novos investimentos. Ainda há desafios a superar, mas a perspectiva é animadora. Vamos acompanhar de perto como essa história se desenrola nos próximos anos – e, quem sabe, celebrar junto quando a primeira conta de luz mais barata chegar ao nosso correio.

*(Este texto tem cerca de 970 palavras.)