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Brasil bate recorde de exportação de soja e amendoim para a China: o que isso muda no nosso dia a dia

Brasil bate recorde de exportação de soja e amendoim para a China: o que isso muda no nosso dia a dia

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Se você acompanha as notícias de agronegócio, provavelmente já viu a manchete: o Brasil bateu recorde de exportação de soja e amendoim para a China em 2025. Mas, para quem não está tão ligado ao mercado internacional, o que isso realmente significa? Eu vou contar tudo de forma simples, explicando por que esse número tão alto tem impacto direto no nosso bolso, nos preços dos alimentos e até nas oportunidades de trabalho no campo.

Recorde histórico de soja

Entre janeiro e novembro de 2025, o Brasil enviou 80,9 milhões de toneladas de soja para a China. Em 2023, o recorde anterior era de 75,5 milhões de toneladas, então estamos falando de um salto de mais de 7% em apenas dois anos. A Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) indica que, se a tendência continuar, poderemos fechar o ano com cerca de 105 milhões de toneladas exportadas, sendo 80% desse volume destinado ao gigante asiático.

Amendoim: o surpreendente salto

O amendoim tem sido a verdadeira história de crescimento explosivo. De acordo com a Abex‑BR, de janeiro a novembro de 2025 foram exportadas 63 mil toneladas para a China – um aumento de mais de 2.600% em relação aos dois anos anteriores somados. Para colocar em perspectiva, entre setembro de 2022 (quando a China começou a comprar amendoim brasileiro) e dezembro de 2024, apenas 2.316 toneladas foram enviadas. Agora, o volume já ultrapassa 27 vezes esse número.

Por que a China está comprando tanto?

A resposta principal está na guerra comercial entre Estados Unidos e China. Tradicionalmente, a China importava cerca de 300 mil toneladas anuais de amendoim com casca dos EUA, usado principalmente para produção de óleo. Quando as tarifas foram elevadas, a China buscou alternativas mais baratas e seguras, e o Brasil entrou como fornecedor.

  • Preço competitivo: o custo de produção brasileiro, aliado a uma moeda mais fraca, tornou o amendoim brasileiro muito atraente.
  • Qualidade: o amendoim brasileiro tem boa qualidade de óleo, atendendo às exigências chinesas.
  • Diversificação: a China quer reduzir a dependência dos EUA, e o Brasil oferece essa diversificação.

Impactos para os agricultores brasileiros

Esses números não são apenas estatísticas; eles se traduzem em oportunidades reais para quem trabalha no campo. Vamos dividir em três áreas principais:

  1. Renda dos produtores: o aumento da demanda eleva o preço interno da soja e do amendoim, permitindo que pequenos e médios agricultores tenham margens melhores.
  2. Investimento em tecnologia: com a perspectiva de exportar mais, muitos produtores estão adotando sementes melhoradas, sistemas de irrigação de precisão e práticas de manejo sustentável.
  3. Geração de empregos: o aumento da produção exige mais mão‑de‑obra, desde a colheita até o transporte e a logística nos portos.

Um exemplo prático: em Rio Verde, no estado de Goiás, onde a produção de soja tem sido tradicional, os agricultores têm relatado que os contratos com compradores chineses já garantem preços 10% acima da média dos últimos cinco anos.

O que vem pela frente: sorgo e mais

Se a soja e o amendoim já estão em alta, o próximo grande candidato é o sorgo. Em 2026, espera‑se o início das exportações desse cereal para a China, principalmente como ração animal e matéria‑prima para a indústria de bebidas. A razão? A China reduziu em 90% a compra de sorgo dos Estados Unidos, abrindo espaço para o Brasil preencher esse vazio.

O engenheiro agrônomo da Anec, Wallas Ferreira, destaca que “o protocolo entre os dois países foi assinado, falta a safra de 2025 ser aprovada”. Isso indica que, nos próximos anos, o sorgo pode se tornar mais um pilar das exportações brasileiras para a Ásia.

Como isso afeta você?

Talvez você pense: “Isso é coisa de quem trabalha com agricultura, não tem nada a ver comigo”. Na verdade, tem. Veja alguns efeitos que chegam até a mesa do consumidor:

  • Preço dos alimentos: a soja é base para óleo, farelo e até para a produção de carne (por ser ração). Quando o preço internacional sobe, pode haver reflexos nos preços de óleo de soja, carne bovina e frango.
  • Produtos industrializados: muitos snacks, margarinas e produtos de confeitaria usam óleo de soja. Um aumento no custo de produção pode ser repassado ao consumidor final.
  • Oportunidades de emprego: o crescimento da cadeia logística (caminhoneiros, operadores portuários, trabalhadores de armazéns) pode gerar vagas em regiões produtoras.

Além disso, a diversificação das exportações ajuda a reduzir a vulnerabilidade do país a crises externas. Se a China continuar comprando nossos grãos, o Brasil tem um “porto‑seguro” que protege a economia agrícola de choques tarifários ou políticos.

Desafios e cuidados

Claro que nem tudo são flores. Alguns pontos críticos precisam de atenção:

  • Dependência de um único mercado: colocar 80% das exportações de soja na China pode ser arriscado caso haja mudanças nas políticas chinesas.
  • Impacto ambiental: o aumento da produção pode pressionar áreas de vegetação nativa, exigindo práticas de sustentabilidade mais rigorosas.
  • Logística: os portos brasileiros ainda enfrentam gargalos. Se a infraestrutura não melhorar, os custos de transporte podem subir, reduzindo a competitividade.

Portanto, o governo, o setor privado e os produtores precisam trabalhar juntos para garantir que o crescimento seja sustentável a longo prazo.

Conclusão

O recorde de exportação de soja e amendoim para a China não é apenas um número de 80 milhões de toneladas ou 63 mil toneladas. É um sinal de que o Brasil está se consolidando como fornecedor estratégico em um cenário de tensões comerciais globais. Para nós, isso pode significar preços diferentes na prateleira, mais oportunidades de trabalho no campo e a necessidade de acompanhar de perto as políticas de comércio exterior.

Se você tem curiosidade, vale a pena observar as próximas colheitas, os acordos de sorgo e, claro, as discussões sobre sustentabilidade. Afinal, o futuro do agronegócio brasileiro está cada vez mais conectado ao mundo, e cada decisão aqui tem reflexos lá fora – e vice‑versa.