Um marco inesperado na B3
Na última sexta‑feira (5), o Itaú Unibanco bateu a Petrobras e se tornou a empresa mais valiosa da bolsa brasileira. O número não é pequeno: o banco fechou o dia com um valor de mercado de R$ 443,1 bilhões, deixando a estatal alguns R$ 10,1 bilhões atrás. Para quem acompanha o mercado, a troca de posição pode parecer só mais um número, mas, na prática, traz reflexos bem concretos no dia a dia de investidores, consumidores e até de quem não tem nada a ver com bolsa.
Por que o Itaú conseguiu ultrapassar a gigante do petróleo?
Nos últimos meses, as duas companhias seguiram caminhos bem diferentes. Enquanto a Petrobras perdeu cerca de R$ 57,4 bilhões em valor de mercado, impactada pela queda dos preços do barril e por incertezas políticas, o Itaú ganhou impressionantes R$ 161,9 bilhões. A diferença de comportamento tem explicação simples: o banco tem fontes de receita mais estáveis – crédito, tarifas, serviços de pagamento – que não dependem de commodities. Já a Petrobras vê seu lucro diretamente atrelado ao preço do petróleo, que hoje está em baixa.
O que isso revela sobre o apetite dos investidores
Em períodos de volatilidade, o mercado costuma buscar segurança. Ativos que geram caixa de forma previsível, como bancos, tendem a ser mais valorizados. O economista Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta, explicou que “em momentos de incerteza, o mercado favorece empresas com geração de caixa estável”. Essa lógica ajuda a entender por que o Itaú tem atraído mais capital, enquanto a Petrobras sofre com a instabilidade dos preços internacionais do petróleo e com questões regulatórias internas.
O Itaú no cenário global e latino‑americano
Não é só um fato nacional. Globalmente, o Itaú aparece como a 245ª empresa mais valiosa do mundo, atrás de bancos como o Scotiabank (Canadá) e a Moody’s (EUA). Dentro da América Latina, ele se consolida como o banco mais valioso, superando concorrentes como o Nubank, que por um breve período chegou a liderar o ranking brasileiro antes de recuar.
Fintechs versus bancos tradicionais: quem leva a melhor?
O caso do Nubank ilustra bem a batalha entre bancos digitais e instituições tradicionais. Em outubro, a fintech chegou a valer US$ 76,97 bilhões, ultrapassando temporariamente o Itaú e a Petrobras. No entanto, uma queda de mais de 15% nas ações do Nubank em um único dia, seguida por um lucro de US$ 378,8 milhões no primeiro trimestre de 2025, fez o banco recuar. Hoje, o Nubank ocupa o segundo lugar entre as maiores empresas brasileiras, ainda acima da Petrobras, mas ainda distante do líder Itaú.
Impactos práticos para quem investe
- Rebalanceamento de carteiras: investidores que antes mantinham grande parte dos recursos em ações de energia podem estar considerando mover parte para o setor financeiro, buscando menor volatilidade.
- Fundos de índice (ETFs): os ETFs que replicam o Ibovespa terão maior peso do Itaú e menor da Petrobras, o que pode mudar a performance desses fundos em relação ao índice.
- Risco de concentração: apesar da estabilidade aparente, concentrar tudo em bancos pode ser perigoso se houver mudanças regulatórias ou crises de crédito.
O que o consumidor pode esperar
Para quem usa serviços bancários do Itaú, a valorização pode trazer benefícios indiretos. Bancos mais valiosos tendem a ter mais recursos para investir em tecnologia, melhorar atendimento e ampliar linhas de crédito. Por outro lado, a queda da Petrobras pode refletir em preços mais altos de combustíveis, já que a empresa tem influência sobre a política de preços da Petrobras, que ainda controla grande parte da distribuição de gasolina e diesel no país.
Perspectivas para o futuro
Se a tendência de estabilidade dos bancos continuar, é provável que o Itaú mantenha a liderança por um bom tempo. No entanto, fatores como a digitalização acelerada, a entrada de novas fintechs e possíveis reformas bancárias podem mudar o cenário. No lado da energia, a Petrobras ainda tem um papel estratégico: caso o preço do petróleo volte a subir ou a empresa consiga melhorar sua governança, pode recuperar parte do valor perdido.
Conclusão
O fato de o Itaú ultrapassar a Petrobras no ranking de valor de mercado não é apenas um número para os analistas. É um termômetro da confiança dos investidores em setores menos dependentes de commodities e mais focados em geração de caixa constante. Para quem investe, acompanha o mercado ou simplesmente paga contas bancárias, entender esse movimento ajuda a tomar decisões mais informadas. E, claro, ficar de olho nas próximas divulgações de resultados – tanto do banco quanto da estatal – é essencial para quem quer acompanhar de perto a saúde da economia brasileira.




